Conhecido fora de sua bolha após presentear o jogador de futebol Neymar com um cordão de ouro de valor estimado em R$ 2 milhões, o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira, de 28 anos, é investigado pela Polícia Civil de São Paulo por suposta exploração de jogos de azar em um esquema que os investigadores chamaram de “jogo de bicho por meio digital”.
A investigação ainda aponta indícios de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha em razão de uma suposta atuação conjunta com outros três influenciadores. Segundo o inquérito policial ao qual o Estadão teve acesso, Buzeira utiliza as redes sociais para fazer sorteios e rifas ilegais, com premiações em dinheiro, o que é proibido por lei.
A reportagem entrou em contato com um dos advogados que representam Buzeira. O profissional disse que se manifestaria, mas não deu retorno. Na investigação, a defesa alegou que “as acusações de pertencimento a organização criminosa e lavagem de capitais não encontram qualquer amparo fático nos autos”. Também rechaça as suspeitas de lavagem de dinheiro “pois não há nenhum indício de que os valores recebidos por Bruno tenham sido ocultados ou dissimulados” e porque “tudo o que compõe o seu patrimônio está devidamente declarado”.
Aberto em março de 2022, o inquérito contra o influenciador aponta que ele utiliza o Instagram e o Facebook para vender rifas digitais e fazer sorteios sem autorização legal, prática que foi apelidada pela polícia paulista de “jogo do bicho por meio digital”. Por meio das redes sociais, Buzeira sorteou quantias em dinheiro, carros e motos de luxo, diz a polícia.
Para fazer os sorteios, o influenciador desenvolveu um site próprio. Já as rifas digitais, que variavam de R$ 40 a R$ 90, eram anunciadas e vendidas nas redes do influenciador. Em um único sorteio estima-se que Buzeira pode ter faturado R$ 90 mil, aponta a investigação.
No Brasil, a realização de sorteios é proibida pela Lei das Contravenções Penais. De acordo com o texto, é proibido “promover ou fazer extrair loteria, sem autorização legal”. “Considera-se loteria toda operação que, mediante a distribuição de bilhete, listas, cupões, vales, sinais, símbolos ou meios análogos, faz depender de sorteio a obtenção de prêmio em dinheiro ou bens de outra natureza”, diz a lei. A pena prevista para o crime é prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa.
A Policial Civil de São Paulo ainda descreve o modus operandi de Buzeira. Segundo a corporação, o influenciador ostenta uma “vida de luxo” no Instagram, agindo sempre em nome próprio na realização dos “sorteios ilegais”, com o objetivo de enriquecer de maneira ilícita. Além disso, a polícia afirma que o influenciador digital possui empresas para “lavar o dinheiro ilegal” adquirido por meio dos sorteios.
Em depoimento, o influenciador disse que é proprietário de uma marca de roupas chamada “Neurose”. Além disso, afirmou que é sócio de outra empresa no ramo de estética. Sobre os sorteios, informou possuir outra empresa voltada ao marketing digital.
Buzeira também é suspeito de praticar o crime de formação de quadrilha, visto que, segundo a polícia, agia junto com outros três influenciadores. “Todos fazem parte do esquema e para angariarem seguidores e números de apostadores se marcam em postagens para aparecer no perfil um do outro, fazendo negócios entre eles, com finalidade precípua de enriquecerem às custas de apostas ilegais”.
Diante das suspeitas, os investigados foram alvos de mandado de busca e apreensão em março de 2022. A polícia ainda pediu o bloqueio de veículos sorteados, contas bancárias, redes sociais e sites. Também foi pedido a prisão temporária dos envolvidos. Porém o Ministério Público manifestou a necessidade de realização de diligências complementares, como a quebra de sigilos fiscais e bancários.
A investigação tramita junto à 1ª Vara de Crimes Tributários do Foro Central Criminal de Barra Funda, em São Paulo.
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