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Garotinho: ‘Herdeiro’ da rua ataca pelo rádio

Principal beneficiado pela queda de popularidade de Cabral, deputado reforça seu nome com programa transmitido por 32 emissoras fluminenses em que dá prêmios para donas de casa

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Por Wilson Tosta
Atualização:

RIO - O ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) aproveita toda a oratória construída em mais de 35 anos como radialista para pavimentar o caminho de volta ao Palácio Guanabara. À frente do Fala, Garotinho, um programa transmitido por uma rede construída desde 2007 que engloba 32 emissoras fluminenses, ele ganha visibilidade falando com donas de casa da periferia da capital e do interior, em uma atração ao estilo "rádio AM".Diante da queda de popularidade do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) desde o início das manifestações populares em junho - que contamina o correligionário e seu candidato à sucessão no Rio, o vice-governador Luiz Fernando Pezão -, Garotinho desponta como favorito nas pesquisas para as eleições estaduais de 2014. Aos 53 anos, o parlamentar, sobre quem pesam suspeitas de irregularidades durante a gestão no Estado (1999-2002), vive uma rotina que lhe concede cinco horas de sono diário. Evangélico desde 1994, o líder do PR na Câmara dos Deputados comparece a mais de 95% das sessões da Casa e, às quintas-feiras à noite, vai a bairros pobres do Rio distribuir exemplares da Bíblia.As manhãs de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h, são dedicadas ao Fala, Garotinho, programa radiofônico de estilo popular, com brincadeira e fofoca de televisão. Debates políticos passam longe da atração, cujo destaque é a promoção "Renove a sua casa", que distribui móveis e eletrodomésticos.Em uma das interações com ouvintes, em junho - quando as manifestações pelas ruas do País ganharam corpo -, Garotinho deu "um susto", como ele mesmo definiu no ar, na ouvinte Carla Lopes, de Belford Roxo, na região metropolitana do Rio. "Carla, eu tenho uma péssima notícia para te dar", disse ele, tentando fazer suspense. "Você ganhou uma geladeira duplex, um fogão cinco bocas, um jogo de armário para cozinha, mesa com quatro cadeiras, forno micro-ondas, kit multiprocessador, batedeira, liquidificador, cafeteira, sanduicheira, TV LED 40 polegadas, aparelho de som, conjunto de sofá com dois e três lugares, mesa de jantar com quatro cadeiras, cama box de casal com colchão, dois criados-mudos, guarda-roupa duplex, máquina de lavar, ferro a vapor e tábua de passar!", descreveu à ganhadora.Garotinho explica que seus programas focam a dona de casa. "Sempre foi. Porque do ponto de vista comercial, quando iniciei no rádio, os meus anunciantes quem eram? Supermercados, produtos para a dona de casa, tipo farinha de trigo Boa Sorte, açúcar União... Então, era o meu público, o público consumidor dos produtos que eu anunciava. E foi ficando. Tanto que meu slogan era 'Garotinho, o Amigo da Dona de Casa'. Tinha a vinhetinha", conta, afirmando que seu público "é velho, de 45 (anos) para cima". Segundo o deputado, ele não é contratado da Rádio Manchete, cabeça da rede. "Eu ganho sobre o que vendo", diz.Segundo o deputado, a distribuição de brindes - prática proibida em campanha - nunca lhe causou problemas com a Justiça Eleitoral. "Não vou viver de política, nunca vivi. Aí vou parar meu programa?", pergunta. "Quando me torno candidato, embora não precise sair, só 45 dias antes, normalmente, por prevenção, saio." Religião. Além do programa radiofônico, outro canal de comunicação de Garotinho com o seu eleitorado é o viés religioso.Um exemplo de afirmação de posição neste campo foi quando o deputado defendeu a permanência do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), também evangélico, na presidência da Comissão de Direitos Humanos, onde protagoniza uma gestão contestada por grupos humanitários e pelo movimento de defesa dos homossexuais. Em seu blog, Garotinho afirmou ter sido contra a remoção do deputado do posto na comissão, em reunião de líderes com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), porque, em sua opinião, a iniciativa violaria o regimento da Câmara. Também atribuiu a forte pressão contra o deputado do PSC à "intolerância religiosa" e criticou a bancada petista. "Já havia percebido há muito tempo que o PT faz uma confusão entre Estado laico e Estado ateu", comentou no texto.No Congresso, Garotinho tem se mantido no centro de temas que chamam a atenção da mídia ou podem ter boa repercussão nas classes populares. Entre eles, o projeto de lei que libera biografias não autorizadas, a PEC que reduz impostos sobre medicamentos, a proposição da criação da CPI das Loterias e do fim do voto secreto. Às vezes, assume atitudes díspares, como mostra o boletim de prestação de contas do mandato referente a setembro, distribuído na semana passada no Rio. Na primeira página, o tabloide trazia a manchete "Garotinho pede Polícia Federal no caso Amarildo" - sobre o assassinato, sob tortura, do pedreiro Amarildo de Souza, por policiais militares. Na página 2, a publicação defende uma proposta cara aos PMs: "A hora e a vez da PEC 300". A Proposta de Emenda Constitucional estabelece um piso salarial nacional para a categoria.Terceiro colocado na corrida pela Presidência há 11 anos, Garotinho cogita agora disputar o governo estadual apoiando, na periferia da capital, a chapa Eduardo Campos-Marina Silva (PSB); na periferia da Região Metropolitana, a reeleição de Dilma Rousseff; e no interior, a candidatura de Aécio Neves (PSDB). A justificativa é o próprio eleitorado que, segundo ele, é mais evangélico na zona oeste do Rio, mais governista na Baixada Fluminense e conservador nas cidades interioranas.Ataque. A certeza mesmo é de quem atacará: Cabral. "É comparar o governo dele com o meu", afirma. O deputado declara que o atual governador acabou com programas que herdou das gestões dele e de sua mulher, Rosinha Garotinho (2003-2007), também do PR e que hoje é prefeita de Campos, e critica a prioridade dada à Copa do Mundo e à Olimpíada. "O grande evento é uma festa. Alguém vive só de festa? Não. Você vai a uma festa. Uma festa faz parte da sua vida, mas sua vida não é uma festa. O que a cidade precisa entender é que a Copa do Mundo é importante, a Olimpíada é importante. Mas são eventos isolados. O que você tem é de ter políticas permanentes, contínuas. Ele (Cabral) acabou com isso."Quando governou o Rio, de 1999 a 2002, Garotinho foi aliado próximo de Cabral, que presidia a Assembleia Legislativa. Onze anos atrás, o hoje governador se elegeu senador, e, em 2006, Garotinho e a mulher o apoiaram na disputa pelo Palácio Guanabara. A desavença, segundo o deputado, começou após aquela eleição, quando, afirma, o hoje vice-governador Luiz Fernando Pezão, secretário de Governo de Rosinha, teria "aliciado" secretários da administração que saía. O governo do Rio não quis comentar as críticas de Garotinho e nem mesmo conhecer o conteúdo dos ataques.

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