Atualizada às 19h04
SÃO PAULO - "A referência da obra era um africano, não um líder político. Queria retratar uma pessoa que não tinha voz e levar para um espaço com publicidade." Foi dessa forma que o artista plástico Rafael Hayashi, de 29 anos, reagiu ao saber que o painel pintado por ele nos "Arcos do Jânio" amanheceu nesta quinta-feira, 12, com um pênis pichado na boca.
Os painéis pintados no Corredor Norte-Sul, ação promovida pela Prefeitura de São Paulo, tem causado polêmica. Além dos muros que cercam o viário, também foram grafitados os espaços em branco nos "Arcos do Jânio", estrutura tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp). A obra de Hayashi entrou na mira de paulistanos indignados, achando que ele tivesse desenhando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.
Devido ao vandalismo no grafite, uma equipe da Guarda Civil Metropolitana (GCM) está de plantão no local. Se não fossem pelos guardas, a obra poderia ter sofrido mais um vandalismo nesta manhã por coletivos contrários à obra. O ativista conhecido como Batman do Capão Redondo, que faz intervenções de rapel ao longo do Corredor Norte-Sul cobrando melhorias na saúde e na educação no extremo sul de São Paulo, pretendia pintar uma bandeira do Brasil sobre o painel.
"Quando eu vi isso fiquei revoltado. Estão homenageando um ditador", afirmou ao ativista. Ele não acredita que o artista plástico tenha desenhado o rosto de um africano. Para ele, a obra é uma homenagem a Hugo Chávez.
"Não quero impor nada para ninguém como um ditador, não é a mesma coisa. Estou fazendo um protesto na cidade que eu vivo", afirmou. Ele promete voltar aos "Arcos do Jânio" e apagar a obra de Hayashi. Na última quarta-feira, pelo Twitter, o prefeito Fernando Haddad (PT) criticou os opositores ao grafite que lembra Hugo Chávez.
"O que preocupa na reação ao grafite é: 1) exigir censura prévia da prefeitura; 2) colocar em dúvida a palavra do artista sobre a sua inteção", afirmou Haddad pela rede social. Procurada, a Secretaria Municipal da Cultura afirmou que "está ciente do ocorrido e que o curador responsável e os artistas que trabalharam na obra vão refazê-la neste fim de semana".
Além do Batman, um grupo conhecido como Revoltados Online também estava presente, na manhã de hoje, em frente à pintura que eles também dizem ser Hugo Chávez. Também havia ativistas de um movimento chamado Impeachment Já, que organiza protestos contra a presidente Dilma Rousseff (PT).