A palavra pode soar estranha, mas a vaginose bacteriana é um dos problemas ginecológicos mais comuns. Nos Estados Unidos, por exemplo, acomete uma a cada três mulheres, segundo estudo publicado no periódico Obstetrics and Gynecology.
“Trata-se de uma alteração do meio vaginal em que a flora protetora de lactobacilos diminui muito ou desaparece”, explica a professora livre-docente de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Iara Moreno Linhares. Como a flora de bactérias protetoras é o que mantém o pH da vagina ácido e dificulta a proliferação de outros tipos de bactérias, a sua diminuição faz com que as outras, que existiam em menores quantidades, comecem a causar problemas.
Mesmo sem conhecer o termo clínico, é impossível ignorar os sintomas, que incluem um cheiro forte semelhante ao de peixe podre. O odor tende a aumentar durante as relações sexuais e o período menstrual, e geralmente é acompanhado de um corrimento branco ou acinzentado.
Além desses sinais, as bactérias que causam a vaginose bacteriana podem também levar a complicações. As mais conhecidas são a extensão do processo para o trato genital superior, facilitando a inflamação da parte interna do útero e das tubas uterinas; dor ao urinar e infecção urinária. Dependendo da intensidade do processo, as tubas uterinas também podem ser obstruídas, o que levaria a um caso de esterilidade. A chance de complicações durante a gestação ou procedimentos como a colocação de dispositivo intrauterino (DIU), endoscopias ou cirurgias ginecológicas também é aumentada.
Segundo a ginecologista, é difícil estabelecer o tempo de aparecimento dos sintomas depois que a alteração da flora vaginal ocorre, assim como as causas para que haja o desequilíbrio na flora vaginal. “Tem pacientes que têm episódios recorrentes, com uma certa frequência. Mas isso varia de pessoa para pessoa, não se sabe ainda quais são os fatores determinantes”, ressalta.
Existem, no entanto, algumas recomendações que podem ajudar na prevenção da alteração do meio vaginal. Conheça algumas delas:
- Não fazer uso de duchas vaginais: a lavagem deve ser realizada apenas na parte externa, na vulva;
- Para a higiene, preferir sabonetes neutros e glicerinados;
- Não usar perfumes na região genital;
- Preferir vestimentas e roupas íntimas de algodão ou tecidos naturais, evitando os sintéticos e peças muito justas;
- Desenvolver formas de liberar o estresse, que pode influenciar para que ocorram casos de recorrência;
- Dormir sem roupas íntimas, para que a região possa “respirar”.
Além dessas recomendações, é importante manter os cuidados com a saúde em dia: “É preciso que cada mulher faça a sua visita periódica ao ginecologista, que eventualmente poderá verificar a alteração no meio vaginal antes mesmo do aparecimento de sintomas”, pontua Iara.
O diagnóstico é feito pelo ginecologista, associando os sintomas ao exame clínico e a testes laboratoriais. A boa notícia é que o tratamento, feito com antibióticos, é simples e costuma ser bastante efetivo. Os medicamentos podem ser administrados por via oral ou na forma de cremes vaginais.
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