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DNA é esperança para identificar vítimas de prédios

Polícia coletou saliva de parentes das sete pessoas que ainda não tiveram morte confirmada; 14ª e 15ª vítimas foram reconhecidas

Por Bruno Boghossian e RIO
Atualização:

Exames de DNA realizados em fragmentos de ossos e dentes podem ser a única esperança para encerrar a angústia das famílias das vítimas do desabamento de três prédios no centro do Rio, na quarta-feira. A Polícia Civil coletou ontem a saliva de parentes das sete pessoas que ainda não foram identificadas entre os restos mortais encontrados nos escombros dos edifícios. O impacto causado pelo desmoronamento de quase 50 mil toneladas foi tão grande que ainda não foi possível encontrar corpos que pudessem ser reconhecidos. Agentes do Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF) vão comparar o DNA dos fragmentos das vítimas ao material coletado dos parentes para poder encerrar as buscas e declarar oficialmente os óbitos. O resultado da análise deve ser entregue aos investigadores em uma ou duas semanas. Para analisar os restos mortais, os peritos precisam pulverizar os fragmentos de ossos e dentes encontrados pelos bombeiros, a partir de um procedimento que utiliza nitrogênio líquido para preservá-los. O material é dissolvido com enzimas, até que seja possível extrair o DNA de seus cromossomos. "É um procedimento diferente de exames de paternidade, por exemplo, em que todas as pessoas envolvidas estão vivas e o material não está contaminado ou degradado", compara Rodrigo Grazinoli Garrido, diretor do IPPGF. "Com o osso carbonizado ou o material em decomposição, há uma certa dificuldade de extrair o DNA." Os peritos pretendem realizar exames até que todas as vítimas procuradas sejam encontradas. Será montado um banco de dados com as amostras de saliva coletadas. Apesar da dificuldade de extração do DNA, os ossos são a maior esperança para a identificação. "Normalmente, um corpo carbonizado pode guardar ossos em boa qualidade para extração de DNA. Para evitar qualquer problema, preferimos trabalhar com esse material", diz Garrido. Juan e região serrana. Procedimentos similares foram usados nas investigações da morte do menino Juan, morto por policiais em uma operação na Baixada Fluminense, e das vítimas dos deslizamentos na região serrana, no ano passado. Segundo o diretor do instituto de perícia, os exames podem confirmar com certeza quase absoluta a relação de parentesco. "Nós trabalhamos com um índice de no mínimo 99,99%", disse.Restam sete vítimas ainda não identificadas. A família de Daniel Amaral de Souza Jorge não precisará aguardar o resultado dos exames. Ele foi a 14.ª vítima reconhecida, ontem à tarde. O jovem de 26 anos havia se casado um mês antes da tragédia. Ele fazia um curso de informática no Edifício Liberdade.No fim da noite, a catadora de papel Marlene foi identificada pelas impressões digitais. Ela não poderia ser reconhecida por exames de DNA, pois nenhum parente foi encontrado para comparar o material genético.Investigação. A polícia ouviu 19 depoimentos de operários, vizinhos e funcionários que trabalhavam no Edifício Liberdade. A investigação tenta desvendar se o desabamento foi causado por intervenções recentes ou por obras ao longo dos últimos anos. Já a Associação das Vítimas da 13 de Maio - que reúne parentes de vítimas e empresas lesadas pelo desabamento - obteve na noite de domingo a primeira vitória na Justiça. A juíza do Plantão Judiciário Angélica dos Santos Costa determinou que o Estado promova a transferência imediata para local adequado e seguro de todos os bens encontrados. A mesma decisão garante que os corpos e restos mortais das vítimas sejam transferidos, para que os parentes possam identificá-los. / COLABORARAM LUCIANA NUNES LEAL e PEDRO DANTAS

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