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Opinião|Debate Band: Com Bolsonaro e Lula fora de foco, Simone Tebet e Soraya Thronicke roubaram a cena

O que fica da participação do presidente é o ataque grosseiro, absurdo, à adversária Tebet e à jornalista Vera Magalhães

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Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro apareceu muito no primeiro debate entre presidenciáveis, mas agressivo, descontrolado, inconsequente. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas, não aconteceu, passou praticamente em branco. Quem chegasse de Marte teria a sensação de que a eleição está polarizada entre duas mulheres, Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil), que atraíram bem os holofotes.

Simone Tebet e Soraya Thronicke atraíram os holofotes no debate Band. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Principal alvo de todos os demais, Bolsonaro referia-se a Lula como “ex-presidiário”, enalteceu a “responsabilidade fiscal”, que nunca foi uma prioridade para ele, e jogou luzes em sua mulher, Michele, isca para mulheres e evangélicos. O que fica da sua participação, porém, é o ataque grosseiro, absurdo, à adversária Tebet e à jornalista Vera Magalhães. Para um candidato que lidera os índices de rejeição e sofre tanta resistência do eleitorado feminino, foi um destempero que vai lhe custar caro.

Incisiva, clara, Tebet usou praticamente todas as suas participações, desde a primeira até a última, para criticar e atacar Bolsonaro e seu governo. E foram ela e Thronicke – ambas senadoras de Mato Grosso do Sul e ativas na CPI da Covid — as que assumiram uma defesa contundente da jornalista e ratificaram duas marcas do presidente, a misoginia e os ataques às mulheres.

Num dos principais momentos, Tebet tascou: “candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?” E Thronicke cresceu no debate ao provocar “quem é tchutchuca com os homens e tigrão com as mulheres”, avisar que pode virar “uma onça” e dramatizar: “Vou pedir para reforçar minha segurança”. A força dessa manifestação é ainda maior porque ela é a cara e a voz dos bolsonaristas arrependidos.

Lula, porém, interpretou os ataques de Tebet e Thronicke a Bolsonaro como apoio indireto a ele e enganou-se redondamente. Quando ele tentou uma dobradinha, sobretudo com Tebet, deu um tiro n’água. Ela reagiu cobrando a corrupção nos governos petistas e Thronicke foi na mesma linha. A corrupção foi, aliás, uma palavra constante nas perguntas a Lula.

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Assim como Luiz Felipe d’Avila foi exceção ao evitar ataques aos demais,

Ciro Gomes (PDT) foi o único a lançar propostas, focar no futuro, mas pesou a mão ao atacar Lula. Quando o petista tentou uma abordagem simpática, acenando com uma aliança com o PDT e cobrando que Ciro “não viajasse a Paris desta vez”, Ciro subiu o tom: “Lula se deixou corromper mesmo”, “Bolsonaro não veio de Marte, mas da devastadora crise econômica que Lula e o PT deixaram”. E Ciro também não amenizou para Bolsonaro, “uma pessoas sem coração, que corrompeu todas as suas mulheres e os filhos”.

Fora do ar, dois momentos merecem, mais do que atenção, reflexão. Um foi a troca de desaforos entre o bolsonarista Ricardo Salles e o neolulista Janones, que tiveram de ser contidos para não trocarem também sopapos nos bastidores. O outro foi logo na chegada de Bolsonaro, quando ele disse que “não apertava a mão de ladrão” e automaticamente remeteu à frase do general e seu ministro Augusto Heleno na campanha de 2018: “Se gritar pega Centrão (no lugar de ladrão), não fica um, meu irmão”. O Centrão não está apenas no governo, mas no coração do governo Bolsonaro.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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