Bolsonaro repete caminho de Collor ao escolher Ciro Nogueira como ministro, diz Roberto Jefferson

Presidente do PTB afirma que 'não confiaria' em político que apoiou o PT nas últimas eleições

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Foto do author Lauriberto Pompeu
Por Lauriberto Pompeu e BRASÍLIA

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, reprovou a escolha do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) para a Casa Civil. Aliado de Jair Bolsonaro, o ex-deputado insinuou que o presidente pode ser traído pelo novo ministro e disse que “não confiaria” em um político que apoiou o PT nas últimas eleições. Líder do Centrão, Nogueira já chegou a definir Bolsonaro como “fascista” em um passado não muito distante e, em 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava preso, disse que ficaria com ele “até o fim”.

"Tem o general de confiança (Luiz Eduardo Ramos). Vai botar um civil? E um civil que o tempo todo, nos últimos 20 anos, apoiou o PT lá no Piauí", afirmou Jefferson. "Serviu demais do lado de lá, não gostaria de ter ao meu lado."

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

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Ao lembrar a época em que foi líder da tropa de choque do então presidente Fernando Collor na Câmara, Jefferson disse haver semelhanças entre aquele período e o atual. O presidente do PTB comparou a escolha de Nogueira para a Casa Civil com o que viveu Collor meses antes de renunciar para não sofrer impeachment, em 1992, quando, logo no início daquele ano, nomeou Jorge Bornhausen, do PFL, para a recém-criada Secretaria de Governo.

"Quando o presidente (Collor) abriu os olhos, toda a liderança junto ao Congresso Nacional era do Bornhausen. Não era dele”, afirmou o ex-deputado. Delator do mensalão no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jefferson teve o mandato cassado em 2005.

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Agora, ele quer ver Bolsonaro concorrendo ao segundo mandato pelo PTB. Se não for possível, deseja filiar o candidato a vice-presidente. Como exemplo de vice, Jefferson citou o ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Na semana passada, o Estadão revelou que o general ameaçou a realização das eleições de 2022, caso o Congresso não aprove o voto impresso. Confira a seguir os principais trechos da entrevista. 

Como o senhor vê a entrada de Ciro Nogueira no governo?

Eu não tiraria o general Ramos (da Casa Civil). Ainda mais um homem de força especial. Temo que o Ciro possa representar para o presidente o que foi o Bornhausen para o Collor. Bornhausen não foi um homem correto para o Collor e eu temo que o Ciro possa não ser correto com o presidente Bolsonaro. Eu não mexeria. Tem o general de confiança. Vai botar um civil? E um civil que o tempo todo, nos últimos 20 anos, apoiou o PT lá no Piauí. Com todo respeito que tenho ao Ciro, eu não confiaria nele.

Por quê?

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Serviu demais do lado de lá, não gostaria de ter ao meu lado. Lembro ao presidente Bolsonaro do episódio do Bornhausen com o Collor. Quando o presidente (Collor) abriu os olhos, toda a liderança junto ao Congresso Nacional era do Bornhausen. Não era dele.

Há chances de o presidente Bolsonaro se filiar ao PTB?

O PTB está aberto para a vinda dele. Se ele quiser vir, será uma honra. Ele não me deu nenhuma palavra, não falou nada. Não sei qual caminho vai seguir. Mesmo que ele não venha para o PTB, terá nosso apoio. Isso nós já decidimos: vamos apoiá-lo no partido que ele estiver. É o nosso candidato à reeleição.

Até 2018 o PTB teve muita influência no antigo Ministério do Trabalho. O partido poderia ter hoje mais espaço no governo?

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O PTB não tem espaço nenhum e nem eu estou pedindo. Estou apostando no principal, não no acessório. Vamos esperar o passo do presidente. Prefiro ter o presidente a um ministro qualquer. Queria que o presidente viesse para o PTB.

Quem seria o melhor nome para vice de Bolsonaro, em 2022?

Eu torço para que ele faça o general Braga (Netto) o vice. Ele precisa de um general na vice. É um homem firme, correto, bom caráter, amigo dele. Os políticos não têm a lealdade dos militares. O Temer conspirou contra a Dilma; o Itamar conspirou contra o Collor. Vai botar um político civil ali? Primeiro, é mal visto. Todo político civil é mal visto pela opinião pública. A instituição mais respeitada no Brasil pelo povo é a das Forças Armadas. Deu certo já na primeira eleição, o capitão e o general.

Mas o presidente vive reclamando do vice Hamilton Mourão. Disse até que ele “atrapalha um pouco”, mas tem de aturá-lo, como um cunhado que não se pode mandar embora.

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Pode até discutir, mas o Mourão não conspira contra ele. É diferente dos vices civis que conheci, tirando o Marco Maciel, que em momento algum teve como objetivo desestabilizar o Fernando Henrique. Foi um vice correto, humilde, desempenhando o papel dele. Os outros eu vi conspirando contra o presidente. O general Mourão não conspira contra o governo. Pelo contrário, ele dá até entrevistas apoiando o presidente.

Então, o sr. pretende filiar o ministro Braga Netto ao PTB?

Se o presidente resolver ir para outro partido e botar na vice o general Braga Netto, será uma honra para nós. Se o presidente disser “Ele vai para o PTB para a gente fazer a coligação", vai ser um orgulho para mim

O presidente erra ao não vetar integralmente o aumento do fundo eleitoral? Mesmo dizendo que vai reduzir esse reajuste, o fundo vai dobrar, passando deR$ 2 bilhões para R$ 4 bilhões.

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Se ele vai reajustar, vai reduzir. Ficou um excesso, R$ 6 bilhões. O presidente deve encontrar um valor ajustado que fique bem para o eleitorado dele para não cometer nenhuma injustiça contra o povo brasileiro. E R$ 6 bilhões é uma violência, um acinte ao povo.

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