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Contratos do Sesi e Senai bancam aluguel e até eletrodoméstico de diretor, aponta relatório do TCU

Documento obtido pelo ‘Estadão’ aponta presidente do Conselho Regional do Senai como possível beneficiário de pagamentos irregulares; Jamal Bittar disse que não iria se pronunciar porque processo é sigiloso e manifestações devem ser feitas nos autos

Foto do author Tácio Lorran
Foto do author Weslley Galzo
Por Tácio Lorran e Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - Um relatório produzido pela Secretaria Geral de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou indícios de fraude em contratos do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no Distrito Federal com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL/DF). O documento obtido pelo Estadão aponta que até despesas de aluguel e compra de eletrodoméstico foram feitas para beneficiar um dos dirigentes do Sesi e do Senai em Brasília.

O caso é relatado pelo ministro Benjamin Zymler e estava na pauta de julgamento no plenário da Corte de Contas nesta quarta-feira, 8, mas teve a votação adiada por falta de quórum. Os indícios reunidos no relatório foram obtidos a partir de uma auditoria realizada em 2022 para apurar denúncia recebida em 2018. Os auditores se debruçaram sobre as relações suspeitas dos Departamentos Regionais do Sesi e do Senai no DF com o IEL/DF, que atua na área de capacitação empresarial no ramo da indústria.

A sede do Tribunal de Contas da União, em Brasília. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Uma das principais suspeita apurada pelos auditores é de que Jamal Bittar, que acumula os cargos de diretor regional do Sesi, presidente do Conselho Regional do Senai e diretor regional do IEL/DF, tivesse utilizado recursos do instituto para pagar gastos pessoais, como aluguel. Também havia suspeitas de que ele tivesse fraudado e descumprido contratos de prestação de serviço do IEL/DF ao Sesi e Senai. As instituições são mantenedoras do instituto, o que motivou a auditoria do TCU.

Em nota, Bittar afirmou que não iria se manifestar. “Por determinação do Tribunal de Contas da União, esse processo corre em sigilo. Assim, em respeito ao TCU, a manifestação das entidades, a defesa e os esclarecimentos são feitos exclusivamente nos autos do processo. Reforço que causa estranheza o acesso de terceiros ao relatório, uma vez que o processo é classificado como sigiloso pela Corte de Contas”, afirmou à reportagem.

A auditoria identificou, por exemplo, que eletrodomésticos e móveis comprados pelo IEL foram entregues no apartamento de Bittar. O TCU chegou a solicitar informações ao instituto, mas não teve retorno. Além dos cargos nas instituições do Sistema S, Bittar ainda é presidente da Federação das Indústrias de Brasília.

Em manifestação enviada ao TCU, Bittar afirmou que “o IEL/DF alugou e mobilhou referido apartamento em favor do Presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (ele próprio) para servir-lhe de residência oficial e viabilizar o recebimento de autoridades do Distrito Federal e pessoas do setor produtivo -- inclusive aos finais de semana”.

“O imóvel, portanto, é destinado à residência oficial do Diretor Regional do IEL que também exerce outros cargos na estrutura de governança do Sistema Fibra, sendo, portanto, inseparáveis a figura do presidente da Fibra dos demais papeis que assume nas outras entidades. É importante registrar que o referido imóvel se reveste de significativa importância para reuniões e encontros com autoridades locais e até mesmo nacionais”, alegou Bittar.

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A auditoria do TCU, por sua vez, destacou que “as entidades não negam que o IEL/DF assume todos os custos referente à moradia do Sr. Jamal Bittar, o que é proibido pelo estatuto do instituto”. “Não se sabe atualmente se o IEL/DF continua realizando esses pagamentos irregulares de aluguel, contudo, ao que parece, esses pagamentos permanecem”, diz o documento.

A inspeção do TCU identificou cinco irregularidades nas operações realizadas entre as três instituições, como “não comprovação da realização dos serviços contratados pelo Sesi/DF e Senai/DF junto ao IEL de 2015 a 2018″. A auditoria também apontou “baixo percentual de execução dos planos de ação acordados entre” os três órgãos “com a não devolução dos recursos não executados pelo IEL/DF”.

“Verificou-se a ausência de nexo causal entre os recursos transferidos por Sesi/DF e Senai/DF ao IEL/DF, uma vez que parte desses recursos não foram utilizados nos serviços previstos no plano de ação e não foram devolvidos pelo instituto nos anos de 2018 e 2021, o que configura desvio de finalidade na aplicação dos recursos do Sesi/DF e do Senai/DF”, afirmaram os auditores do TCU.

Ainda de acordo com o TCU, Bittar operacionalizou o “adiantamento de repasses compulsórios à Fibra entre os anos de 2015 e 2018 sem realizar o acerto de contas no fim dos exercícios, gerando uma dívida” com o Sesi, que sofreu prejuízo. Os auditores também apontaram que Bittar e os demais dirigentes envolvidos no suposto esquema realizaram empréstimos e repactuaram dívidas do Sesi sem “autorização do Conselho Nacional da instituição”.

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Os auditores fizeram recomendações que agora devem ser analisadas pelos ministros do TCU. Os técnicos recomendaram, por exemplo, que seja feito um levantamento para ressarcir os prejuízos causados ao Sesi e Senai “mediante a cobrança dos valores devidos dos responsáveis pelas irregularidades”. A equipe também sugeriu que as instituições atestem estar cientes do “desvio de finalidade praticado pelo IEL/DF, ao não aplicar os recursos repassados pelas entidades nas atividades previstas no plano de ação”.

Outra recomendação é de que seja realizada uma audiência dos gestores do Sesi/DF, “em razão da falta de autorização do Conselho Nacional do Sesi para realização de empréstimo”. Os técnicos argumentam que, “ante a diversidade de irregularidades”, sejam autuados diferentes processos “com vistas a agilidade processual, sem prejuízo, dar andamento concomitante às determinações, ciência e audiências propostas”.

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