Em três anos, entre março de 2020 e de 2023, a covid-19 retirou a vida de 6,8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, foram quase 700 mil mortos nesse mesmo período. Se hoje a humanidade começa a olhar para a frente, e até mesmo a Organização Mundial da Saúde alterou o status da doença no mês passado – agora, ela não é mais classificada como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, passando de pandemia para endemia –, é muito por causa do desenvolvimento científico das vacinas. Os imunizantes foram decisivos para frear a pandemia e, também por isso, eles vieram para ficar no combate ao coronavírus.
“Nós vamos conviver com a covid-19 daqui para frente de maneira muito semelhante à forma como convivemos com o vírus influenza”, afirma o médico pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). O que significa, segundo o especialista, que a covid-19 vai impactar a saúde de todos, fazendo mais vítimas entre os mais vulneráveis. “O caminho para enfrentar esse cenário é a vacinação. Continua sendo a ferramenta mais custo-efetiva para que a gente tenha um bom controle da doença.”
Mesmo com muitas pessoas expostas ao vírus no Brasil e no mundo, seja porque receberam as doses já recomendadas pelos serviços de saúde, seja porque tiveram a doença, a vacinação periódica contra o vírus SARS-CoV-2 é fundamental por dois motivos principais. O primeiro é que mutações virais ocorrem e, por isso, as vacinas precisam estar atualizadas a esse cenário dinâmico imposto pelos vírus. E o segundo, é que com o passar do tempo, a resposta imunológica do organismo humano frente ao coronavírus declina acentuadamente. Os estudos científicos mostram que, mesmo para quem já recebeu todas as doses recomendadas, independentemente das vacinas que foram aplicadas, ou quem já teve a infecção natural, é importante ser dado um reforço vacinal periodicamente para proteção adequada, principalmente considerando as novas variantes que surgem de tempos em tempos.
Em termos de vacinas atualizadas, a plataforma desenvolvida pela Moderna é uma das que permitem maior agilidade, pois foi moldada a partir de uma tecnologia revolucionária. Por serem feitas com base no RNA mensageiro (mRNA), molécula que, de forma resumida, carrega a informação contida no DNA para que as proteínas – moléculas essenciais para a vida – sejam produzidas. A escala de produção dos imunizantes baseados em mRNA é mais otimizada, por tudo ser feito de forma sintética, diferentemente de outras maneiras de se fabricar vacinas, que exigem demoradas culturas celulares, matérias-primas orgânicas, como os ovos, por exemplo.
A Moderna está entrando no Brasil, primeiramente, com a vacina bivalente para covid-19. Esse imunizante é extremamente eficaz e seguro para combater infecções e hospitalizações, garantindo proteção contra a cepa ancestral do coronavírus de 2020 e subvariantes Ômicron. Ela gera proteção, portanto, contra diferentes variantes do SARS-CoV-2. Segundo Marcela de Azevedo, Medical Science Liaison da Adium, é importante esclarecer que as vacinas de mRNA, quando injetadas no corpo humano, não vão provocar nenhuma interação com o DNA da célula. O DNA fica bem guardadinho no núcleo da célula, enquanto o mRNA está em outra parte, no citoplasma celular.
Em termos gerais, ainda é cedo para saber com certeza qual a periodicidade com que novas doses terão de ser administradas na população. Muito provavelmente, o intervalo entre cada aplicação será semelhante ao que ocorre na imunização contra a gripe. “Não para a população em geral, mas principalmente para as pessoas dos grupos vulneráveis”, afirma Kfouri. Segundo o médico, para o restante da população, assim como também ocorre com o vírus Influenza, causador da gripe, haverá a possibilidade de se vacinar no serviço privado. “As pessoas que não estão nos grupos vulneráveis não vão morrer de gripe ou de covid, mas, mesmo assim, é muito ruim ter ambas as doenças”, afirma o vice-presidente da SBIm.
Proteção adicional
Taxas de hospitalização de indivíduos vacinados, porém sem o reforço com a vacina bivalente atualizada*
2,9 vezes mais alta na faixa de 18 a 49 anos
3,3 vezes mais alta entre 50 e 64 anos
2,5 vezes mais alta em pessoas com mais de 60 anos
*Dados válidos para os EUA, segundo sistema de vigilância do CDC