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Lula sanciona lei que libera ozonioterapia; médicos apontam falta de evidências científicas

Conselho Federal de Medicina (CFM) diz que tratamento é ‘experimental’, mas entidade de Farmácia pediu que presidente desse aval ao projeto de lei aprovado pelo Congresso

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Por Pedro Miranda
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que permite a realização da ‘ozonioterapia’ em todo o País. A medida foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira, 7. A ozonioterapia é uma terapia experimental que consiste na introdução do ozônio no corpo por diferentes meios, normalmente misturado com alguns líquidos.

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Em geral, é introduzido pelo reto ou pela vagina ou ainda de forma intramuscular, intravenosa ou subcutânea. O ozônio também pode ser injetado via auto-hemoterapia. Nesse caso, o sangue é retirado do paciente, exposto ao ozônio e, então, reintroduzido.

Embora esteja incluída no rol de práticas integrativas do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, a técnica tinha a utilização restrita a tratamentos específicos nas áreas odontológica e estética. Contudo, nos últimos anos, a aplicação tem sido adotada por clínicas de estética, com a promessa de retardar o processo de envelhecimento, dentre outros usos.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) ressalta que a ozonioterapia “trata-se de procedimento ainda em caráter experimental”, que não possui reconhecimento científico para o tratamento de doenças. A Associação Médica Brasileira (AMB) também é contrária á liberação do procedimento e havia pedido o veto do PL.

Aplicação da ozonioterapia só será permitida por meio de equipamentos regulamentados pela Anvisa.  Foto: Reprodução/Agência Senado

Já o Conselho Federal de Farmácia (CFF) enviou carta ao presidente Lula defendendo a sanção. Os argumentos da entidade são de que a técnica é “segura”, tem “resultados comprovados” e “baixo custo”.

A terapia vem sendo proposta como tratamento para as mais diversas condições, entre elas osteoporose, hérnia de disco, feridas crônicas, hepatite B e C, herpes zoster, HIV-Aids, esclerose múltipla, câncer, problemas cardíacos, Alzheimer, doença de Lyme, entre outras. Não há comprovação científica para nenhum desses usos e, por isso, eles são proibidos.

Na pandemia, a prefeitura de Itajaí (SC) foi uma das que recomendaram o uso da ozonioterapia no tratamento da covid-19 e foi alvo de críticas. Não há evidências científicas sobre a eficácia da técnica contra o coronavírus.

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Conforme a sanção, a técnica será autorizada como um procedimento de caráter complementar, e a lei estabelece algumas condições para aplicação. O tratamento só poderá ser realizado por profissionais de saúde de nível superior, devidamente inscritos nos conselhos de fiscalização profissional.

Texto original autorizava apenas médicos a usarem a ozonioterapia

O Senado havia aprovado o projeto de lei (PL) 1.438/2022, que permite a prescrição de ozonioterapia como tratamento de saúde complementar em todo o território nacional, em 12 de julho.

Inicialmente, o texto original autorizava apenas médicos a aplicarem essa terapia. Mas os deputados modificaram o texto do Senado para permitir que profissionais da saúde de nível superior, incluindo farmacêuticos, também atuem na área.

Órgãos médicos destacam riscos

A aplicação da terapia só será permitida por meio de equipamentos de produção de ozônio medicinal regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou órgão equivalente. Conforme a nova legislação, os profissionais responsáveis pela aplicação da ozonioterapia terão a obrigação de informar ao paciente que o procedimento é de caráter complementar, que não substitui tratamentos médicos convencionais.

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A Sociedade Americana do Câncer alertou, em 2010, que, além de as evidências sobre a eficácia do uso da ozonioterapia contra o câncer serem inconclusivas, o procedimento poderia oferecer perigos.

A Administração de Drogas e Alimentos (FDA, na sigla em inglês), o equivalente nos EUA à Anvisa, havia apontado em 2006 que, quando inalado, o ozônio é um gás tóxico não indicado para uso médico. O órgão regulador também sustenta que, para o ozônio ser eficiente como germicida, teria que ser administrado em quantidades tão altas que seria letal para os próprios seres humanos.

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