PUBLICIDADE

Mobilidade e ocupação urbana tomam palcos da Virada Sustentável

Especialistas debateram incentivo a transportes coletivos e meios de aumentar presença nos espaços públicos

Por Juliana Tiraboschi
Atualização:
O uso da bicicletaestá presente em apenas, aproximadamente, de1 a 2% da população de São Paulo, segundo o especialista Daniel Guth 

Os debates no Unibes Cultural, um dos centros da edição paulistana da Virada Sustentável, reuniram nesta quinta-feira gente interessada em discutir como as cidades podem ser mais amigáveis para a população e como a mobilidade urbana pode ser melhor desenvolvida. As conversas entre especialistas e representantes do setor fizeram parte da programação “ContAí”, formada por rodas de conversa com especialistas e ativistas de diferentes áreas.

PUBLICIDADE

Para Daniel Guth, coordenador de implantação das ciclofaixas de lazer em São Paulo, a capital paulista tem avançado aos poucos no incentivo ao uso de bicicleta por conta da pressão da sociedade civil. Hoje o uso desse meio de transporte está presente em apenas, aproximadamente, de 1 a 2% da população da cidade. “Podemos avançar para 10% se cumprirmos uma agenda de mobilidade ativa que restrinja o uso de transporte individual motorizado”, disse.

A mestre em Design Urbano e Planejamento de Cidades pela Universidade de Londres (UCL), Leticia Sabino, também  idealizadora do coletivo SampaPé!, destacou que é preciso mais infraestrutura e planejamento não só para carros, motos e biciletas, mas para os pedestres. “O entendimento da caminhada como meio de transporte é ainda muito recente”, diz. Esse planejamento inclui não apenas melhorar a conservação de calçadas, mas pensar em modelos como ruas fechadas ou compartilhadas com carros. Esse modelo de uso simultâneo das ruas por carros e pedestres já existe em cidades como Auckland, na Nova Zelândia. Esses espaços priorizam o trânsito de pessoas caminhando e permite a circulação de carros, desde que em baixa velocidade.

Representando os transportes públicos na roda de conversa estava Pedro de Souza Rama, gerente de desenvolvimento e inovação tecnológica da SPTrans. Uma das medidas que o órgão tem tomado para aumentar a eficiência do sistema aos passageiros em São Paulo é usar faixas reversíveis para ônibus, fazendo com que eles trafeguem na “contra mão” de uma via e aumentando seu espaço de circulação. Algo que ainda irrita muitos motoristas, mas diminui o tempo de viagem para quem usa o transporte público. “Estamos tentando minimizar os transtornos do trânsito com essas medidas”, justifica Rama. 

LEIA MAIS:Confira programação da Virada SustentávelVirada Sustentável é inaugurada e pede participação da sociedade pelo meio ambienteTemperatura na capital já aumentou mas de 1Cº desde 1930, diz estudo

No debate sobre ocupação urbana, a reflexão proposta foi a falta de sentido de propriedade dos cidadãos em relação a seus espaços públicos. “Quando eu pergunto a alguém a quem pertence uma praça, geralmente a pessoa responde que é de todos ou de ninguém. Ela nunca responde que é dela”, diz Carolina Tarrio, do Movimento Boa Praça, criado para mobilizar cidadãos, empresas, governos e instituições para ocupar e revitalizar os espaços públicos. Para a ativista, é preciso haver mais ferramentas de ocupação desses lugares, como a gestão compartilhada entre moradores, comerciantes e prefeitura.

Para a arquiteta urbanista e criadora da Acupuntura Urbana, Renata Minerbo, que estimula a ocupação de espaços públicos, diz que é comum encontrar lugares “desprezados’, onde ninguém deseja ocupar. “Em São Paulo essa questão é mais complexa, por ser uma cidade grande”, diz Renata. “Às vezes a pessoa até quer ter esse espaço de encontro, mas não tem isso no seu consciente. E quando vê que o coletivo tem essa demanda, ela topa se envolver”, afirmou.

Publicidade

Para a urbanista, os chamados "condomínios-clube", com diversas opções de lazer, acabam limitando a motivação de ocupar os espaços públicos, pois os moradores acham que é mais cômodo e seguro ficar entre grades. E, muitas vezes, a consequência, segundo as especialistas, é que as ruas ficam mais vazias e mais inseguras ainda. Carolina Tarrio acredita que, quanto mais relações as pessoas tiverem em seu território, mais seguro ele será. “Os vínculos são melhores do que levar uma vida paranoica e impessoal”, disse. 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.