BRASÍLIA – O agora ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, fez um breve pronunciamento, na tarde desta sexta-feira, 15, no qual disse ter dado “o melhor” durante o pouco tempo em que permaneceu na pasta. Teich pediu demissão por divergências com o presidente Jair Bolsonaro, mas, no discurso de seis minutos, foi protocolar e evitou abordar o motivo pela qual decidiu deixar o cargo, embora tenha deixado claro ter sido uma escolha sua.
“A vida é feita de escolhas e eu hoje escolhi sair. Dei o melhor de mim nesses dias em que estive aqui”, afirmou o médico logo no início de seu discurso. Teich também disse que havia aceitado comandar o Ministério, no mês passado, por achar que poderia contribuir. “Não aceitei o convite pelo cargo. Aceitei porque achava que podia ajudar as pessoas”, argumentou.
No pronunciamento, o ex-ministro fez um aceno a governadores e prefeitos ao lembrar que o sistema público de saúde no Brasil divide atribuições entre União, Estados e municípios. Interpretações divergentes sobre maneiras de enfrentar a crise sanitária têm marcado a queda de braço entre Bolsonaro e governos locais. Teich fez uma única menção a Bolsonaro, quando o agradeceu por tê-lo escolhido para a função.
“A missão da saúde é tripartite. Envolve Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde). O Ministério da Saúde vê isso como algo verdadeiro e essencial para conduzir o país na parte da estratégia e de execução. Realço a participação do ministério no Conass e no Conasems”, disse.
Ao tomar posse, em 17 de abril, Teich avisou que estava diante do maior desafio de sua carreira como médico e que sua gestão teria como foco “as pessoas”.Ao sair, disse ter deixado pronto um plano de trabalho para auxiliar no combate a pandemia no País.
Como revelou o Estadão no início da semana, no entanto, conselhos de saúde que representam Estados e municípios rejeitaram a nova diretriz do Ministério da Saúde sobre distanciamento social, principal promessa de Teich ao assumir a pasta para rever a estratégia de combate a covid-19. Segundo gestores do SUS ouvidos pela reportagem, o argumento mais forte para não dar apoio às regras é que seria inoportuno lançá-las em meio ao aumento de casos e mortes pela doença.
Lockdown
Até recentemente, Teich evitava criticar as medidas de isolamento social e de restrição de circulação de pessoas adotadas por Estados e municípios. Ele também chegou a defender o chamado lockdown em casos específicos. Dizia, porém, que qualquer iniciativa deveria estar baseada em “dados sólidos”. Gestores locais manifestaram resistência às diretrizes traçadas pela pasta para combater a pandemia.
Bolsonaro monitorou de perto a atuação de Teich no ministério. Selecionou militares para funções auxiliares do ministro. O principal deles, o general Eduardo Pazuello, assumiu o cargo de secretário-executivo. Assim como o correu com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, divergências sobre a aplicação da substância hidroxicloroquina em pacientes com o novo coronavírus também marcam a demissão de Teich.
Desde que assumiu o cargo, Teich tinha ressalvas quanto ao uso irrestrito do medicamento. Embora estudos científicos não apontem sua eficácia, Bolsonaro defende o medicamento mesmo para pacientes com sintomas leves.
Ainda na gestão de Mandetta, o Ministério da Saúde havia editado protocolos para pacientes internados em estado moderado ou grave. A droga pode causar efeitos colaterais graves, como parada cardíaca. Esse é um dos motivos para a resistência da comunidade científica em recomendar a hidroxicloroquina sem acompanhamento médico.