CAMPINAS - As testemunhas de acusação ouvidas na primeira audiência de julgamento do Caso Sanasa, em Campinas, iniciado nesta sexta-feira, 25, confirmaram que tinham conhecimento de um suposto esquema de fraudes em contratos públicos da cidade. No banco dos réus, pela primeira vez, estavam o vice-prefeito cassado Demétrio Vilagra (PT), a ex-primeira-dama Rosely Nassim dos Santos, os ex-secretários da prefeitura Carlos Henrique Pinto e Francisco de Lagos, o ex-diretor de Planejamento Ricardo Cândia e o ex-presidente da Sanasa Luiz Castrillon de Aquino. Eles são acusados pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção.
O início do julgamento ocorre um ano após ser deflagrada a operação que levou 11 pessoas para a cadeia, entre empresários, lobistas e membros do Executivo, e culminou com a cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) e de seu vice. Em quase oito horas de depoimento, foram ouvidos um funcionário do Ministério Público, um delegado que participou das investigações, seguranças e motoristas dos acusados.
A audiência, no Fórum de Campinas, começou com o depoimento de um agente do Ministério Público que participou das investigações. Ele afirmou que nas apurações foi descoberta uma grande evolução patrimonial do sogro do ex-secretário Henrique Pinto, que declarou ter ganho 40 vezes na loteria. O ex-secretário negou qualquer relação financeira com o sogro e afirmou que todos seus rendimentos foram declarados.
Os ex-seguranças dos lobistas Emerson Oliveira e Maurício Manduca também confirmaram que havia um esquema de fraudes em contratos relacionados com a ex-primeira-dama.
O segurança Marcelo Wagner Teixeira declarou que transportava dinheiro do empresário José Carlos Cêpera, alvo inicial das investigações que resultaram no Caso Sanasa, para os lobistas e o ex-presidente da Sanasa, delator do esquema. A divisão era feita em reuniões e Aquino dizia que era dinheiro para a "Prefeitura de Campinas". Ele também confirmou o suposto comando do grupo por parte da ex-primeira dama.
Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), um grupo de servidores, empresários e lobistas que teria como cabeça a ex-primeira-dama teria desviado recursos da empresa de saneamento e da prefeitura por meio de fraudes.
A próxima audiência será em 3 de agosto, quando serão ouvidas 32 testemunhas da defesa. O juiz da 3ª Vara Criminal, Nélson Augusto Bernardes, prevê que o processo seja julgado até o final do ano.
Ameaças de morte. Uma das testemunhas convocadas para depor pela acusação, o empresário Ilário Bocallato, chegou ao fórum escoltado por policiais civis após receber ameaças de morte na manhã desta sexta-feira. Quatro ligações o ameaçaram, que durante as investigações afirmou ter recebido cobrança de propina por parte dos acusados. No depoimento desta sexta, ele afirmou que numa conversa com a então primeira-dama foi orientado a procurar o ex-diretor de Planejamento da prefeitura para resolver uma dívida de IPTU e que este teria cobrado propina para solucionar o problema.