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Eleição tensa é incapaz de alterar rotinas na cidade mais bolsonarista

Nova Pádua (RS), com 2,5 mil moradores, deu 92,96% de seus votos ao presidente em 2018; sem polarização, tensão política passa longe

Por Altair Nobre

Enviado especial / Nova Pádua

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O vice-prefeito de Nova Pádua (RS), Inacio Sonda, tem neste domingo, 2, um compromisso especial. É dia de confraternizar com os demais descendentes do seu pai, na casa que era do patriarca, um líder político da emancipação da cidade, morto há cinco anos.

O ritual de todo domingo, seguido há quatro décadas e hoje compartilhado por 35 pessoas, só é adiado por um motivo de força maior. Nem uma das eleições mais tensas da história do Brasil é capaz de suspender o evento familiar. Tampouco ameaça a paz na cidade que no segundo turno de 2018 deu o maior porcentual de votos para Jair Bolsonaro no País: 92,96%. Sem clima de campanha, não há provocações. Muito menos violência.

Sonda prevê que no primeiro turno a votação na cidade seja dividida com outros adversários do ex-presidente Lula. Em um eventual segundo turno, na sua avaliação, o candidato do PL de novo chegaria perto de 100% dos votos válidos entre os 2,5 mil habitantes – o equivalente a metade dos moradores do icônico edifício Copan, em São Paulo.

“Ele está preservando a família e a religião”, sustenta, em uma pausa no jogo de cartas no Açougue e Minimercado Bunai, ponto de encontro local, ao se referir às prioridades de um município formado em sua maior parte por agricultores de origem italiana e fé católica, donos de pequenas propriedades.

Autodenominada paraíso italiano, Nova Pádua (RS) tem 2,5 mil habitantes Foto: Altair Nobre/Estadão

Em uma terra com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto para o padrão brasileiro (0,761, o que o coloca na 63.ª posição entre as 497 cidades gaúchas), a diversidade de cultivos garante clientes pelo País. Sonda é comerciante de hortifrúti e vende para fora do Estado cebola e outros itens. Uva é o principal produto, que se anuncia pela presença de parreirais e vinícolas.

Para Maximiliano Mioranza, sócio de uma vinícola de quatro irmãos, a decisão de votar pela reeleição do presidente é que “ele é sério e não rouba”. Sobre as acusações de corrupção trazidas na campanha, afirma que “ninguém provou nada contra Bolsonaro”. Mioranza o vê como um político autêntico. “Ele não mede muito o que fala. Fala na lata.”

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Para uma “cidade bolsonarista”, quem espera encontrar uma paisagem repleta de símbolos cívicos se frustra. Mesmo onde há bandeira do Brasil hasteada, não encontrará um típico militante. Ali, na véspera da ida às urnas, o professor aposentado Remigio Bordin, de 77 anos, ainda avaliava quem escolheria. “Acho que vou votar na Simone (Tebet) no primeiro turno, e no Bolsonaro no segundo”, disse, apontando a razão pela qual crê que a cidade transparece paz na véspera da votação: “Nas bodegas, ninguém fica discutindo política. Cada um faz por si”.

Estrela solitária

É difícil identificar um dos 134 eleitores que votaram no PT no segundo turno em 2018. O partido nunca elegeu um vereador nos 30 anos de história do município. Das nove cadeiras da Câmara, cinco são do partido do prefeito (PP), Danrlei Pilatti, e do vice.

Para tentar estruturar o PT, Adelar Stuani, servidor municipal aposentado, gastou do próprio bolso parte do salário de motorista da prefeitura, mas fracassou. “O PT de fora não ajuda”, disse. Candidato a prefeito pelo PTB em 2020, quando conquistou 30 votos, ele construiu uma tese na época em que percorria propriedades a serviço da Secretaria de Agricultura. “Há 60% dos agricultores que ganham entre 11 e 20 salários mínimos mensais”, afirmou. “O perfil de alta renda é mais associado ao eleitorado do Bolsonaro.”

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