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Lula reforça laços econômicos com a China e aposta em ordem multipolar

Presidente brasileiro e líder chinês se reúnem e assinam 15 acordos bilaterais; petista afirma que ‘ninguém vai proibir’ que País ‘aprimore suas relações’ com a nação asiática

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Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e Ana Luiza Antunes
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL/PEQUIM E SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem sua visita oficial à China. A viagem serviu para reforçar laços econômicos do Brasil com seu maior parceiro comercial e, ao mesmo tempo, foi usada pelo petista para salientar uma política externa associada a uma nova orientação internacional e multipolar. Nos três dias da agenda de Lula em Xangai e Pequim, o presidente brasileiro ressaltou a tradição da diplomacia de neutralidade do País, mas fez gestos de alinhamento com pautas importantes da diretriz externa chinesa.

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No ponto alto do encontro, Lula participou ontem de uma reunião fechada com o presidente da China, Xi Jinping. Eles assinaram 15 acordos bilaterais. Entre eles está a criação de mecanismos para a facilitação do comércio entre os dois países, assim como para o desenvolvimento da pesquisa e da inovação, além de memorandos em outros setores.

Um protocolo conjunto determina sobre o desenvolvimento do satélite sino-brasileiro de recursos terrestres CBERS-6. O satélite será usado para monitorar o desmatamento na Amazônia e em outros biomas. Outro memorando trata do entendimento sobre requisitos sanitários e de quarentena para carne a ser exportada do Brasil para a China.

O presidente da China, Xi Jinping, recebe no Grande Palácio do Povo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Ken Ishii/AP

No encontro com Xi Jinping, Lula disse que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore suas relações” com o país asiático. Ele afirmou ainda que a visita à gigante chinesa de tecnologia Huawei, anteontem em Xangai, foi uma demonstração de que o Brasil “quer dizer ao mundo que não tem preconceito” nas relações comerciais.

A Huawei foi acusada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump de fazer espionagem e o governo americano pressionou Brasília para não adotar a tecnologia 5G da empresa chinesa.

Um dos memorandos prevê parceria em temas como tecnologias de comunicação sem fio, computação em nuvem, big data, inteligência artificial, internet das coisas e tecnologias para indústria.

Lula inaugurou sua visita oficial com uma defesa do uso de moedas locais no comércio entre países integrantes dos Brics (sigla formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Esta é uma estratégia que marca a política externa e financeira do país asiático: a redução da dependência da moeda americana e o aumento da circulação do yuan.

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Manifestação conjunta dos dois países divulgada ontem informa que o Brasil reiterou aderir “firmemente ao princípio de uma só China”, destacando que “Taiwan é uma parte inseparável do território chinês”.

‘Lado’ Para o pesquisador Lívio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o tom do presidente brasileiro “foi algumas oitavas acima do necessário”. “Achei o tom do presidente Lula um pouquinho mais agressivo do que o necessário. O perigo é ser malcompreendido no sentido de parecer que está tomando um lado”, afirmou.

Analistas internacionais viram a assinatura de acordos como importante sinalização de incremento do comércio bilateral – que possa substituir a atual ênfase em produtos de baixo valor agregado –, mas sem efeito imediato.

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“Sinaliza a importância da China. Não vejo uma grande novidade. É importante ver se isso se transforma efetivamente em algo. O grande interesse brasileiro é a China investindo principalmente aqui em infraestrutura”, afirmou Lia Valls, também do Ibre-FGV.

Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, chegaram ao Grande Palácio do Povo em Pequim e receberam as boas-vindas de Xi Jinping. A recepção ocorreu a céu aberto, na praça em frente ao palácio, ao lado da Praça da Paz Celestial. O líder chinês afirmou que Brasil e China são os maiores expoentes dos países em expansão no mundo. “São os maiores países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes dos dois hemisférios. Temos interesses em comum.”

Na avaliação de Hussein Kalout, ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o encontro “imprime um novo dinamismo econômico e comercial às relações bilaterais entre os dois países” e “recoloca a diplomacia presidencial no coração da política externa”. “Na visão de Lula, a organização da ordem internacional sob uma matriz geopolítica multipolar é um imperativo necessário para o equilíbrio e a distribuição de poder nas relações internacionais”, disse.

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