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Tempo de espera por transplante de coração em casos graves, como o de Faustão, varia de 2 a 6 meses

Pacientes internados com uso de medicação intravenosa ou em aparelho de circulação extracorpórea têm prioridade na fila de espera por órgão, explica cardiologista

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli

Embora o tempo médio de espera por um transplante de coração no Brasil chegue a 18 meses, em casos de maior gravidade, como o do apresentador Fausto Silva, mais conhecido como Faustão, a fila pode ser um pouco menor. Em tratamento para insuficiência cardíaca desde 2020, ele está internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o dia 5 de agosto e foi incluído na fila do transplante, conforme boletim médico divulgado no domingo, 20.

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De acordo com a cardiologista Carolina Casadei dos Santos, especialista em insuficiência cardíaca e transplante cardíaco filiada à Sociedade Brasileira de Cardiologia, os pacientes com quadros mais graves, que estão internados porque o tratamento domiciliar não é mais suficiente, têm prioridade na fila. Mesmo entre este grupo, também há níveis diferentes de priorização.

“Quando o tratamento com medicamentos em casa não tem mais efeito e o quadro se agrava, o paciente precisa ir para o hospital tomar remédios intravenosos para ajudar a bombear o sangue e ficar internado até que apareça um coração. Em alguns casos mais graves, quando mesmo esses remédios também não são capazes de controlar o quadro, o paciente pode ser colocado em um aparelho como a ECMO (uma espécie de pulmão artificial que faz a circulação e oxigenação extracorpórea)”, diz a médica.

A cardiologista afirma que, de modo geral, para casos graves, nos quais o paciente está internado, o tempo médio de espera pelo coração é de seis meses. Já para os que estão em ECMO, a fila anda um pouco mais rápido pela criticidade do caso: dois meses ou até menos. Segundo boletim médico divulgado pelo Einstein, Faustão está na UTI recebendo medicamentos que auxiliam no bombeamento do sangue, ou seja, se encaixa no primeiro caso.

Coração deve ser transplantado em até quatro horas após a retirada do corpo do doador Foto: Andre Feitosa/FAB

Estimar um prazo exato de espera, no entanto, é tarefa difícil já que a efetivação de um transplante deve seguir uma série de critérios além da data de entrada na fila e da priorização pela gravidade do caso. Esses são dois dos principais pontos considerados pela central de regulação quando surge um doador, mas outros fatores devem ser observados.

Um deles é a compatibilidade de tipos sanguíneos entre doador e receptor, que segue a mesma regra do sistema ABO válida para doação de sangue, mas sem considerar os fatores positivo ou negativo. Ainda na avaliação da compatibilidade, doador e receptor precisam passar por um teste para medir a presença de antígenos e anticorpos que podem aumentar o risco de rejeição. O exame avalia o sistema de antígenos leucocitários humanos (HLA). “Quanto menor o valor, melhor, porque a baixa presença desses antígenos reduz o risco de rejeição”, diz a médica.

Outro fator importante é o peso dos pacientes envolvidos no procedimento. O receptor deve ter um peso que varie no máximo 20% para mais ou para menos em relação ao do doador. Um paciente de 80 quilos, por exemplo, só pode receber um órgão de um doador que pese entre 64 kg e 96 kg. “Uma criança não pode receber de um adulto e vice-versa. Uma mulher de 60 quilos não consegue doar para um homem de 80″, exemplifica Carolina.

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Na definição do receptor do órgão, há que se considerar ainda o tempo que levaria para a estrutura ser transportada. Isso porque, explica Carolina, desde que um coração é retirado do doador, as equipes têm apenas quatro horas para que ele esteja transplantado no peito do receptor. “Então, se o próximo da fila é um paciente de São Paulo, mas o coração está no Acre, é preciso procurar o próximo da fila porque corre-se o risco de não dar tempo e perdermos aquele órgão”, explica.

Carolina afirma que não há um limite de tempo que o paciente pode ficar internado tomando as medicações à espera de um órgão. “Tem alguns pacientes que ficam estáveis, que a medicação controla, outros que podem ter um agravamento. Mas tenho pacientes que esperam há mais de um ano internados por um coração”, diz ela.

Segundo o último relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), com dados até março deste ano, 369 pessoas esperam um coração no País. Se considerada a fila para todos os tipos de órgão, o número salta para 55.386.

Mesmo com a alta demanda, a taxa de recusa de familiares para a doação de órgãos ainda é alta, de 45%, e dificulta a ampliação do programa de transplantes. “No Brasil, a palavra final é da família, que nem sempre sabe da vontade do parente de doar. Sabemos que é um momento difícil, de perda, mas é um ato que pode salvar outras vidas. Então é importante sempre avisar os familiares sobre a vontade de doar”, ressalta Carolina.

Como é feito o transplante de coração

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A cirurgia de transplante de coração demora cerca de cinco horas e exige que equipe e paciente estejam preparados para aumentar as chances de captação adequada do órgão. O órgão é retirado do doador após constatada a morte cerebral e colocado em uma caixa térmica, na temperatura de 4ºC.

Para que ele não se deteriore fora do corpo humano, o órgão recebe uma solução cardioplégica, ou seja, uma substância que promove a parada, de forma controlada, dos batimentos cardíacos preservando a função do coração.

Enquanto o órgão é transportado para o hospital onde será feito o transplante, o receptor já vai sendo preparado pela equipe médica para a cirurgia: ele recebe anestesia geral e é entubado. Para a cirurgia, é feita uma incisão de cerca de 10 centímetros no peito do paciente, o coração doente é removido e o paciente é colocado em um equipamento de circulação extracorpórea até que a cirurgia esteja concluída.

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O coração doado é, então, transplantado para a caixa torácica do receptor e os médicos fazem então a ligação do novo órgão com os vasos sanguíneos do paciente (artérias aorta e pulmonar e veias cavas superior e inferior) em um procedimento chamado de anastomose. O novo coração deve começar a bater logo depois de feita a ligação do órgão com os vasos.

Os maiores riscos do procedimento são rejeição do órgão ou infecções. Para ambos os casos, os médicos administram medicamentos que reduzem o risco desses quadros. A evolução da técnica e dos cuidados pós-operatórios fez o procedimento ter alta taxa de sucesso. “Hoje, a sobrevida depois de um ano é alta, de 85%”, diz Carolina.

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