
São Paulo de 2017 retoma, sem perceber, tempos passados com seus cordões. No início do século 20, o triângulo central e a Avenida Paulista durante o carnaval eram “ocupados” por jovens de classe média, com seus carros, obedecendo a gestos regrados e a coreografias.
A cidade da disciplina e da ordem se divertia aos moldes europeus. A elite sentia-se infernizada por esses cordões que não se harmonizavam com a proposta de “brincar” em salões de clubes fechados, controlados, baseados no de Veneza, com máscaras, bandas bem comportadas dando sentido militar para o carnaval-disciplina. Os cordões foram até citados por Olavo Bilac como “abomináveis cordões bacos”.
Com as transformações provenientes nas últimas décadas dos múltiplos novos movimentos sociais urbanos, conectados pelas redes sociais e que tomaram as ruas em manifestações desde 2013, a consciência de que todos têm direito ao espaço urbano cresceu e mudou a relação dos indivíduos com a cidade e com o carnaval. A alegria de usufruir da cidade que nunca para de trabalhar desvela diversidade de ritmos frenéticos e fragmentados.
As vias fazem parte do cotidiano das pessoas e o desejo e êxito em “ocupar” criou e recriou, além de novas tensões em seus espaços, a transformação das formas de divertimento como o carnaval.
* PROFESSORA DE HISTÓRIA E SOCIOLOGIA DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE