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Fórum Sucroenergético envia carta ao Senado contra cana na Amazônia

O medo do setor é que a exploração de cana na Amazônia possa manchar a imagem do etanol e do açúcar no exterior, prejudicando as exportações; carta pede que não seja aprovado o projeto de lei do senador Flexa Ribeiro

Por Giovana Girardi
Atualização:

O Fórum Nacional Sucroenergético, que reúne 16 entidades do setor canavieiro, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), enviou nesta quarta-feira um ofício ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, solicitando que não seja aprovado o projeto de lei que prevê a autorização de cana-de-açúcar em áreas degradadas da Amazônia.

Museu Emílio Goeldi afirma que plantio de cana tem alta demanda de água, o que pode ser problemático em áreas já degradadas da Amazônia Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO

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O medo do setor é que a exploração de cana na Amazônia possa manchar a imagem do etanol e do açúcar no exterior, prejudicando as exportações. A proposta está em projeto de lei do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e chegou a entrar em pauta na semana passada e no começo desta, mas acabou adiada a sua análise para a semana que vem.

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A mensagem, que já tinha sido dada em um posicionamento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – grupo que reúne o setor produtivo e organizações ambientalistas –, e foi endossado pela Única, agora ganha um tom oficial do setor.

“A entidade defende o cumprimento do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar, estabelecido em 2009 por decreto, e cuja orientação tem garantido o reconhecimento da sustentabilidade da indústria sucroenergética no Brasil e no exterior”, disse a Única em seu site. Essa também foi a posição da carta enviada a Eunício.

“Esse comprometimento, desde então, tem sido atestado pelo governo americano por meio do seu programa de biocombustível Renewable Fuel Standard (RFS) e pela União Europeia, além de certificações internacionais, como Bonsucro. Estas conquistas são fundamentais para preservação do acesso dos derivados da cana aos principais mercados internacionais, colaborando, deste modo, para o desenvolvimento econômico e socioambiental do Brasil”, continua a Única.

A entidade lembra que o zoneamento estabeleceu que uma área de 64 milhões de hectares no País estariam aptos à expansão do cultivo com cana-de-açúcar – excluindo a possibilidade de plantio em áreas sensíveis, como a Amazônia e o Pantanal. 

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Hoje somente 10 milhões são ocupados pela cana. “Ainda assim, se produz 28 bilhões de litros de etanol, 38 milhões de toneladas de açúcar e 21 TWh de bioeletricidade. Portanto, a expansão da produção pode ser feita expandindo área e ou elevando a produtividade em harmonia com o meio ambiente”, defende. Esse dado também foi destacado no ofício a Eunício.

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Ciência. Mais cedo, o Museu Paraense Emílio Goeldi divulgou uma nota técnica em que rebate a possibilidade de plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e defende o cumprimento do zoneamento. “O referido Projeto de Lei, se aprovado, poderá causar uma pressão por mais desmatamento na região. Estudos de pesquisadores da Amazônia demonstram que os efeitos das plantações de cana-de-açúcar sobre a biodiversidade se estendem das áreas cultivadas até as florestas adjacentes”, pontua o museu na nota.

O museu questiona também a principal alegação de Ribeiro de que a cana não vai derrubar uma árvore sequer porque o projeto prevê o plantio somente em áreas degradadas da Amazônia. 

“É conhecido que a cana-de-açúcar é um cultivo com alta demanda de água. A maioria das áreas degradadas está próxima às bordas do bioma, onde a degradação já tem comprometido o fluxo de água. Esta é a principal razão pela qual as áreas degradadas da Amazônia necessitam ser restauradas: para prover serviços ecossistêmicos necessários ao aumento da capacidade produtiva e de melhoria da qualidade de vida das populações”, alerta na nota.

Ambientalistas também lançaram a petição “Amazônia sem cana” para angariar assinaturas contrárias ao projeto. 

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