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'Drive-thru de cloroquina' registra fila para distribuição do medicamento em Belém

A operação é realizada por um plano de saúde local desde o início desta semana; remédio não tem eficácia científica comprovada

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Por Roberta Paraense
Atualização:

BELÉM - Desde o início desta semana, Belém vem registrando filas enormes para o atendimento de pessoas impactadas pela pandemia do novo coronavírus. Mas, desta vez, a fila é de carros e longe dos hospitais públicos da capital. A operação é de um drive thru para entregar um conjunto composto por três medicamentos usados para amenizar os sintomas da covid-19 aos usuários de um plano de saúde local. A corrida pelos remédios - sem eficácia científica comprovada - acontece desde a última segunda-feira, 11.

Walter Martins, de 39 anos, foi ao drive thru para levar os medicamentos Foto: Ísis Margalho/Unimed

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A dispensação do medicamento é feita pela Unimed Belém e atraiu centenas de pessoas logo após a divulgação da entrega dos conjuntos de remédios nas redes sociais. A fila de carros chegou a dobrar o quarteirão da avenida Generalíssimo Deodoro até a entrada do Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN), espaço cedido pela Basílica Santuário e pelo Grupo Intelpark, localizado na avenida Gentil Bittencourt, onde foi montado o posto de distribuição.

O plano estima que cerca de 400 beneficiários são atendidos todos os dias. O medicamento está sendo entregue sem nenhum custo. Porém, o usuário deve apresentar um receituário médico, a carteirinha do plano e um documento de identificação com foto. O drive thru funcionará de segunda a sexta, das 8h às 17h, e no sábado, das 8h às 12h, até o fim do mês de maio.

Ação busca desafogar hospitais

A ação, além de desafogar a procura nos hospitais do plano, que estão superlotados - uma unidade, em Belém, chegou até suspender o atendimento na semana passada -, tem com objetivo atender os pacientes com indicação médica para receber a cloroquina (450mg), a azitromicina (500mg) e a ivermectina (6mg), remédios que, após ter o uso defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), passaram a ficar pouco tempo nas prateleiras das farmácias.

Paula Amaral Lobato, de 50 anos, buscou a medicação para as sobrinhas Foto: Ísis Margalho/Unimed

A Cooperativa também passou a dispensar os medicamentos em outras três unidades de emergência, logo após os atendimentos médicos sinalizar a necessidade do uso. Os usuários de Intercâmbio e teleatendimentos também podem pegar o conjunto de remédios no drive thru, apresentando os mesmos documentos.

Com a receita médica e os documentos em mãos, o administrador Walter Martins, de 39 anos, foi ao drive thru para levar os medicamentos. Na família dele, há seis pessoas doentes. “Não estamos conseguindo comprar esses remédios em lugar nenhum. Eu vim pegar hoje para a minha mãe e para mim. Essa ação é muito boa, garante o tratamento logo”, afirmou.

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Outra usuária que aproveitou para pegar as medicações foi Paula Amaral Lobato, de 50 anos. Ela já foi diagnosticada com a covid-19, mas já recebeu alta médica. “Eu vim buscar para as minhas sobrinhas gêmeas que moram em Moju (interior do Pará) e não tem como estar aqui em Belém”, justificou.

Alerta

O infectologista Marcelo Sobral alerta que os medicamentos, apesar de apresentar uma melhora em alguns quadros clínicos de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus, ainda não receberam aprovação científica. “O uso da azitromicina e da cloroquina vem dividindo opiniões até na classe médica. Alguns profissionais indicam e receitam, outros são totalmente contra, já que, não há estudos nem ensaios clínicos sobre esses medicamentos”, destacou.

O médico também alerta aos efeitos colaterais desses medicamentos. “Apesar de ser defendida e até mesmo estimulada a administração desses fármacos pelos governantes, é preciso observar as reações contrárias. Eles são usados para o tratamento de lúpus e artrite reumatoide”, explicou Sobral. O infectologista também cita problemas com distúrbio de visão, fadiga e alterações cardiovasculares.

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Corrida às farmácias

Em Belém, depois do anúncio do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), de que após a intervenção do Estado as drogarias Extrafarma e Drogasil estariam disponibilizando a venda do medicamento azitromicina, com a apresentação de receita médica, a população correu aos estabelecimentos para comprar o remédio. Em algumas unidades, o estoque acabou após três horas da comercialização.

Na Drogasil localizada na avenida José Malcher, na esquina com a rua Rui Barbosa, centenas de pessoas se espalharam em frente à loja no dia em que o local foi abastecido. O movimento começou por volta das 13h, mas o estoque só chegou às 18h. A fila permaneceu até as 21h. Três viaturas da Polícia Militar (PM) estiveram no local para conter a população. Durante a tarde, dezenas de carros fecharam o cruzamento das vias. Veículos ficaram estacionados nas calçadas. Mesmo com a chuva, algumas pessoas esperaram por 5 horas na fila para comprar o medicamento, comercializados a R$25 (a caixa com cinco comprimidos).

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Justiça

O Movimento Popular Unificado de Belém (MPUB) ingressou na Justiça com uma Ação Civil Coletiva contra o governo do Estado e a prefeitura de Belém para o fornecimento gratuito dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina para o tratamento dos infectados com o novo coronavírus. O Ação foi protocolada na 5° vara da Fazenda Pública dos Direitos Difusos, Coletivos e Individuais da Capital.

O pedido de tutela, em caráter de urgência, pedia que as Secretarias de Saúde do Estado (Sespa) e do Município (Sesma) forneçam os medicamentos à população, diante ao receituário médico. A justificativa é a crise no sistema de saúde pública da capital, que está “tomando proporções alarmantes em decorrência da escalada do número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, levando as redes estadual e municipal a um colapso, visto que quase 100% dos leitos de hospitais e ambulatórios estão ocupados”, dizia o texto.

No Pará, a doença já positivou 10.867 pessoas e provocou 1.063 mortes, de acordo com o último boletim epidemiológico desta quinta-feira, 14.

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