Apesar de contrato bilionário, hospital em Manaus não atende à demanda no combate ao coronavírus

Com contrato de 20 anos no valor de R$ 2,3 bi, Hospital Delphina Aziz precisou de reforços

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Por Álisson Castro
Atualização:

MANAUS - Por meio de Parceria Público-Privada (PPP), o Governo do Amazonas tem contrato válido por 20 anos, no valor de R$ 2,3 bilhões, com o consórcio que gerencia o Hospital Delphina Aziz, unidade de saúde de referência no combate à covid-19 em Manaus. Desde abril de 2013, a gestão estadual desembolsa, por ano, R$ 117 milhões para o consórcio Zona Norte Engenharia, Manutenção e Gestão de Serviços S.A (SPE). Apesar dos altos valores, a unidade de saúde, localizada na zona norte da capital amazonense, mostrou-se ineficaz para atender à demanda de pacientes com o novo coronavírus.

Movimentação no cemitério Parque de Manaus. Na foto, coveiros chegam de moto. Foto: Foto: SANDRO PEREIRA/FOTOARENA

Para contornar a situação, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam) precisa realocar leitos de outras unidades para atender pacientes com o vírus. Por causa da deficiência do hospital, o Estado ainda foi obrigado a alugar um prédio em uma faculdade particular de Manaus para atender infectados com a covid-19 ao custo de R$ 2,6 milhões. Outro reforço aos serviços do hospital foi anunciado pelo Ministério da Saúde, no último dia 8, ao confirmar o envio de 110 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adultas à unidade de saúde. O custo total é de R$ 15,8 milhões aos cofres da União. O contrato bilionário com o consórcio Zona Norte Engenharia, que encerra apenas em abril de 2033, prevê concessão administrativa para a construção, fornecimento de equipamentos, manutenção, aparelhamento e gestão dos serviços não assistenciais do Delphina Aziz. Na última semana de abril, a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE-AM) emitiu nota de esclarecimento para cobrar do governo estadual providências para colocar em funcionamento 30 leitos de UTIs no quinto andar do hospital.

Ato dos Enfermeiros de Manaus, no Dia Internacional do Enfermeiro, no largo São Sebastião na manhã desta terçaa-feira (12), no centro da cidade de Manaus (AM). Os enfermeiros seguravam fotos de colegas que morreram por Covid-19 no exercício da função e fizeram um minuto de silêncio em homenagem a esses trabalhadores da saúde. Foto: Foto: SANDRO PEREIRA/FOTOARENA

Outra manifestação sobre a gestão da unidade de saúde foi realizada, no último dia 30, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (Cremam), quando a entidade fez uma fiscalização e visita técnica na unidade hospitalar e constatou a necessidade de implantar mais leitos para pacientes de moderada a alta gravidade da doença. Apenas na atual gestão do governador Wilson Lima (PSC), a PPP gestora do hospital já recebeu R$ 74 milhões para manter o funcionamento do Delphina Aziz. Em nota, a Susam afirmou que, antes da pandemia, o contrato do Governo do Amazonas com a Parceria Público-Privada (PPP) previa o aumento gradual no número de leitos. Sendo pago proporcionalmente, conforme o quantitativo de leitos existentes. “Hoje, com 100% da sua capacidade, foi feito um termo aditivo para a realização do pagamento total, conforme valor contratual previamente autorizado pela Susam”, diz o texto.

Fila na Caixa Econômica Federal no centro de Manaus (AM). Foto: SANDRO PEREIRA/FOTOARENA

Ainda segundo a pasta, não foram adquiridos novos equipamentos e sim feita a realocação, em virtude da necessidade de ampliação de leitos de UTI e leitos clínicos, previstos no termo aditivo firmado entre as partes, para que o hospital chegasse a 100% da sua capacidade. “A realocação desses equipamentos foi feita por conta da dificuldade em adquirir os mesmos, por conta da procura ocasionada pela pandemia". A Susam explica, também, que a PPP é responsável pela execução de todos os serviços, conforme definido em contrato, como manutenção de equipamentos e manutenção hospitalar — infra-estrutura, serviços meios, Centro de Material e Esterilização (CME).

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