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Jantar de R$ 50 mil, ‘fritura’ de senador e ‘climão’ com ministro; como foi a festa do União Brasil

Integrantes do partido tentam minar poder de Davi Alcolumbre e prometem apoio à candidatura de Rogério Marinho

Foto do author Daniel  Weterman
Foto do author Levy Teles
Por Daniel Weterman e Levy Teles
Atualização:

BRASÍLIA - A noite de véspera da eleição para o comando do Congresso foi uma verdadeira festa para o União Brasil, uma das maiores forças na Casa, mas terminou em fritura e “climão”. A cúpula da legenda reuniu deputados e senadores em um buffet de luxo em Brasília, com direito a uma celebração que custou aproximadamente R$ 50 mil. O evento serviu para o partido combinar uma articulação contra a campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado e “queimar” um dos principais dirigentes do União, o senador Davi Alcolumbre (AP), que não deu as caras, principal cabo eleitoral de Pacheco.

O convescote foi organizado pela chef Renata La Porta, que possui um dos locais mais sofisticados para realizar eventos em Brasília. Só a comida custou aproximadamente R$ 17 mil para servir os parlamentares. Fora isso, teve banda tocando ao vivo, decoração, whisky e muito vinho, tudo para animar os parlamentares e as famílias para a posse. O cardápio foi repleto de iguarias: massa ao molho roquefort, filé ao molho de dijon, cuscuz ao curry, nhoque, arroz de pato na laranja e bobó de camarão. A celebração se alongou até o começo da madrugada, quando os principais nomes saíram.

Festa da União com direito a uísque e "fritura" de senador Foto: Daniel Weterman

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), passou de mesa em mesa para pedir votos. O União terá 59 deputados na Câmara. Todos prometeram votar em Lira. Os aliados davam vários palpites sobre o placar da eleição no comando da Casa, que pode ser o mais acachapante da história. De 430 a 500 votos para o atual presidente ser reconduzido. Lira, no entanto, evitou arriscar. “Essa história de palpite dá azar”, segundo ele. No Senado, a história é diferente. O União Brasil - grupo que há dois anos lançou Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na disputa - agora se divide.

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, passou rapidamente pelo jantar e cumprimentou alguns colegas. Ele foi alçado do baixo clero da Câmara para o primeiro escalão do governo sem apoio da bancada, embora tenha um bom trânsito e seja bem tratado internamente.

Ministro Juscelino Filho, de costas, na festa do União Brasil Foto: Daniel Weterman

O Estadão revelou que Juscelino usou o orçamento secreto em benefício próprio e já abriu as portas do ministério para um amigo empresário que faturou com o esquema. Longe do ministro, um deputado comentou: “pau que nasce torto morre torto”. Outro colega confidenciou: “está errado e não tem nada a ver com o partido ele estar no governo”. Houve ainda várias reclamações por Juscelino não estar entregando cargos e atendendo a pedidos dos próprios colegas de partido. Um deles, por exemplo, o deputado Alexandre Leite (SP), foi pedir uma antena de celular para um bairro da capital paulista e não conseguiu, sem deixar de esconder a insatisfação.

Outra orelha que esquentou durante o jantar foi a de Davi Alcolumbre, líder do União no Senado. Os dirigentes do partido montaram uma operação que colocou Pacheco, afiliado político do amapaense, em risco na campanha pela reeleição ao cargo. Dos 10 senadores do União, o atual presidente do Senado deve ter cinco ou seis votos. E cada um deles conta. Alcolumbre tentou fechar um apoio formal da bancada ao afilhado, e nem isso conseguiu. As reclamações durante o jantar giraram em torno da postura de Alcolumbre, que montou em seu gabinete um verdadeiro “governo paralelo” no Senado para dizer quem recebe cargos, quem fica com comissões e quais senadores levam recursos do governo. Senadores da legenda dizem que não querem terceirizar essa articulação e resistem a reeleger Pacheco agora para facilitar a vida de Alcolumbre, que quer voltar a ser presidente do Senado em 2025.

O clima favoreceu Rogério Marinho (PL-RN), adversário do atual presidente do Senado. Outro fator que pesa no União, revelado durante o jantar em conversas reservadas, é a insatisfação com o Supremo Tribunal Federal (STF) e a necessidade de colocar um “freio de arrumação” no Judiciário. Ainda assim, dirigentes do partido apostam em um favoritismo de Pacheco, com a oferta de cargos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), tentou apaziguar a divisão e falou a colegas que tudo com o tempo se ajeita. Depois da eleição para as mesas da Câmara e do Senado, o partido terá que definir como se comporta em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E a ordem é cobrar cargos e verbas a cada votação, individualmente, uma verdadeira negociação no varejo, independente de quem comanda o Congresso. “Negociar projeto a projeto”, disseram.

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A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, outro nome que causa desconforto para o União no governo, foi ao jantar e ficou pouco. Ainda passaram por lá, sem muitos amigos e poucos cumprimentos, o senador eleito Sérgio Moro (PR), e a mulher, deputada eleita Rosângela Moro (SP). Algoz dos denunciados na Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Moro tende a ficar isolado no Senado e já prepara uma candidatura ao governo do Paraná em 2026. Quem mais festejou foi realmente o baixo clero. Carlos Gaguim (TO), Alexandre Leite (SP) e Professora Dorinha (TO) caíram na dança, ao som do cantor Miguel Santos, que levou sua banda para tocar forró e sertanejo.

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