A escassez de oxigênio hospitalar nas unidades de saúde públicas e privadas de Manaus em janeiro e fevereiro ganhou escala nacional por meio de várias vozes. Uma das mais potentes foi a da psicóloga Thalita Rocha que denunciou a morte da sogra, a aposentada Maria Auxiliadora da Cruz, de 67 anos, no dia 14 de janeiro. Foram seis dias de internação no Serviço de Pronto Atendimento e Policlínica Dr. José Lins, em Manaus (AM). “Minha sogra não faleceu pela covid-19. Infelizmente, ela morreu por falta de ar”, corrige a nora Thalita Rocha. “Se não fosse a falta de oxigênio, ela podia ter sobrevivido', diz.
O desabafo foi dado em um vídeo dramático que ganhou escala mundial. O jornal britânico The Guardian fez um minidocumentário com sua trajetória. “Pessoal, peço misericórdia. É uma situação deplorável. Acabou oxigênio em toda a unidade de saúde. Há muita gente morrendo. Quem tiver disponibilidade de oxigênio, por favor traga", pedia Thalita.
Depois do luto, a psicóloga de 37 anos conseguiu transformar a dor em energia para ajudar outras pessoas que viveram o mesmo drama. À frente do Instituto People, consultoria de desenvolvimento humano e organizacional, ela foi atrás da sua lista de clientes formada por empresários da região. Formou um grupo de 20 voluntários que ajudam diretamente ou participam de arrecadações para a compra de cilindros de oxigênio.
A ajuda é mais do que necessária. Um cilindro custa entre R$ 1.800 e R$ 2.800. Thalita chegou a comprar um cilindro de oxigênio por R$ 3 mil para ajudar a sogra. O problema é que o equipamento dura, em média, 12 horas, conforme a intensidade de uso. A recarga saiu por R$ 400. O oxigênio hospitalar é essencial para o tratamento de pacientes que, como Maria Auxiliadora, desenvolvem quadro grave da covid-19.
No meio dessa luta, Thalita ainda perdeu o sogro, Paulo Jorge de Lima, no dia 14 de fevereiro, também para a covid. Embora o auge da crise tenha sido superado, a situação ainda está longe de se normalizar em Manaus. A psicóloga recebe diariamente pedidos de ajuda.