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As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Disputa na Petrobras revela 4 lições sobre governo Lula e coalizão no Congresso

Futuro de Prates segue em aberto; mas briga pela presidência da empresa ajuda a entender pragmatismo de Lula e sua relação com ministros e aliados no Congresso

Foto do author Silvio Cascione

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está em xeque. Ainda não se sabe se Lula o manterá, e por quanto tempo; há muitos interesses em jogo, e o Planalto tenta evitar decisões precipitadas em meio à guerra de versões nos jornais e redes sociais.

Jean Paul Prates balança no comando da Petrobras em meio a atritos no governo Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mas, para além da disputa sobre o cargo em si, esta é uma boa oportunidade para analisar algumas peças importantes do governo. É nesses momentos de instabilidade, de desequilíbrio, que algumas características importantes ficam mais evidentes.

A influência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad

O ministro mantém o protagonismo na política econômica, blindado (por ora) de detratores, graças ao bom desempenho do mercado de trabalho e da arrecadação de impostos. Com cacife de Fernando Haddad em alta, Lula tem se aconselhado com ele para tomar uma decisão sobre a Petrobras. Haddad oferece um contrapeso às pressões de Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) e já ouve apelos de setores do PT e do Congresso para assumir um papel mais central na articulação política do governo.

O calcanhar-de-Aquiles de Lula no Senado

Lula conseguiu formar uma base no Congresso, isolando a oposição bolsonarista, mas, para isso, depende do apoio de muitos senadores centristas. Nesta semana, em votação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o governo ficou a um voto de ser derrotado no projeto que aumenta a faixa de isenção do Imposto de Renda. Esse foi o exemplo mais recente de que Lula não pode virar as costas para senadores. Por isso, Silveira consegue colocar tanta pressão em Prates, mesmo que ele conte com o apoio de parte importante do PT, como os sindicalistas.

O pragmatismo de Lula

O presidente tem suas convicções, como a ideia de que a Petrobras precisa investir mais e gerar mais empregos sem priorizar a remuneração aos acionistas. Ainda assim, o processo de tomada de decisão de Lula continua pragmático, como já foi em seus mandatos anteriores. Lula assiste aos embates dentro do governo, ouve opiniões distintas, e só então arbitra os conflitos, pensando nos efeitos que essas decisões podem ter sobre o governo de forma mais ampla. Em muitos casos, Lula aceita voltar atrás, como parece inclinado a fazer no caso dos dividendos extraordinários da Petrobras.

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A nova realidade da Petrobras

Falar em crise na estatal é um exagero se compararmos com o que aconteceu na década passada. A empresa tem tido resultados operacionais e financeiros positivos. Além disso, a irritação de Lula com Prates tem a ver, em parte, com as barreiras à intervenção política que foram erguidas nos últimos anos. A pressão política ainda será forte, e terá efeitos sobre a carteira de investimentos da estatal e sobre decisões estratégicas. Mas é bem mais difícil e custoso, hoje em dia, alinhar a estatal aos interesses do governo. Se Prates for demitido, qualquer um que assuma a empresa terá que lidar com as mesmas restrições, e estará exposto a críticas parecidas com as que Prates vem recebendo – de que poderia fazer mais.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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