No segundo turno

O resultado das últimas pesquisas Ibope e Datafolha determinam que a reta final da campanha se concentrará na disputa do segundo lugar, entre Aécio Neves e Marina Silva, agora ambos com chance de chegar ao segundo turno. O índice de Dilma Rousseff, de 40%, desautoriza a previsão de vitória no primeiro turno, como chegou a cogitar o PT.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Marina sofre, de fato, uma desidratação considerável e, não fosse a exiguidade de tempo, já poderia ser considerada fora da competição. Sua curva é descendente, na proporção dos ataques que a despiram da candidata ungida pelo destino.

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Foi humanizada pela campanha e exibiu a fragilidade de sua proposta de uma "nova política" dissociada de um programa consistente e sem contradições, o que a transforma em presa fácil do PT no segundo turno.

Sua queda se dá em velocidade quase proporcional à verificada na fase de ascensão nas pesquisas, logo após a morte do ex-governador Eduardo Campos, quando atribuiu sua candidatura à "providência divina", que a tirou do avião em que estava o candidato do PSB.

Isso se explica pela constatação, possível desde a tragédia, de que Campos não tinha biografia política para que a morte o mitificasse, restringindo a permanência da comoção ao seu Estado, Pernambuco.

Um diagnóstico fácil pela simples lembrança de que a tragédia o abateu no curso de uma campanha em que sua meta prioritária era ter visibilidade nacional. Não sendo conhecido por mais de 50% da população, não poderia produzir uma comoção nacional com a sua morte prematura.

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Conspiram contra Aécio Neves o tempo e o surpreendente desempenho negativo de sua candidatura em Minas Gerais - segundo maior colégio eleitoral e seu berço político. Em Minas, hoje, em cada 3 votos, um é do candidato do PSDB. Dramático, portanto.

A favor, a aparente percepção gradual do eleitorado antipetista - que registrava intenção de voto em Marina por considerá-la mais competitiva - , de que a candidata do PSB, na realidade, era mais frágil do que supôs no primeiro momento.

Os fatores negativos para Aécio o colocam com, no máximo, 50% de chance de ultrapassar a ex-senadora e chegar ao segundo turno. Nessa hipótese, precisará que a eleição em Minas não acabe no primeiro turno para ter a chance de colocar a perspectiva de chegar à presidência a favor da reversão do quadro desfavorável em sua base política.

Ainda na hipótese de disputar com Dilma a etapa final, não dependerá do improvável apoio do PSB e de Marina, para ser competitivo, conforme a simulação de segundo turno das pesquisas, que o mostra com 40% das intenções de voto.

Esse porcentual é indicador da migração do eleitorado que "marinou" por achar que ela venceria Dilma Rousseff. Será uma transferência automática, fora do controle do PSB, cujo apoio a Aécio não deve ser considerado realisticamente.

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Esse desenho na reta final, em que o poder de "desconstrução" do PT sobre Marina é patente, autoriza a previsão de que, se for ao segundo turno, Marina será candidata mais fácil para o PT do que Aécio, o que a campanha governista dissimula exatamente por essa razão.

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A estrutura partidária mais sólida do PSDB também estabelece a diferença entre Marina e Aécio no segundo turno. Se lá chegar, o senador mineiro será beneficiado pela renovação de expectativas regionais, revigorando alianças que o "efeito Campos" enfraqueceu ou extinguiu.

Pegue-se, como exemplo, o caso da Bahia, onde o candidato aliado, do DEM, Paulo Souto, deve vencer a eleição, segundo as pesquisas. Com Aécio no segundo turno, o impacto negativo para a candidatura Dilma no Estado será grande, pela devolução das expectativas de vitória aos partidos de oposição, o que não ocorreria com Marina Silva.

O mesmo poderia ocorrer, em maior ou menor escala, no Rio, São Paulo, mesmo em Minas, e outros Estados. Com Marina isso não seria provável, porque ela e o PSB não agregam o arco partidário oposicionista como o PSDB.

É uma corrida contra o tempo para os dois candidatos, mas o que a hemorragia da candidatura do PSB estabelece é uma eleição mais fácil para o governo no segundo turno com Marina e, mais dura, com Aécio.

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Um dado que permanece das pesquisas anteriores às de ontem é o índice de aprovação do governo Dilma (37%), que não acompanha o crescimento da candidata na intenção de voto (40%). É um provável indicativo de que os votos ganhos pela candidata governista são de eleitores que, ao desistirem de Marina, fazem o raciocínio de ficar com o que já conhece, embora não aprove o governo.

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