Cercada pelo coronavírus e sem um caso confirmado, Lagoinha reforça isolamento

A 190 km de São Paulo, o município é o mais próximo da Capital entre as 40 das 645 cidades do Estado que ainda não tiveram casos de covid-19

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Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Um carro de som circula diariamente pelas ruas pacatas de Lagoinha, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, conclamando os 4.954 moradores a não saírem de casa. “Não saia, nem para ver o carro passando”, apregoa o locutor, enquanto orienta sobre lavar as mãos e usar máscara. A cidade é a mais próxima da capital entre os 40 dos 645 municípios do Estado que ainda não tiveram casos de coronavírus. A prefeitura e os moradores se desdobram em cuidados para evitar a entrada do vírus.

Sem casos, a pequena Lagoinha, no interior de São Paulo, é como uma ilha cercada por cidades com alta incidência de coronavírus Foto: Divulgação/Prefeitura de Lagoinha

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A 190 km de São Paulo, Lagoinha pode ser comparada a uma ilha, cercada de coronavírus por todos os lados. As vizinhas Taubaté, com 464 casos e 16 óbitos, e Guaratinguetá, 136 casos e quatro mortes, têm alta incidência da covid-19. Na mesma região, nem a também pequena São Luiz do Paraitinga, com seus dez mil moradores, escapou do vírus. Já são 20 casos e uma morte por lá.

Para evitar deslocamentos a outras cidades, a prefeitura de Lagoinha lançou uma campanha junto ao comércio, que passou a oferecer facilidades aos consumidores durante a pandemia. Dono de uma padaria na praça da matriz, o comerciante José Fábio Soares limitou o atendimento a duas pessoas por vez, mas manda entregar o pão quente e outras encomendas na casa dos clientes. “A gente pede que eles fiques em casa e fazemos a entrega com todo o cuidado. Usamos álcool em gel direto, higienizamos as embalagens, tudo para que não haja risco.”

Casado e pai de dois filhos, Soares está há 12 anos na cidade, mas parte da família mora em Pindamonhangaba, outra cidade da região onde a covid-19 já se espalhou – são 113 casos e oito óbitos. “A gente se sente mais seguro aqui, por isso só vejo minha mãe uma vez por mês. Tenho dois irmãos lá que fazem companhia a ela, que está em grupo de risco, pois tem 66 anos.” Seu comércio é considerado essencial, mas a prefeitura abriu outras atividades comerciais, inclusive barbearias com hora marcada. “Foi preciso porque o pessoal estava sem renda, mas o risco também aumentou”, disse.

O prefeito Tiago Magno (PR) conta que foi montada uma força tarefa com órgãos de saúde e secretarias municipais para formar uma espécie de escudo ao redor da cidade. “Temos barreiras sanitárias nos fins de semana para abordar quem chega. Obrigamos o uso de máscara e fazemos a desinfecção diária das unidades de saúde, prédios públicos e das principais ruas para manter o vírus longe.” 

Como a cidade não tem hospital, casos graves têm de ser mandados para Taubaté, a 50 km, mas o prefeito diz que as unidades de saúde estão bem equipadas. “Embora sem estrutura de UTI, mantemos três respiradores para uma possível emergência.”

Além de Lagoinha, outras três cidades do Vale do Paraíba ainda não têm coronavírus, todas na divisa com o Rio de Janeiro: Silveiras, Areias e São José do Barreiro. No Vale do Ribeira, região sul do Estado, apenas a cidade de Iporanga ainda não registra casos. Outras 13 cidades sem casos estão na região oeste paulista, na divisa com Mato Grosso do Sul. Entre as 40 ainda não atingidas pelo vírus, apenas duas têm mais de dez mil habitantes: Riolândia (12.518) e Cardoso (12.318).

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