COP de 2025 será em Belém, mas e 2024? Saiba o que a Rússia tem a ver com a indefinição da sede

Dúvida prejudica organização próxima conferência, que não teve sede anunciada até o momento

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Por Paula Ferreira
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ENVIADA ESPECIAL A DUBAI- A menos de uma semana do fim da 28ª Cúpula do Clima (COP-28), em Dubai, só se fala na COP-30, que será em Belém, em 2025. Entre os dois eventos, a 29ª edição passa quase anônima nos painéis e conversas de corredor dos pavilhões onde circulam autoridades internacionais, observadores, e a imprensa.

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A dúvida sobre a escolha pode prejudicar a próxima conferência, que não teve sede anunciada até agora. “A indefinição atrapalha o planejamento para as negociações no ano que vem. O anfitrião não tem só a responsabilidade de sediar o evento, mas também de conduzir o processo de negociação”, explica Bruno Toledo Hisamoto, especialista em negociações climáticas do Instituto ClimaInfo.

“Sem essa definição, seguimos às escuras sobre os caminhos potenciais para as negociações climáticas em 2024″, acrescenta. As conferências são realizadas a cada ano em uma região diferente do planeta. A próxima rodada estava prevista para o leste europeu, mas a guerra entre Rússia e Ucrânia atrapalhou.

Diante do impasse, alguns países começaram a ter os nomes ventilados, como a Moldávia, também no leste europeu. E a Alemanha, onde fica a sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês). Eslovênia e Bulgária também foram cogitadas, mas encontraram oposição da Rússia, que não sinaliza que vai dar apoio a nenhum país da União Europeia.

Lula participou, em agosto, da Cúpula da Amazônia, em Belém, ao lado do governador Helder Barbalho (à dir.).  Foto: AP Photo/Eraldo Peres - 8/8/2023

A escolha do local da COP-29 começou a se desenhar na quinta-feira, 7, quando o Azerbaijão e a Armênia divulgaram comunicado conjunto, no qual esta última renunciou à candidatura em favor do país vizinho. Mas as expectativas começaram a murchar com a hesitação da Rússia em apoiar o nome do país para sediar o evento. É preciso consenso dentro do bloco regional ao qual o candidato pertence para que o local seja confirmado.

A próxima rodada estava prevista para ocorrer no leste europeu, mas a guerra entre Rússia e Ucrânia acabou bagunçando a definição do local Foto: AP Photo/Rafiq Maqbool

No texto divulgado pelo Azerbaijão e pela Armênia, os dois países afirmam que trabalham rumo à construção de um tratado de paz na região, que enfrenta conflito desde 1994. Eles classificam a medida como um “bom gesto” em direção à paz na região e anunciam ainda outras medidas como a libertação de militares presos. O comunicado pede também que as outras nações do leste europeu apoiem a candidatura do Azerbaijão para a COP.

Nesta sexta-feira, em discurso durante painel do Pacto Global da ONU, a ministra dos Povos Indígenas d Brasil, Sônia Guajajara, chamou a atenção para a necessidade de colocar a próxima conferência no radar.

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“A gente está pulando a COP-29, né?”, afirmou ela. “Parece que ninguém está a fim, mas ela faz parte também do caminho que a gente está organizando para chegar bem na COP-30″, disse.

O vácuo de liderança na COP-29 pode deslocar parte da responsabilidade para o Brasil. Não só pelo fato de que o país sediará o encontro seguinte, mas porque o Brasil também pode ser forçado pelas circunstâncias a assumir parte dessa liderança, já que essa será a sua missão em 2025.

O fato de a COP-30, liderada pelo Brasil, ser um marco da revisão das metas de cortes de emissões de gases de efeito estufa - as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) estabelecidas pelo Acordo de Paris - também joga responsabilidade sobre o Brasil.

“A nova meta coletiva de financiamento precisa ser fechada no ano que vem, o que por si só já garante uma COP bem complicada. Provavelmente teremos também a primeira leva de NDCs revisadas, o que deve colocar alguma discussão sobre ambição na agenda da COP29″, explica Toledo.

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O financiamento climático é um dos principais gargalos que precisam ser resolvidos para garantir a contenção do aquecimento global. Os países em desenvolvimento têm pressionado nações ricas para assumir compromissos mais ousados na área.

Ao longo das discussões da conferência deste ano o Brasil tem tentado traçar um caminho que garanta ambições maiores dos países na COP-30. Segundo negociadores da delegação brasileira, o país tenta estabelecer mecanismos que façam com que seja possível obter planos compatíveis com o objetivo de fixar a alta da temperatura global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (meados do século 19).

No texto do Acordo de Paris fala-se em limitar a 2ºC, mas a comunidade científica sabe que esse patamar não é seguro. Uma das ferramentas sugeridas pelo Brasil é de que o texto do balanço global inclua um tópico que “encomende” ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) uma metodologia para orientar a revisão das NDCs dos países.

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A ideia brasileira é que o mecanismo formulado pelo IPCC possa ser usado voluntariamente pelas nações para formular suas metas e aponte se os compromissos assumidos são suficientes para alcançar os objetivos globais de contenção das mudanças climáticas. /COM INFORMAÇÕES DO THE NEW YORK TIMES

*A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade

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