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Leite admite fusão ou nova federação partidária do PSDB para fortalecer centro

Governador do Rio Grande do Sul eleito também defende que o partido faça oposição ao governo Lula

Foto do author Pedro  Venceslau
Foto do author Raphael Ramos
Por Pedro Venceslau e Raphael Ramos
Atualização:

Principal liderança nacional do PSDB após ser reeleito governador do Rio Grande do Sul no último domingo, Eduardo Leite defende que o partido faça oposição ao governo Lula e não descarta uma fusão ou a composição de uma nova federação partidária como alternativa dentro do processo de reconstrução dos tucanos. MDB, Cidadania e Podemos estão entre as siglas que podem fazer parte desta transição.

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“Pretendo ir a Brasília na próxima semana para conversar com os líderes do partido para que a gente possa promover um alinhamento e definir os caminhos que serão trilhados, se será federação com algum partido, fusão ou criação de algo novo”, disse o governador reeleito ao Estadão.

Após governar o País duas vezes com Fernando Henrique Cardoso, o PSDB elegeu apenas 18 deputados federais na última eleição, já contando com os que entraram pelo Cidadania, que fez parte de uma federação com os tucanos. Como base de comparação, há quatro anos, o PSDB havia conseguido eleger sozinho 29 parlamentares.

Nos Estados, os tucanos perderam em São Paulo após 28 anos no poder e venceram no segundo turno no Rio Grande do Sul, em Pernambuco (com Raquel Lyra) e em Mato Grosso do Sul (com Eduardo Riedel). Essa nova geografia nacional do partido é o que faz de Leite, hoje, o principal nome da sigla com mandato e peso determinante no futuro da legenda.

“O resultado que se pretende é o fortalecimento de um campo no centro que esteja associado, seja na forma de uma federação ou, se possível, partindo para a criação de algo novo”, antecipou Leite. Para o gaúcho, é necessário “conciliar agendas, com visão arrojada de economia”.

A possibilidade de a sigla formar uma federação com outros partidos que estiveram juntos em apoio à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao Palácio do Planalto já começou a ser discutida no mês passado entre os presidentes do PSDB, Bruno Araújo; do MDB, Baleia Rossi; do Cidadania, Roberto Freire; e do Podemos, Renata Abreu. Como Leite estava envolvido na disputa do segundo turno do governo gaúcho, agora é que ele passará a participar mais ativamente dessas conversas.

As federações exigem que as legendas aglutinadas atuem de forma conjunta, como se fossem uma só sigla, por no mínimo quatro anos. A união vale nos níveis federal, estadual e municipal.

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Lideranças de MDB e Cidadania admitem publicamente a possibilidade de formar uma federação com o PSDB, mas o governador gaúcho vai além ao falar em uma possível fusão ou o que ele chama de “criação de algo novo”.

Na prática, pode ocorrer com os tucanos o mesmo que aconteceu com DEM e PSL, que viraram o União Brasil neste ano. Com a fusão, o novo partido passou a ter bancadas mais robustas na Câmara e no Senado e acesso à maior fatia do Fundo Partidário.

O movimento do PSDB, se concretizado, não seria o único pós-eleição. Pros e Solidariedade já anunciaram um acordo para a fusão das duas legendas, assim como PTB e Patriota.

REFLEXO DAS PRÉVIAS

Eduardo Leite lembra que esse novo momento pelo qual o PSDB está passando é reflexo das prévias do partido, nas quais ele foi derrotado pelo ex-governador de São Paulo João Doria para disputar o Palácio do Planalto, candidatura que acabou não se confirmando depois. Leite classificou São Paulo como “a força e a fraqueza do PSDB”. O gaúcho explicou que “pela força e pela economia que tem, São Paulo acabou drenando a atenção e as energias do partido para o projeto paulista, o que levou a uma maior dificuldade de abrangência nacional”.

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Agora, com as vitórias nos governos de Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Sul, ele vê uma oportunidade de maior equilíbrio de forças dentro do partido, com uma presença regional mais bem distribuída. “A leitura sobre o que era melhor dentro do projeto de São Paulo acabou interferindo na decisão sobre a candidatura nacional. Não é uma crítica, não estou reclamando nem me queixando, é uma análise do que envolveu aquele processo de decisão”, justificou Leite.

Além de definir se o caminho do PSDB será federação com outros partidos, fusão ou criação de uma nova sigla, os tucanos terão de decidir nas próximas semanas qual será o posicionamento em relação ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Leite defende que o PSDB seja oposição. “Não me parece fazer sentido que o PSDB participe do governo Lula. Mas acho importante que seja uma oposição responsável, e não aquela que simplesmente procura impedir um governo de governar. Uma oposição que mantém independência e capacidade de criticar, mas dando sustentação à democracia.”

Apesar de se classificar como independente, o PSDB tem, na prática, agido como base de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o início do governo, votando com o Planalto a favor da maior parte das pautas enviadas ao Congresso.

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No Rio Grande do Sul, Leite já avisou que não abrigará petistas em seu governo, mesmo com o apoio recebido da legenda no segundo turno. “Aqui o PT não deve participar do nosso governo porque temos uma visão diferente de como o governo deve se organizar”, disse. “Temos diferenças programáticas de como pensamos que o Estado deve ou não intervir na economia, nas privatizações e nas reformas.”

Para o tucano, os dois partidos se aproximaram no segundo turno não por causa da agenda, mas em “um enfrentamento contra quem não consegue conviver com o contraditório”.

No segundo turno da eleição gaúcha, Eduardo Leite teve 57,12% dos votos válidos, ante 42,88% de Onyx Lorenzoni (PL). A campanha foi marcada pela animosidade e pela troca de acusações entre os candidatos. “No primeiro turno, muito eleitores alinharam os votos ao seu candidato na eleição nacional. Estivemos sem padrinho, sobrevivemos ao primeiro turno e, no segundo, trouxemos o debate para o nível estadual”, afirmou.

Sobre o fato de não ter revelado seu voto para presidente, reforçou que deve manter a escolha para si por um bom tempo, mas que “não será o sigilo de cem anos”.

TERCEIRA VIA

Após fracassar na tentativa de se lançar candidato à Presidência da República e ver, mais uma vez, a eleição ficar polarizada entre o PT e o bolsonarismo, Leite evita fazer projeções para 2026, quando ele não poderá mais ser candidato à reeleição no Rio Grande do Sul.

O tucano acredita que novos nomes podem despontar para representar a terceira via. “Política é muito dinâmica. Quem é que está surgindo nessa eleição? Quem emerge e eventualmente poderá ocupar espaço e não está sendo percebido nesse momento? Não sabemos. A bola está rolando e vai continuar rolando nos próximos quatro anos.”

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