Desmate volta a subir na Mata Atlântica

Após três anos em queda, devastação do bioma mais ameaçado do País perdeu entre 2011 e 2012 área equivalente a 148 Ibirapueras

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Por Giovana Girardi
Atualização:

Após três anos em queda, o desmatamento na Mata Atlântica voltou a subir em 2011 e 2012, chegando ao maior valor desde 2008. É o que mostra o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica divulgado ontem pela ONG SOS Mata Atlântica e pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Hoje, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. O levantamento revela que o bioma mais devastado e ameaçado do País, do qual resta somente 8,5% de vegetação, teve uma perda de 23.548 hectares (o equivalente a 148 Parques do Ibirapuera). A taxa foi 29% maior do que no período anterior (2010-2011) e 23% superior em relação a 2008- 2011. Entre 2008 e 2010, a área desmatada por ano foi de 15.183 ha e, entre 2010 e 2011, de 14.090 ha. De acordo com os autores, o aumento do ano passado foi alavancado por Minas Gerais. Sozinho, o Estado foi responsável por metade do desmatamento do período, ali realizado principalmente para fazer carvão para abastecer fornos de siderúrgicas. Considerando somente as florestas (e não outros tipos de vegetação da Mata Atlântica), houve perda de 10.752 ha no Estado entre 2011 e 2012 - um crescimento de 70% em relação ao ano anterior. Na sequência, Bahia, Piauí e Paraná também tiveram perdas expressivas. É a quarta vez consecutiva que Minas lidera o ranking de perda da floresta. A situação levou a SOS Mata Atlântica a fazer uma denúncia ao Ministério Público de Minas, que assumiu a investigação e descobriu que as supressões florestais eram ilegais. "E, pior, muitas tinham autorização do governo para acontecer, só que eram procedimentos totalmente irregulares", diz Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador das Promotorias de Defesa do Meio Ambiente de Minas Gerais. Foram encontradas situações como destruição de floresta em estágio médio e avançado de regeneração para colocação de eucalipto, funcionamento de empreendimentos sem licença ambiental e intervenção em áreas de preservação permanente para plantio de eucalipto. O Ministério Público entrou com duas ações civis contra dois empreendimentos, colocando até mesmo o governo do Estado como réu. Pediu a interrupção imediata das atividades, a retirada dos eucaliptos e a recuperação das áreas. O primeiro caso já havia sido deferido pela Justiça e ontem o segundo também foi. Ainda cabe recurso. "Era o precedente que a gente precisava para insistir nessa atuação. Estamos passando um pente-fino em outras propriedades e já temos mais cinco inquéritos", diz Pinto. Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, defende que o plantio de eucalipto não precisa ocorrer desse modo. "Mais de 40% do que já foi desmatado do bioma não tem nenhuma atividade econômica, poderia perfeitamente colocar eucalipto ali. O que houve em Minas foi criminoso."História. A Mata Atlântica se espalhava originalmente por 17 Estados. Desde 1985, quando começou a ser feito o monitoramento, perdeu 1.826.949 hectares - o equivalente à área de 12 cidades de São Paulo.

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O Estado de São Paulo, que tem os maiores maciços de remanescentes, teve uma queda de 7% no desmatamento entre 2011 e 2012, tendência que vem aparecendo nos últimos anos. Márcia Hirota, coordenadora do Atlas na SOS Mata Atlântica, pondera que isso ocorre em parte porque já não há muito mais o que derrubar no Estado. "O que resta, em especial na Serra do Mar, está em locais de relevo acidentado", afirma.

Para Mantovani, o desafio em São Paulo, mas também nos demais estados, é aumentar o tamanho desses remanescentes. "O esforço agora é fazer restauração do que foi perdido, permitir a regeneração natural." Pelos cálculos dos ambientalistas, se forem recuperadas áreas em propriedades privadas que deveriam ter sido protegidas por lei, como Reserva Legal ou Área de Preservação Permanente (APP), previstas pelo Código Florestal, poderia ser possível aumentar a mancha florestal até chegar a 30% ou 40% do que havia originalmente.

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