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Jornalistas e intelectuais lamentam morte e destacam legado

Corpo do diretor de redação da Folha de S.Paulo foi cremado no início da tarde

Por Marianna Holanda
Atualização:

Intelectuais, jornalistas e políticos compareceram ao velório do diretor de redação da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, no final da manhã desta terça-feira, 21. Eles lamentaram a morte do jornalista, responsável por consolidar o “Projeto Folha”, conjunto de medidas editoriais considerado como um dos marcos da imprensa brasileira, e exaltaram que seu legado permanecerá.

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O velório começou às 11h30 no Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, em São Paulo, e durou pouco menos de duas horas. A cerimônia foi encerrada com um breve discurso do jornalista e colunista da Folha Clovis Rossi, por volta das 13h15, quando a capela cheia aplaudiu longamente o jornalista, ao som das músicas do REM, Losing my religion e Man on the Moon.

“Gostaria de ter tido o talento que ele teve para criar um projeto de jornalismo crítico, apartidário e independente. Esse tipo de projeto é ainda mais necessário hoje diante das fake news”, disse Rossi, afirmando que seria breve, em tom de brincadeira, caso contrário Frias se levantaria do caixão para demiti-lo, já que não gostava de mais delongas.

Frias Filho morreu de câncer de pâncreas, aos 61 anos, na madrugada desta terça feira, 21. Após o velório, seu corpo foi cremado por volta das 14h. “O Brasil perdeu um grande brasileiro, um intelectual extraordinário e um jornalista revolucionário”, resumiu o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto.

O jornalista Otavio Frias Filho, ex-diretor de redação da Folha de S. Paulo Foto: Wilton Junior/Estadão

Estiveram presentes também os candidatos à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) e sua vice, Kátia Abreu (PDT), e Henrique Meirelles (MDB). Vice na chapa de Marina Silva (Rede), Eduardo Jorge (PV) representou a candidata no velório. O presidenciável pedetista lamentou a perda, com quem tinha “relação fraterna, respeitosa e, diria, amistosa há mais de 20 anos”. Já o emedebista ressaltou que Frias “foi de fato um ícone para a imprensa, alguém que representou muito pela liberdade de opinião, independência nas suas escritas e por manter forte e viva a sua trajetória”. 

Colunista da Folha há 19 anos, Juca Kfouri disse que o grande legado que Frias Filho deixa é o de nunca ter sugerido nada aos seus jornalistas e ter prezado pela independência. “E que sempre fez questão de defendê-los judicialmente. Não fosse a assistência jurídica da Folha eu já tinha quebrado há muitos anos”, brincou. 

Diretores de jornais e veículos de imprensa prestaram sua homenagem ao idealizador do “Projeto Folha”,que estabeleceu, por exemplo, a figura do ombudsman e o painel do leitor. “Ele criou na Folha um novo jornalismo, inovador e corajoso, que serviu de exemplo para várias empresas do setor. Uma grande perda para todos", afirmou o diretor-presidente do Estado, Francisco Mesquita Neto. 

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O editor-executivo da Folha, Sérgio D’Ávila, lembrou do que chamou de “obsessão” de Frias em contemplar todos os lados da história e garantir  que acusados pudessem se manifestar em matérias críticas. “Trazer o aspecto mais plural das tendências e das ideias para o campo do jornalismo. Uma pessoa obsessiva pelo contraditório, com os outros lados que cada história enseja”, disse.

Já o diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre, lembrou da atuação de Frias durante as Diretas Já, que foi pioneiro na campanha nos anos 1980. “Ele era fundamental. Em alguns momentos isso ficou muito claro. Chamo atenção especial para a campanha das Diretas, que foi fundamental e foi comandada diretamente por ele”, afirmou Mitre.

Governador de São Paulo e candidato à reeleição, Márcio França (PSB) disse que Frias Filho morre apenas fisicamente. “A história, a vida, o legado continuam, à medida que você lê um jornal, vai de novo lembrar lá a história e a luta que travou”.

Também compareceram ao velário jornalistas como Elio Gaspari, Mário Sérgio Conti, Vera Magalhães, Renata Lo Prete, entre outros. Do mundo político, marcaram presença também o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o vereador Eduardo Suplicy (PT) e o secretário de segurança pública de São Paulo, Magino Alves. Emocionada, a senadora Marta Suplicy (MDB) lamentou a morte do colega de luta estudantil. “Era uma pessoa que tinha autoridade, ousadia e coragem muito grandes que, nesse momento, num Brasil conturbado, vão fazer falta.”

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