O debate vale pelas disputas reais, não pelo formalismo da presença de todos. Importam a estratégia e a sutileza dos conflitos entre os grandes. O embate principal se dá entre João Doria e Paulo Skaf, líderes nas pesquisas. Skaf é pedra no caminho de Doria: no mesmo campo político, retira-lhe votos e desfaz o sonho tucano de vitória no primeiro turno. No segundo turno, João Doria terá todos contra ele.
Assim, para o bem e para o mal, o ex-prefeito ocupou a cena em vários episódios. E se, de saída, escamoteou interesses dirigindo pergunta ao novato Marcelo Cândido, no segundo momento tornou o conflito inevitável. Questionado sobre sua fidelidade a Geraldo Alckmin, Doria preferiu avançar sobre Skaf e sua relação com o desgastado Michel Temer, retomando a crítica de sua campanha nas inserções de TV. Foi uma estocada que Skaf não soube revidar.
Já quando lhe coube, Márcio França tirou Doria para dançar, revelando as fragilidades do tucano no campo de questões que deveriam ser naturais ao gestor. “Qual o número, João?”. Desconhecer valores de memória não é pecado, mas Doria revelou insegurança incomum para o perfil que insiste sustentar – ao mesmo tempo, atualizar-se no intervalo é passar duplo recibo. O fato é que a “pegadinha” confrontou o gestor com seu próprio discurso.
Quando pôde, Doria apelou para o antipetismo, zona de conforto que lhe garantiu a eleição em 2016. Faz sentido, mas a fila anda e, mesmo sendo São Paulo o reduto da rejeição ao PT, o clima não é o mesmo de dois anos atrás. Inadvertidamente, o tucano levantou a bola para Luiz Marinho explorar temas que interessam ao “time do Lula”: o confronto com as vicissitudes nacionais de PSDB e MDB.
* CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER