Cirurgias cardíacas são canceladas após quebra de equipamento em hospital de SP

Há casos de internados que aguardam já há três semanas; direção do hospital diz que nova serra cirúrgica foi adquirida, mas ainda não foi entregue

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Por Ítalo Lo Re
Atualização:

A virada de ano do professor de história Antônio José da Silva, de 56 anos, não saiu como o esperado. Com fortes dores no peito, ele foi internado às pressas no último dia 3 no Hospital do Servidor Público Estadual (HPSE), zona sul de São Paulo. Os exames apontaram que uma de suas artérias está com mais de 97% de obstrução. “O médico disse que teria de realizar uma cirurgia de ponte de safena, senão corria o risco de enfartar”, diz. Duas semanas depois, a operação ainda não foi realizada.

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Pacientes e familiares de internados no hospital afirmam que cirurgias cardíacas estão travadas desde que uma serra cirúrgica, usada para cortar ossos do tórax durante os procedimentos, estragou. Há casos de pessoas que aguardam a operação há pelo menos três semanas, uma vez que nem todos que estavam na fila de espera foram atendidos antes de o equipamento ficar inutilizado.

A direção do hospital diz que procedimentos com a serra foram realizados até o último dia 12 e que um novo equipamento foi adquirido em outubro, mas ainda não foi entregue. Afirma também ter determinado o atendimento de casos de cirurgias cardíacas eletivas que necessitam do uso de serra sagital (nome técnico do equipamento) em outros hospitais.

Antônio José da Silva está internado desde o início do mês. Foto: Arquivo pessoal

“Não deram estimativa de quando o equipamento deve chegar, então tenho de ficar aqui, aguardando”, afirma Antônio. Morador de São Carlos, a mais de 200 km da capital, o professor está sozinho no hospital e espera fazer a operação pelo menos até o fim do mês. “Se eu não fizer com uma certa rapidez, posso enfrentar um problema maior.”

Segundo ele, só na ala em que está internado há pelo menos cinco pacientes esperando em situação similar. “Assim como eu, eles não podem receber alta, porque correm risco de vida sem a cirurgia”, afirma o professor. O número total de pessoas na fila de espera não foi informado à reportagem pela direção do hospital.

Internado há dois meses no hospital, o aposentado Ismael Campos, de 61 anos, recebeu a indicação de que teria de fazer uma cirurgia de troca de válvula no coração há três semanas. Ele entrou na fila de espera e a operação foi marcada para o último dia 13. Um dia antes, porém, a serra quebrou.

Desde então, o paciente também não recebeu previsão de quando a cirurgia irá ocorrer. “O caso do Ismael é mais específico ainda, pois é uma reincidência cirúrgica”, diz a mulher do paciente, Regina, de 56 anos. O casal mora em Bragança Paulista, no interior. “Estamos sem saber quando vamos voltar para casa.”

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Riscos

O caso é parecido com o da aposentada Maria José Moreira, de 74 anos. Internada há quase quatro meses, ela teve uma cirurgia do coração agendada para a última semana. No entanto, a operação foi cancelada por causa dos problemas com a serra cirúrgica. Com quadro agravado pela obesidade, Maria é mais uma na fila de espera.

“Hoje ela vive ‘ligada’ no oxigênio 24 horas (por dia), não pode tirar para absolutamente nada”, diz uma das filhas da paciente, a maquiadora Gisele de Cássia Leite, de 39 anos. “Com isso, vai tendo problemas no pulmão, porque vai sempre juntando água e causa lesões no pulmão. Também pode gerar problemas nos rins, nas pernas, de inchaço e tudo mais.”

“Ela está ficando cada vez mais debilitada, e corre risco de talvez não conseguir aguentar a cirurgia. Em paralelo a todos os problemas, o coração está cada vez mais fraco”, diz Gisele. Ela afirma que familiares de pacientes internados no hospital ficaram apreensivos com o cancelamento das cirurgias.

Além de risco de infecções, por causa da permanência no hospital, o adiamento de cirurgias cardíacas pode coincidir com a piora dos quadros clínicos. Por isso, eles cobram remanejamento rápido dos hospitalizados caso não haja possibilidade de realizar operações no local.

O que diz o Hospital do Servidor

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Em nota, a direção do Hospital do Servidor Público Estadual disse que os procedimentos com a serra cirúrgica foram realizados até o último dia 12, quando, continuou, o equipamento adquirido em outubro do ano passado já deveria ter sido entregue. “Medidas para acelerar o recebimento do material adquirido no ano passado já foram adotadas pelo hospital para regularizar o atendimento.”

A direção da instituição afirmou ainda já ter determinado o atendimento dos casos de cirurgias cardíacas eletivas que necessitam do uso de serra sagital em rede credenciada ao Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iampse). “Todos os pacientes internados seguem sob assistência e cuidados especializados, de acordo com o quadro clínico”, afirma. Em versão inicial do posicionamento, instituição não divulgou a data em que o remanejamento dos internados começaria.

Após publicação de reportagem do Estadão, o hospital disse que dois pacientes seriam transferidos para o Hospital Santa Cruz ainda nesta quinta-feira, 19, e que outros casos estavam sob análise. Nesta sexta-feira, 20, atualizou que o novo equipamento está disponível para operar pacientes e que as cirurgias cardíacas foram agendadas.

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