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Acidente na Mogi-Bertioga mata 18; delegado apura excesso de velocidade

Vítimas são 17 estudantes de duas universidades e motorista de ônibus. Perícia deve indicar se houve falha humana ou mecânica; empresa defende condutor e afirma que fretado estava regular e trafegava a 41 km/h. Não havia neblina no local do desastre

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Por Redação
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Parentes e amigos das vítimas no IML do Guarujá: trecho era um dos mais perigosos da Mogi-Bertioga Foto: ROGERIO SOARES/ A Tribuna de Santos/

SÃO PAULO - Um ônibus da União Litoral, com 46 pessoas a bordo, tombou às 22h45 desta quarta-feira, 9, na Rodovia Mogi-Bertioga e caiu de um barranco. O motorista e 17 estudantes das Universidades de Mogi das Cruzes (UMC) e Braz Cubas (UBC) morreram no local e outros 16 passageiros tiveram de receber atendimento médico – ao menos um continuava internado em estado grave. A Polícia Civil acredita que o excesso de velocidade, causado por falha mecânica ou imprudência, foi o principal fator na tragédia.

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O acidente aconteceu no km 84, no limite entre Mogi das Cruzes e Bertioga. O ônibus era um dos alugados pela prefeitura de São Sebastião para levar os estudantes gratuitamente para as universidades de Mogi das Cruzes. Segundo informações dos bombeiros, o veículo perdeu o controle, colidiu de frente com um rochedo na pista contrária, se arrastou na pista e caiu em uma ribanceira. Trata-se de um trecho de serra, com histórico de acidentes, declives acentuados e quase sem iluminação. No ponto do tombamento, a rodovia não tem defensas metálicas. 

O delegado Fábio Pierre, da Delegacia de Bertioga, responsável pela investigação, disse ao Estado na noite desta quinta-feira, 9 que está “convencido do excesso de velocidade” do coletivo. “Ou porque o motorista estava correndo demais ou por falha no sistema de freio.”

Na Mogi-Bertioga, motorista perdeu o controle, colidiu com rochedo e caiu em ribanceira; estado do veículo prejudicou a perícia Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Segundo ele, embora a empresa tenha divulgado que o tacógrafo registrava velocidade de 41 km/h no momento do choque, é preciso avaliar o que aconteceu antes. “O ônibus tombou, se arrastou e perdeu velocidade, bateu na vegetação e só então colidiu com o barranco. Creio que nesse momento o velocímetro travou e o tacógrafo registrou a velocidade. Não significa que não estivesse correndo quando tombou. A perícia é que vai dizer.”

Sobreviventes relataram, ainda de acordo com o delegado, que o motorista fez seis curvas jogando o ônibus de um extremo da pista ao outro. “Isso indica que ele tinha o controle do veículo e afasta a hipótese de ter dormido. Ou ele perdeu o controle ou o ônibus ficou sem freios”, afirmou Pierre.

A Secretaria da Segurança Pública informou que foi solicitado exame toxicológico cautelar para o motorista. Já o delegado passou a tarde ouvindo depoimentos. Um irmão do motorista, Anderson da Silva, disse a jornalistas que, pouco antes do acidente, o motorista enviou mensagem de celular à mulher, avisando que chegaria mais tarde, pois havia neblina na estrada. O delegado quer saber se, na hora em que a mensagem foi enviada, o motorista tinha controle do volante. No entanto, quando as equipes de resgate chegaram ao local, os relatos são de que não havia nevoeiro.

Com os grandes danos sofridos, o laudo técnico pode demorar vários dias. “Dá a impressão de que houve um atentado terrorista, parece que uma bomba foi colocada no ônibus. Não dá para entender como algumas pessoas saíram vivas”, disse o delegado à Rádio Estadão.

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A maioria dos alunos dormia no momento da tragédia. O estudante de Engenharia Wanderson da Silva, de 24 anos, disse à TV Vanguarda ter notado “algo errado” momentos antes do acidente. “Ele (o motorista) pediu para colocarmos o cinto e me agarrei com força na poltrona”, contou. Para sair dos destroços, teve de passar por corpos.

Sobreviventes. Estão internados em Santos dois sobreviventes. O caso mais grave é o de Felipe Ferreira da Silva, de 17 anos, que está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa. Ele quebrou uma vértebra e terá de passar por cirurgia na coluna, além de ter sofrido traumatismo craniano e estar com coágulos no cérebro. O adolescente cursa o primeiro semestre de Engenharia Civil na UMC. O outro ferido é o estudante Leandro Amorim Silva, de 22 anos, aluno do terceiro semestre de Psicologia da UMC. O rapaz também sofreu traumatismo craniano, mas tem quadro clínico estável.

Em Mogi estão internados três alunos da UMC: Estefane da Silva Santos, de 19 anos; Deni Koch, de 17; e Miliane Andrade, de 31. Não há previsão de alta para nenhum dos sobreviventes. Nesta quinta, alunos homenagearam os colegas mortos com flores e velas no câmpus da UMC.

A tragédia chocou as duas universidades e as cidades envolvidas e a liberação dos corpos só começou a ser feita no início da noite desta quinta-feira (mais informações na página A18). O presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), declarou estar “chocado”. Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB) acionou uma força-tarefa para a identificação dos corpos e garantiu “todos os esforços para minimizar a dor das famílias”.

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Seguro. A União do Litoral informou que o veículo de prefixo 4.900 havia passado por todas as vistorias de órgãos fiscalizadores e uma manutenção preventiva foi feita há 15 dias. E nega alta velocidade. “Isso seria difícil, já que o trecho é de serra.”

A empresa ainda nega qualquer problema com o motorista. “A pasta profissional dele é exemplar e não há reclamação de alunos.” A União do Litoral informou ainda que acionou a seguradora, que está providenciando sepultamento e auxílio médico. / JOSÉ MARIA TOMAZELA, PAULA FELIX, JÚLIA CORRÊA, FÁBIO LEMOS LOPES, REGINALDO PUPO e LUIZ ALEXANDRE SOUZA VENTURA, ESPECIAL PARA O ESTADO