Bloco de ministros mantém governo refém do curto prazo

Contra um bloco, outro bloco. Assim o governo reagiu ao anúncio da base aliada de formação de um bloco para aumentar e dar consequência prática à pressão pelo atendimento de reivindicações que cozinham em banho-maria no Planalto. Um grupo de 12 ministros ocupará o balcão de atendimentos do Executivo no Congresso Nacional.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Abstraindo-se o formato, é mais do mesmo. O gesto de descer à planície para ouvir as queixas e demandas não é suficiente - como demonstra a permanência do bloco da situação -, para apaziguar os ânimos. A tropa do Planalto vai ouvir e negociar - o que, de resto, vem ocorrendo sem resultados em reuniões esparsas.

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Por incapacidade ou por resistência - ou ambos -, o governo estreitou o tempo para as negociações, tornando-se refém do curto prazo para encontrar saídas que preservem o engajamento de sua base , principalmente do PMDB,nas eleições gerais deste ano. Esse mal já está feito, a missão agora é remediá-lo, amenizando seus efeitos.

No cenário fisiológico que rege as relações entre partidos e governantes no Brasil, a resistência do Executivo é sempre uma virtude. Mas o governo parece ter cometido um erro de cálculo ao levar ao estresse o embate em ano eleitoral, quando os políticos jogam suas fichas na renovação dos mandatos.

O questionamento que continua presente nos insatisfeitos que se amontoam no bloco de oposição da base aliada é quanto à autonomia dos ministros para tomar decisões. Se não a tinham individualmente, porque unidos em um bloco passariam a tê-la?

O mutirão de ministros não terá autonomia para decidir casos que estão fora de sua alçada, a começar pela distribuição de cargos na reforma ministerial. Esses cargos só são cobiçados no último ano de mandato da presidente Dilma pela influência eleitoral que possam exercer.

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São ministérios tampões, impondo uma negociação imediata em que o apelo da continuidade , condicionado à reeleição da presidente, tem pouca ou nenhuma valia. Há pouco a fazer em relação às emendas diante do contingenciamento imposto pela meta de superávit fixada há dias na tentativa de ir além da declaração de intenções junto ao mercado.

O bloco de ministros, assim, continua sendo uma instância intermediária submetida à forte concentração de decisões na presidente da República. Esta, por sua vez, tenta se equilibrar entre as pressões de PT e PMDB, cuja disputa eleitoral se trava à margem dos interesses do governo ou, pelo menos, os coloca em plano secundário.

É essa disputa que orienta o PMDB na mesa de negociações e que acaba por fortalecer a ação do líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), produzindo em consequência a fragilização do Vice Presidente Michel Temer, cujo papel institucional o submete compulsoriamente à defesa do governo também.

Em tempos de guerra - como se caracteriza a eleição para os partidos políticos -, o general na frente de batalha ganha supremacia informal sobre o comandante que traça a estratégia a partir do gabinete. É o que ocorre hoje em relação a Temer e Cunha - o primeiro empenhado em conciliar interesses do governo e do partido; o líder, ocupado apenas do segundo.

O desafio da presidente continua sendo o de administrar a luta entre PT e PMDB. Para isso, terá de ser mais firme com seu partido e mais condescendente com o aliado que se ressente da falta de isonomia no tratamento político.

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Trata-se de focar nas demandas essenciais a um e a outro, deixando o desgaste para as que, não atendidas, causem menos problema.

 

 

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