Vício em games: como prevenir, os sinais de alerta e o que fazer diante do problema

Jogos eletrônicos proporcionam vários ganhos a crianças e adolescentes, mas também apresentam grande potencial de dependência

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Por Thaís Manarini
Atualização:

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou recentemente um documento que aborda a relação entre adolescentes e os jogos eletrônicos, chamando a atenção para a necessidade de um consumo consciente. Afinal, o exagero pode resultar em uma condição conhecida como gaming disorder, marcada “pelo uso recorrente e persistente da internet para games, frequentemente com outros jogadores”.

A entidade faz questão de frisar que esse tipo de atividade proporciona diversos benefícios, como:

  • Propõe desafios cognitivos e motores
  • Favorece a autossuperação
  • Facilita amizades, interações e habilidades afetivas
  • Incita o trabalho em equipe
  • Permite o aprendizado sobre ganhar e perder
  • Ensina a importância de persistir
  • Oferece uma experiência mais ativa, ao contrário da televisão

O problema é que, de acordo com os autores do documento, os videogames também têm um forte potencial de dependência. Daí a importância de pais e responsáveis ficarem atentos às crianças e aos adolescentes que costumam jogar no dia a dia.

Comportamentos que merecem atenção

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A SBP conta que o gaming disorder foi oficialmente reconhecido como um distúrbio pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na 11ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-11).

Para o diagnóstico, é preciso identificar um padrão persistente ou recorrente de jogo, além dos comportamentos abaixo por pelo menos 12 meses:

  1. Perda de controle sobre o jogar (relacionado ao início, frequência, intensidade, duração, término e contexto). Nesses casos, o adolescente joga por mais tempo do que tinha planejado e não consegue parar de jogar na hora estabelecida).
  2. Aumento de prioridade dada ao jogar, que se sobrepõe a outros interesses e atividades diárias, como sono, alimentação, estudo e relacionamentos.
  3. Continuidade ou mesmo aumento da atividade de jogar apesar da ocorrência de consequências negativas. Esse padrão é de intensidade suficiente para resultar em prejuízo significativo em nível pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas da vida.

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No documento, os pediatras lembram que alguns instrumentos de rastreamento do gaming disorder foram desenvolvidos nos últimos anos, como um teste que deve ser respondido pelo próprio usuário de jogos. É possível realizá-lo nessa reportagem aqui.

Como tirar apenas benefícios dos games

Pais e responsáveis precisam acompanhar de perto o consumo de jogos digitais. Segundo os autores, é essencial conhecer o contexto dos games, compreender as mensagens contidas ali e avaliar a maturidade do adolescente diante do conteúdo. Além disso, recomenda-se traçar limites para o consumo – evitando exageros.

O documento frisa que é benéfico que os adultos tenham um papel ativo e interessado nos hábitos dos filhos, porque isso pode fortalecer as conexões familiares, enriquecer o aprendizado a partir dos jogos e tornar essa atividade mais segura. Eles sugerem que, enquanto a criança brinca, o cuidador pode dar contexto sobre situações fictícias, sempre comparando-as com fatos da vida real.

Os jogos eletrônicos, quando consumidos de forma consciente e criteriosa, podem fortalecer relações familiares. Foto: Freepik

Ao escolher o jogo, o primeiro passo é confirmar a classificação indicativa. Mas, de acordo com os pediatras, isso não deve substituir o acompanhamento próximo dos cuidadores. “A mera aplicação de proibições e filtros ainda não se mostra tão eficiente como a conversa”, apontam.

O que fazer diante de um consumo preocupante

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Caso os pais reparem que o uso de games passou do limite, e está prejudicando a criança ou o adolescente em diversas esferas, os pediatras aconselham não adotar uma postura de julgamento nem tentar diminuir a relevância dessa atividade para o filho. Eles contraindicam, por exemplo, que se use a palavra “joguinho” para se referir à atividade, já que ela é depreciativa. “Jogar não é perda de tempo”, reforçam os especialistas.

O documento também traz indicações para os próprios profissionais de saúde: além de saber da existência do gaming disorder, eles precisam ser cuidadosos antes de fechar o diagnóstico. Isso porque, se errarem, há o risco de causar tensões na família, tratamento inadequado e estigmas.

Dito isso, diante de um possível transtorno, faz sentido buscar o apoio de um profissional qualificado para uma análise aprofundada da situação e a correta identificação do quadro.

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