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Traduzindo a política

Opinião|Presença de Tarcísio na disputa presidencial de 2026 hoje só depende do desempenho de Lula até lá

Pesquisa mostrou força do governador de São Paulo, que já indicou que só deixará de pensar na reeleição para cogitar voos mais altos se o presidente deixar de ser favorito mesmo com a máquina na mão

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Foto do author Ricardo Corrêa

Os dados da pesquisa Genial/Quaest revelados na última segunda-feira, 13, sobre a disputa presidencial de 2026 reforçaram a percepção de que, hoje, a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na corrida ao Planalto depende mais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Explico: Tarcísio já está consolidado na direita, seus números são melhores do que o esperado para o momento e, confortável em uma disputa pela reeleição, ele só aceitará concorrer à Presidência se, de hoje até 2026, Lula não conseguir recuperar popularidade e entrar no ano eleitoral com reais chances de perder.

Tarcísio hoje pensa em reeleição, mas reavaliará posição se Lula entregar-lhe o favoritismo com uma piora na popularidade até lá Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

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Tarcísio não esconde de ninguém que não tem pressa para concorrer nacionalmente. Pragmaticamente, ele tem resistido às tentações de bolsonaristas para se lançar ao Planalto pois sabe que, em um cenário normal, um presidente com a máquina na mão só perde a eleição se fizer muita coisa errada até (e) na campanha. Assim fez Bolsonaro, que tinha avaliação muito pior e, mesmo assim, quase venceu. Hoje, Tarcísio se vê disputando a reeleição ao governo paulista, e assim tem sido aconselhado por aliados menos afoitos e menos bolsonaristas.

Não se pode negar, porém, que os números do governador de São Paulo são vistosos, muito além dos importantes 40% que soma, contra 46% de Lula no cenário de disputa de segundo turno entre os dois, como mediu a Genial/Quaest. Se olharmos os dados estratificados, perceberemos que, entre os que conhecem o governador, ele aparece à frente: 50% contra 41% dos que votariam em Lula. A vantagem do presidente está justamente no percentual que não sabe quem é o governador de São Paulo: 55% a 24%. Impulsionado pela rejeição ao petista, Tarcísio já lidera em todas as regiões, com exceção do Nordeste.

A pesquisa também mostrou que, na direita, hoje, Michelle Bolsonaro tem, numericamente, mais eleitores dispostos a votar nela: 33% contra 28% de Tarcísio. Contudo, com uma rejeição bem maior (50% a 30% de Tarcísio) e uma taxa de desconhecimento bem menor (15% contra 39% dele). Além disso, o próprio Bolsonaro tem dito publicamente que a esposa não tem a experiência suficiente para ser presidente, e os filhos do ex-presidente torcem o nariz para a ex-primeira-dama. Confiam mais na fidelidade de Tarcísio do que na dela, apesar do casamento e do sobrenome.

Há na direita outros nomes, como Ronaldo Caiado (União Brasil), que já se colocou publicamente com esse interesse, além dos citados Romeu Zema (Novo) e Ratinho Júnior (PSD). Mas mesmo esses reconhecem que, se Tarcísio quiser ser o candidato, está hoje na frente na fila. Contra cada um deles há pormenores na relação com Bolsonaro, enquanto Tarcísio é elogiado publicamente por seu papel na fidelidade pública e é reconhecido pelas ações nos bastidores, sobretudo no diálogo com um Judiciário hostil. Caiado brigou com Bolsonaro na pandemia (embora hoje estejam de bem). Sobre Zema, o ex-presidente já disse que o apoio tardio em Minas (que o governador só deu no segundo turno, quando estava já reeleito) pode ter sido preponderante para a derrota para Lula. Quanto a Ratinho, o fato de ser do partido de Gilberto Kassab, hoje considerado um dos maiores inimigos do ex-presidente, joga contra. Curiosamente, é o estrategista Kassab quem pode e tem aconselhado Tarcísio de que, primeiro, deve pensar na reeleição em São Paulo. Presidência só se Lula entregar o favoritismo de bandeja até 2026. Afinal, na política vale a máxima de que cavalo selado quando passa deve ser montado.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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