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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Pacote lançado por Dino para combater crime organizado é visto como ‘genérico’ e feito às pressas

Especialistas e integrantes da Comissão de Segurança Pública da Câmara dizem que o fato de plano de metas estar previsto para daqui a 60 dias sugere que enfrentamento ao crime organizado estava fora do radar

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Por Roseann Kennedy e Augusto Tenório
Atualização:

O pacote de medidas lançado nesta segunda-feira, 2, pelo Ministério da Justiça para combater o crime organizado no País foi considerado por especialistas da área e integrantes da Comissão de Segurança Pública da Câmara como genérico e pouco resolutivo diante do desafio a ser enfrentado. Nos bastidores, líderes do PT fizeram coro às críticas, sob o argumento de que não foram chamados para a discussão do programa.

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Não foram poucos os que disseram que o plano parece ter sido feito às pressas, no momento em que o governo Lula sofre intenso desgaste por causa do crescimento da violência no País.

Enquanto isso, o ministro Flávio Dino vai se encontrar nesta segunda, às 18 horas, com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para discutir o programa de enfrentamento às organizações criminosas. Dino é até agora o nome favorito para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF), mas desconversa sobre o assunto.

Até mesmo na avaliação de aliados do governo, no entanto, o ministro demorou para apresentar uma resposta à sociedade, envolvendo-se em bate-bocas intermináveis com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Flávio Dino diz que ataques "injustos" mobilizam torcidas, mas não resolvem problemas Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

Como mostrou a Coluna do Estadão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado por auxiliares de que o governo perdeu o discurso da segurança pública e precisava agir rápido para conter o dano de imagem. Somente no mês passado, operações policiais na Bahia – Estado administrado pelo PT – deixaram mais de 70 mortos. O aumento do número de armas apreendidas na Bahia e o domínio de facções criminosas no Rio acenderam o sinal vermelho no Planalto.

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“A impressão é a de que fizeram esse anúncio sob pressão”, afirmou Rafael Alcadipani, professor titular da FGV e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “O fato de dizerem que será apresentado um plano de metas em 60 dias sugere que é algo que não estava sendo pensado”, completou.

Para o professor, não basta falar em trabalho conjunto quando não há efetivos suficientes e existe dificuldade até mesmo de diálogo entre a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Receita Federal. “Esses setores precisam de um plano de reposição de efetivo para combater o crime organizado nas fronteiras”, insistiu Alcadipani.

Na prática, a segurança pública virou cabo de guerra entre os dois polos ideológicos do País e seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitam a situação para atacar o governo Lula.

“Sinceramente, não acredito que tenham capacidade técnica suficiente pra criarem um projeto de segurança pública capaz de conter a violência crescente no País”, disse à Coluna do Estadão o deputado Sanderson (PL-RS), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara.

Sanderson observou, no entanto, que a bancada da segurança sempre esteve disposta a dialogar com Flávio Dino. “Mesmo com nove meses de atraso, vamos ver o que de positivo ainda será apresentado pelo Ministério da Justiça”, disse.

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Dino afirmou, por sua vez, que esse debate exige responsabilidade, respeito às leis e diálogo federativo. Irritado com as críticas, o ministro escreveu DIÁLOGO FEDERATIVO em caixa alta em post publicado no X (antigo Twitter). Ele tem destacado que 90% da segurança pública no Brasil é de responsabilidade dos Estados.

“Creio que injustos ataques políticos e extremismos mobilizam ‘torcidas’, mas não resolvem problemas”, argumentou o ministro, fazendo questão de deixar a mensagem, em seis tópicos, como post fixado.

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