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Pesquisas para presidente: entenda as diferenças entre elas e por que todas apontam cenário estável

Informações levantadas pelos principais institutos se sobrepõem dentro da margem de erro; metodologias distintas influenciam no resultado final

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Por João Scheller

Quem consultou os resultados das pesquisas eleitorais de intenção de voto no início desta semana pode ter estranhado os números do candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente Jair Bolsonaro (PL) em diferentes levantamentos. Pesquisa do Ipec (Ex-Ibope) divulgada na segunda-feira, 19, apontou uma vantagem de 16 pontos porcentuais do petista, enquanto o Ipespe, dois dias antes, mostrou diferença de 10 pontos porcentuais.

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Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que a metodologia, os questionários utilizados e o tempo de coleta de campo afetam diretamente os resultados. A variação não representa necessariamente um problema, e o cenário de estabilidade apontado pelos principais institutos de pesquisa, afirmam, demonstra isso.

“Se você calcular o intervalo de confiança dos números do Datafolha, do Ipec e da Quaest, vai ver que tem sobreposição nos intervalos de confiança de cada um dos institutos, independente da distância”, explica Márcia Cavallari Nunes, CEO do Ipec.

Considerando as margens de erro, que em geral variam entre 2 e 3 pontos porcentuais, a diferença entre os dois candidatos pode se modificar consideravelmente. Lula pode diminuir dois pontos porcentuais, enquanto Bolsonaro cresce outros dois. Uma diferença que era de 16 pontos porcentuais (Ipec de 19/09) pode cair para 12, o que já causaria sobreposição com os dados apresentados pelo Ipespe no sábado.

Pesquisas presenciais e telefônicas

O formato dos levantamentos é um dos pontos que pode trazer alteração nos resultados. Enquanto Ipec, Quaest e Paraná Pesquisas fazem sondagens presenciais nos domicílios, o Ipespe realiza entrevistas por telefone. Já o Datafolha coleta dados em pontos de fluxo ao redor do País, a partir de referência amostral própria.

Cada método apresenta certas vantagens e desvantagens. Se as amostras telefônicas conseguiriam atingir um público que trabalha de casa ou se desloca majoritariamente com transporte privado, sondagens presenciais poderiam captar informações de grupos mais pobres, onde o acesso a telefone e plano de dados é menor, por exemplo. “Não existe um problema, todas são válidas desde que interpretadas pelo método como foram feitas”, defende Márcia Cavallari Nunes, do Ipec.

Candidatos Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet, Felipe d'Avila e Soraya Thronicke Foto: Fotos: Wherter Santana/Estadão (Lula), Hélvio Romero/Estadão (Bolsonaro), Daniel Teixeira/Estadão (Ciro e D’ávila), Adriano Machado/Reuters (Tebet) e divulgação (Thronicke)

Questionários

Em geral, os questionários das pesquisas, independentemente de presenciais ou telefônicas, seguem um padrão para mostrar as opções de candidatos, alterando a ordem em que são apresentados em cada entrevista de forma aleatória. Nas pesquisas telefônicas, por exemplo, eles são lidos em ordens diferentes em cada um dos contatos. Apesar disso, diferentes perguntas apresentadas por cada um dos institutos pode interferir nos resultados apresentados.

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Forma de coleta

Além das mudanças na forma da coleta, alguns institutos levam em conta a renda dos entrevistados para realizar as pesquisas, usando informações atualizadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-IBGE). Outros se baseiam em critérios como escolaridade e local de moradia para contemplar diferentes extratos da população. Cada uma dessas mudanças metodológicas, aliada as datas das entrevistas, afeta os resultados finais.

Momento da captura dos dados

O momento da captura dos dados também influencia diretamente nos resultados apresentados, especialmente em uma eleição polarizada entre dois candidatos. “Um dia que você acaba uma pesquisa e começa outra, se tem algum efeito, isso pode ser refletido nas pesquisas”, explica Márcia Cavallari Nunes, do Ipec. “A campanha está andando, as coisas estão acontecendo, você está medindo um outro momento”, completa.

Financiamento levanta suspeitas

As eleições deste ano viram um aumento significativo nas pesquisas eleitorais. Como mostrou reportagem do Estadão, com uma semana de campanha, 1,3 mil delas já haviam sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ante 697 durante todo o ano de 2018. O crescimento no número de levantamentos foi acompanhado pelo número de processos judiciais os questionando. Os motivos são diversos, mas um tem chamado atenção especial: o autofinanciamento.

Segundo dados organizados pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), essa modalidade representa 37% das pesquisas registradas em 2022. Nesta modalidade os institutos bancam os custos das sondagens e não são obrigados a apresentar nota fiscal, o que abriria espaço para possíveis fraudes.

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“Nós precisamos, tanto os institutos quanto a própria sociedade, nos preocupar com pesquisas que têm toda a aparência de serem fake”, defende Antônio Lavareda, presidente do conselho do Ipespe.

Mesma opinião de Márcia Cavallari Nunes, do Ipec, que destaca a quantidade de levantamentos publicados nesta modalidade. “Não sei como se pode fazer tantas pesquisas com autofinanciamento. Os institutos de pesquisas em geral são empresas privadas, com fins lucrativos”, afirma.

O Paraná Pesquisas tem recebido críticas especiais neste quesito, por conta da venda de pesquisas eleitorais para partidos políticos e o autofinanciamento de parte de seus levantamentos. “É a nossa divulgação. A gente tinha um cliente com quem eu registrava as pesquisas nacionais e eu não quis ficar três semanas sem pesquisa nenhuma de Brasil”, defende Murilo Hidalgo, diretor do instituto. Ele menciona que contratos com partidos políticos e autofinanciamento também ocorrem entre outras empresas do setor.

As sondagens do Paraná Pesquisas apontam menor vantagem de Lula sobre Bolsonaro, e até mesmo um empate técnico dentro da margem de erro, destoando das previsões dos concorrentes. “Faltam poucos dias (para as eleições) e vamos ver qual das empresas usou a metodologia mais certa. Isso não significa que uma empresa está sendo tendenciosa com um candidato ou outro”, afirma.

A presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel) Mara Telles explica que as pesquisas eleitorais também podem ser usadas como elementos de campanha. “Elas produzem um reforço psicológico e, assim, podem impactar na abstenção ou levar ao voto útil”, afirma.

Mara enfatiza, porém, que além das pesquisas fake, a simples propagação de informações falsas a respeito de pesquisas legítimas pode afetar a tomada de decisão do eleitor. “Está circulando no WhatsApp uma informação, que teria sido divulgada no Jornal Nacional, sobre o resultado da pesquisa do Ipec de forma totalmente invertida”, exemplifica. “A pesquisa pode não ser falsa, mas a comunicação dela é”.

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