EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Bastidor: Voto de Zanin sobre maconha pressiona Lula a mudar preferência para STF

Sobe pressão para presidente escolher ministro de perfil progressista; Jorge Messias continua bem posicionado e considerado o preferido de Lula

PUBLICIDADE

Foto do author Roseann Kennedy
Foto do author Eduardo Gayer
Por Roseann Kennedy e Eduardo Gayer
Atualização:

Os votos conservadores proferidos pelo ministro Cristiano Zanin no Supremo Tribunal Federal (STF), em seu mês de estreia, impactaram diretamente na pressão que o presidente Lula sofre em relação à escolha para a próxima vaga na Corte. O ex-advogado pessoal do presidente foi o único a se posicionar contra a descriminalização das drogas para consumo pessoal, e rejeitou equiparar homofobia ao crime de injúria racial. Agora, representantes da esquerda dizem que “Lula não pode cometer o mesmo erro” e precisa escolher um ministro de viés progressista.

A mensagem é lida como um manifesto contrário à eventual indicação do ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias. Ele é evangélico e destoa da demanda esquerdista por uma mulher comprometida com as causas progressistas. Interlocutores de Lula ouvidos sob reserva pela Coluna, no entanto, acreditam que nada mudou até o momento, e o presidente mantém sua preferência por Messias.

O presidente Lula ao empossar Jorge Messias como ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, em 1º de janeiro. Hoje, ministro é seu favorito para o STF.  Foto: Ricardo Stuckert/PR

PUBLICIDADE

Messias é garantista, da confiança de Lula e de petistas com poder de influência junto ao presidente. Além disso, a indicação, observam interlocutores do Palácio do Planalto, seria uma forma de redimir os danos à imagem do ministro com o episódio do “Bessias”, como ele ficou conhecido nas redes sociais.

O episódio se deu em 2016, após a Operação Lava Jato vazar um um telefonema em que a então presidente Dilma Rousseff disse a Lula que o “Bessias” - ela estava resfriada e com a voz anasalada - levaria a ele o documento de posse como ministro da Casa Civil. À época, o ministro era subchefe para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência.

Messias tem sido leal a Lula e aceitou representá-lo na Marcha para Jesus deste ano em São Paulo, mesmo sabendo que seria alvo de vaias do público presente, como aconteceu.

Publicidade

“As credenciais de Jorge Messias no PT o blindam. Ele é a única prata da casa petista nessa disputa pelo STF e tem apoios fundamentais, como Jaques Wagner [líder do governo no Senado] e Gleisi Hoffmann [presidente do PT]. E Dilma o tem como um filho”, comentou um interlocutor da ala mais à esquerda petista.

Postura de Zanin no STF assusta aliados do presidente

Os votos de Zanin causaram arrepios na esquerda pelo temor de ser o próprio Lula o responsável por formar um STF conservador. Apesar de integrantes da esquerda, especialmente no PT, manifestarem surpresa com a postura de Zanin, o ministro não escondeu o viés mais conservador antes da posse. Como revelou a Coluna, quando estava em campanha para a vaga, Zanin demonstrou sua clara preocupação em se descolar da pauta progressista do PT.

“Sou católico, casado com a mesma esposa, pai de três filhos, e de família tradicional”, disse o ex-advogado de Lula mais de uma vez aos integrantes da bancada evangélica, grupo para o qual também fez questão de ressaltar que não embarcaria em pressões da extrema esquerda nas pautas de costumes.

Integrantes do PT chegaram a minimizar os sinais de Zanin. Consideravam que o mais importante em relação à cadeira do STF era ter a certeza de que o ministro seria alguém garantista e contrário à Operação Lava Jato para manter uma maioria com esse viés.

Se a pressão vencer Lula, advogada é vista como saída possível para STF

Se a pressão sobre Lula crescer a ponto de tirar assento de Messias, hipótese hoje vista como improvável, o olhar se volta à advogada Dora Cavalcanti, vista nas fileiras petistas como um bom nome - e progressista - para o Supremo. Ela trabalhou com Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça que era um conselheiro de Lula e seu amigo pessoal.

Publicidade

No Congresso, porém, integrantes do Centrão veem mais espaço para emplacar um nome mais alinhado ao Legislativo nesta próxima vaga. Eles consideram que Lula já “gastou” sua indicação pessoal com Zanin, e agora, terá que contemplá-los. Um nome que cresce na bolsa de apostas é o do presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.