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Opinião|Governo Lula quer punir críticos e até quem curte teoria da conspiração e publica receita de suco

Gestão petista pediu à Polícia Federal para investigar supostos crimes em postagens com críticas a atuação federal no Rio Grande do Sul

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O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, recebeu do governo Lula ordem para ir atrás de quem dissemina fake news sobre a ajuda às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Saiu do Palácio do Planalto ofício solicitando acionar a Polícia Federal contra quem propaga “narrativas desinformativas e criminosas”. Junto foi uma lista de quem investigar. A relação vai por a PF à prova.

A relação elaborada pelo Planalto tem 11 exemplos da conduta que a gestão Lula considera ilegal. Há de tudo ali. Do parlamentar da oposição e filho 03 de Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a perfil que apela a teorias da conspiração.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, recebeu pedido do governo para investigar postagens com críticas a ação federal no Rio Grande do Sul Foto: Wilton Júnior/Estadão

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Esse último foi postado no dia 7 de maio às 18h45. Seu autor chama a tragédia no Sul do País de “calamidade orquestrada” para ser usada por “traidores da nação para impor medidas de controle social nunca antes vistas”. O tal perfil acredita que existem “desastres climáticos produzidos” e que tudo foi planejado para uma desapropriação em larga escala e para restringir o uso da terra. Esse é um dos casos “criminosos” para a PF investigar.

Já Eduardo Bolsonaro entrou na mira porque postou em sua rede social comentário dizendo que o governo Lula levou 4 dias para atuar na ajuda ao Rio Grande do Sul. Certo ou errado, isso é crime ou apenas uma amostra do hábito mais antigo de um opositor: critica tudo, até mesmo quando não tem razão?

O governo Lula também viu crime no perfil de inclinação militar que vive postando notícias sobre a guerra na Ucrânia e, na última quinda-feira, divulgou receita de suco de beterraba com laranja. A postagem a ser investigada já foi apagada. Segundo o governo, dizia que veículos militares “teriam virado submarinos em meio à enchente”.

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Há ainda na lista dos 11 alvos, perfis que insistiram em dizer que as Forças Armadas estavam ajudando pouco os gaúchos apesar de terem militares espalhados por todo o País. “Onde estava as forças de segurança?”, questionou o bolsonarista que tem 1 milhão de seguidores.

Na semana em que o governo federal esteve consumido com o socorro emergencial ao Rio Grande do Sul, uma parte dele considerou ser necessário recorrer à PF para investigar quem usa as redes sociais para espalhar informações falsas, distorcidas ou apenas críticas. Nas palavras de baixo calão de um ministro, a orientação é para “botar para f.”

A estratégia cumpre seu papel político de o Executivo mostrar-se intolerante e duro contra quem aposta no caos. Mas elevar o grau para considerar postagens crime pode ser um presente para a turma que deixou o poder e precisa manter aceso o embate polarizado.

Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Mestre em Comunicação e pesquisador especializado em transparência pública. Escreve às sextas-feiras.

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