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Análise: A derrocada de um estilo de política

Por Wagner Iglecias
Atualização:

É marcante a ausência nas urnas de 2014 dos nomes de José Sarney e de sua filha, Roseana. O veterano político está na vida pública desde 1955, quando chegou à Câmara como suplente. Filiado ao PSD, foi para a UDN e se opôs a Juscelino. Apoiou Jânio e foi seu vice-líder. Com a renúncia, virou opositor de Jango. Crítico moderado das primeiras medidas pós-golpe de 1964, Sarney tornou-se um dos sustentáculos civis à ditadura militar. Assumiu o Maranhão em 1965 e o controle político do Estado. Nos anos 70, eleito e reeleito senador, foi um dos mais influentes da Arena e, depois, do PDS. Participou das negociações para a volta à democracia e tornou-se um dos fiadores da transição segura representada por Tancredo. Por um desvão do destino, acabou presidente em momento de comoção nacional. Terminou seu governo de forma medíocre, engolido pela hiperinflação, mas teve força para eleger Roseana deputada e governadora. Chegou a tê-la como pré-candidata do PFL à Presidência em 2002. A primeira derrota do clã nas urnas do Maranhão viria em 2006, mas Jackson Lago, que conseguiu o fato inédito, foi cassado em 2009 e Roseana voltou ao governo. Metáfora mais bem acabada de parte da classe política, Sarney apoiou todos os presidentes da ditadura e foi aliado de Itamar, FHC, Lula e Dilma. É a personificação de um Brasil profundo, capilarizado e incrustrado desde sempre no Estado. Clones são vistos País afora. Mas sai de cena o original. Do clã ficam o filho Zequinha, candidato à reeleição na Câmara, e o neto, Adriano, candidato a deputado estadual. O título desse texto poderia ser “O ocaso do camaleão”, ou seja, o fim da carreira de quem se adaptou tão bem a tantas mudanças por tanto tempo. Mas, ao longo dos anos, mudou Sarney ou mudou quem buscou seu apoio? Nunca se saberá. O que se sabe é que nem mesmo Sarney resistiu às mudanças da sociedade brasileira. *DOUTOR EM SOCIOLOGIA E PROFESSOR DA ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES DA USP

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