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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Governo Lula se assusta com ‘lavada’ de Milei, mas ainda nega onda à direita; veja bastidores

Planalto não esperava diferença de votos tão grande para o candidato vencedor e atribui desempenho à rejeição do atual presidente argentino, Alberto Fernández

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Por Eduardo Gayer
Atualização:

A vitória expressiva do agora presidente eleito da Argentina, Javier Milei, causou espanto em interlocutores do governo brasileiro. Até o fechamento das urnas, o Palácio do Planalto via a eleição no país vizinho como indefinida, e esperava um resultado acirrado, com vantagem estreita para o vencedor — assim como foi com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Não foi, porém, o que aconteceu: em um desempenho histórica, com 90% das urnas apuradas, Milei já tinha 55,95% dos votos, e o candidato governista Sergio Massa, com apoio do governo brasileiro, 44,04%. É a maior vantagem de um candidato a presidente nas eleições recentes na Argentina.

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Por volta das 19h30, integrantes do governo brasileiro já davam como certa nos bastidores a vitória de Javier Milei. Às 20h40, Lula foi ao X, antigo Twitter, e reconheceu o resultado das eleições argentinas, embora sem citar nominalmente o vencedor. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o presidente é “civilizado” e “respeita as instituições e autodeterminação dos povos”.

Apesar do resultado amargo para o governo Lula, que se engajou na campanha de Massa, auxiliares do petista evitam falar — ao menos neste momento — em guinada à direita na América do Sul. De qualquer forma, o clima já é de cautela; de tentar evitar que a onda ultraliberal que engoliu o peronismo à esquerda no país vizinho transborde para o Brasil, na disputa de 2024 ou de 2026.

O presidente Lula, que neste domingo viu seu aliado Sergio Massa ser derrotado na disputa presidencial argentina. Foto: FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

“Não acho que seja sinal de uma ‘direitização’ regional, não. Tem os componentes da Argentina, da crise. E tem uma outra questão: tanto os governos de direita como de esquerda na América Latina, nesses últimos tempos, são curtos. Há uma alternância muito grande entre direita e esquerda”, avaliou à Coluna o senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do grupo eleitoral do PT para as eleições de 2024, e que está em Buenos Aires como observador do Parlamento do Mercosul (Parlasul).

Para a equipe palaciana que acompanhou a disputa argentina, a expectativa agora se volta para a eleição nos Estados Unidos: um eventual retorno do ex-presidente Donald Trump ao comando da Casa Branca é o que pode selar uma nova tendência à direita.

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Na avaliação do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), “fica a lição e o alerta para o Brasil”. “É preciso estar atento e forte”, afirmou em referência à música “Divino, maravilhoso”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

O diagnóstico no entorno de Lula para a vitória de Milei sobre Massa é a rejeição ao governo Alberto Fernández, de quem o peronista derrotado era ministro da Economia. O avanço da inflação para além dos 138%, a falta de combustível ao longo da eleição e a desvalorização do peso são alguns dos elementos citados para o revés do candidato governista. “O segundo turno foi uma campanha de rejeição”, resume um observador próximo ao presidente brasileiro. No primeiro turno, Massa ficou à frente de Milei.

Quem comemorou a vitória de Milei foi o bolsonarismo, que apoiou o candidato vencedor. O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou após a divulgação do resultado que “a esperança volta a brilhar na América do Sul”. Seu principal assessor, o advogado Fábio Wajngarten, resumiu o clima entre bolsonaristas com uma palavra: “Voltaremos”.

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