Caso Leandro Lo: câmeras mostram policial suspeito em boate e motel após morte de lutador

Polícia Civil teve acesso a gravações que mostram o que fez o agente após ter disparado contra o lutador. Defesa ressalta que homem se apresentou à Corregedoria da corporação no mesmo dia

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

Depois de atirar e matar o campeão mundial de jiu-jitsu Leandro Lo Pereira do Nascimento, de 33 anos, na madrugada do último dia 7, no Esporte Clube Sírio, na zona sul de São Paulo, o policial militar Henrique Otávio de Oliveira Velozo foi a uma boate, consumiu bebidas e saiu acompanhado de uma mulher, que ainda levou a um motel da capital paulista.

PUBLICIDADE

As revelações são da Polícia Civil que permitiu acesso a imagens de câmeras de segurança mostrando a trajetória do policial após ter atirado no lutador. Acusado de homicídio doloso, o policial está preso no Presídio Militar Romão Gomes.

As imagens mostram o PM de boné preto na recepção de uma boate em Moema, minutos por volta das 3 horas, pouco depois de ter saído do Sírio, localizado a cerca de dois quilômetros. No local, conforme as comandas obtidas pela Polícia Civil, Velozo consumiu uma garrafa de uísque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin. A conta ficou próxima de R$ 1,6 mil.

Amigos vão ao velório do campeão de jiu-jítsuLeandro Lo, no cemitério do Morumbi, em São Paulo Foto: Marcelo Chello/Estadão

Quase duas horas depois, a câmera registrou a saída do policial militar, acompanhado de uma mulher que, segundo a investigação, seria uma garota de programa.

Ainda segundo a Polícia Civil, o casal seguiu para um motel em Pinheiros, onde chegou por volta das 5h40 e permaneceu cerca de 11 horas. O crime no Esporte Clube Sírio aconteceu por volta das 2 horas. Imagens do circuito interno mostram a movimentação no interior do clube quando teria ocorrido o disparo da arma de fogo. Houve correria do público em direção às saídas.

O advogado Cláudio Dalledone, que defende o policial militar Henrique Velozo, disse estranhar a divulgação pela imprensa de imagens do policial em casas noturnas, "supostamente" depois dos fatos.

"Estas imagens precisam ser juntadas aos autos para que a defesa possa fazer uma análise e, se necessário, até solicitar uma perícia. A defesa não vai permitir que se criem conclusões precipitadas, pré-julgamentos. É preciso ter cautela para que haja um julgamento justo. O policial Henrique Velozo se apresentou à Corregedoria da Polícia Militar após o crime e está à disposição das autoridades policiais", disse, em nota.

Publicidade

O advogado informou ainda que já pediu à Polícia Civil que realize exames complementares no corpo do lutador Leandro Lo. A petição foi endereçada ao delegado do 16º Distrito Policial de São Paulo. Segundo ele, no exame toxicológico já solicitado pela investigação deve ser explicitado se a vítima havia consumido drogas e hormônios.

"A defesa irá acompanhar de forma muito diligente todos os atos de investigação do inquérito policial e ainda realizar uma investigação defensiva para que nenhum factoide e nenhuma lenda assuma a direção deste caso criminal", disse Dalledone. A defesa afirma que o policial agiu de forma defensiva, após ser atacado pelo lutador, que estava na companhia de outros cinco lutadores.

Em outra petição, o advogado pediu a restituição do celular entregue à Polícia Civil pelo PM, alegando que o aparelho "está sendo ilegalmente acessado, modificado e bisbilhotado". 

Dalledone explicou que, ao se apresentar à corregedoria da Polícia Militar, Velozo entregou seu celular e a pistola Glock .380, arma particular registrada, bem como nove munições intactas. Segundo o defensor, a conta da rede social Instagram do policial foi invadida e modificada.

PUBLICIDADE

"A conta, que até então era fechada, foi ilegalmente aberta e publicizada para tudo e todos. Velozo possui duplo fator de autenticação, ou seja, para modificar qualquer detalhe em sua rede social, obrigatoriamente precisa do seu aparelho telefônico e do chip cadastrado (ambos foram entregues para a autoridade policial)", afirmou o advogado.

Família

O advogado da família do lutador, Ivã Siqueira Júnior, lembrou que, via de regra, o inquérito policial é um documento público e pode ser acessado por qualquer cidadão. "Em alguns casos, a autoridade policial ou a Justiça pode colocar sob sigilo para proteção de uma parte vulnerável, por exemplo, ou conforme a conveniência da investigação, mas até o momento isso não aconteceu no caso específico. Então qualquer pessoa, inclusive os jornalistas, podem ter acesso", disse.

Publicidade

Conforme o advogado, os fatos novos divulgados pela imprensa não serão comentados pela família. "Por ora, até em respeito à família, que ainda está muito abalada com o que aconteceu, vamos só reforçar aquilo que já dissemos."

De acordo com testemunhas, o lutador de jiu-jitsu estava com cinco amigos no clube, quando o policial, que também pratica artes marciais, se aproximou e começou uma provocação, pegando as bebidas que estavam na mesa. Leandro reagiu e pediu que ele deixasse o local. Segundo o advogado, durante a discussão, o lutador foi "peitado" pelo PM, por isso o imobilizou com técnicas de jiu-jitsu. Após se afastar, o policial sacou a arma e atirou.

Conforme o advogado, testemunhas relataram que o agressor ainda teria chutado duas vezes a cabeça de Leandro, já caído. O atleta foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, mas não resistiu. Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jítsu por oito vezes. A última conquista, na categoria meio-pesado, foi em 2022; a primeira, em 2012, na categoria peso-leve.

Sobre a divulgação das imagens, a reportagem entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado e ainda aguarda retorno.

PM será julgado como 'assassino', diz governador

Nesta segunda-feira, 15, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disse que "o PM será julgado como um assassino". Garcia respondia a um apelo feito em rede social pela mãe do lutador, Fátima Lo, que pedia a expulsão do acusado dos quadros da PM.

"O policial está preso, já abrimos um procedimento disciplinar, o salário dele já está suspenso e não tenho nenhuma dúvida que vai terminar o processo disciplinar com a expulsão dele que não é policial, é assassino", afirmou ele, em sabatina do Valor, O Globo e CBN.

Publicidade

Henrique Velozo foi indiciado pela Polícia Civil pelo crime de homicídio doloso qualificado por motivo fútil, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que também afirmou que a Polícia Militar abriu uma apuração administrativa para investigar o caso.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.