RIO - De volta ao Rio na semana que vem, Márcia Ferreira Pereira Guimarães vai decidir com a família se vai organizar um funeral para o pai, o sindicalista e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Aluizio Palhano. Desaparecido político desde 1971, o militante morto teve sua ossada foi oficialmente identificada por peritos. Marcia também avaliará se será possível desarquivar o processo sobre o caso no Supremo Tribunal Federal (STF), contou Clarisse Montuano, sobrinha-neta de Aluízio e autora do documentário ‘Um Companheiro’. Nele, conta a história do tio-avô.
“A família só soube da morte em 1976, cinco anos depois. A partir daí, iniciou um busca incessante pelo corpo. Fui a Cuba com minha mãe atrás de informações sobre o período em que ele esteve lá e descobri que, em Cuba, é um herói. Recolhemos muitos dados”, contou Clarisse.
Por 47 anos, familiares buscaram os restos mortais de Palhano e o reconhecimento pelo Estado de que o sindicalista foi assassinado por militares, em 1971, durante a ditadura no Brasil. A procura terminou na semana passada, quando souberam que são dele restos mortais encontrados numa vala comum descoberta na década de 1990 no cemitério Dom Bosco, em Perus (SP), em meio a centenas de outras ossadas.
A busca pelo corpo de Aluízio marcou a vida de seus parentes. Um dos nove irmãos, Anísio Palhano Pedreira Ferreira, e sua mulher, Branca Eloysa Pedreira Ferreira, tornaram-se ativistas. Ao lado do grupo ‘Tortura Nunca Mais’, dedicaram décadas à memória do familiar assassinado e desaparecido. Branca, já viúva, morreu em abril deste ano, um mês antes do Supremo Tribunal Federal (STF) arquivar o processo judicial que reivindica o reconhecimento de que o sindicalista foi uma das vítimas da ditadura.
A Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconhece Aluízio como principal líder sindical bancário da história brasileira. Ele foi também uma das lideranças da VPR. Sua prisão e morte foram denunciadas pelo preso político Altino Rodrigues Dantas Júnior, em carta enviada ao general Rodrigo Octávio Jordão Ramos em 1978.
A denúncia era de que o sindicalista foi assassinado no DOI-CODI de São Paulo, comandado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra - cuja autobiografia é o livro de cabeceira do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Aluizio Palhano foi capturado devido à ação do ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, um agente infiltrado na luta armada pela repressão.
Marcia recebeu a notícia de que os ossos de Aluízio estavam em Perus na semana passada. Na última segunda-feira, 3, a informação foi divulgada durante o 1º. Encontro Nacional de Familiares, promovido em Brasília pela CEMDP, ligada ao governo federal.