Lançado em 2023, o programa “Cafeicultura Brasileira Sustentável – Sistema de Compensação de Crédito de Carbono na Apólice de Seguro Rural” é uma iniciativa pioneira no Brasil que visa incentivar a adoção de práticas sustentáveis na produção de café.
Atualmente, o projeto está em sua primeira fase de experimentação na Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel), de Minas Gerais, em uma colaboração entre o Conselho Nacional do Café (CNC), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a organização suíça Pró Natura Internacional.
Por meio desse programa, os cafeicultores poderão gerar créditos de carbono ao adotarem práticas como o manejo adequado do solo e o uso eficiente da água. Esses créditos poderão ser utilizados para obter descontos em seguros rurais, reduzindo os custos de produção e fortalecendo a economia do setor.
Ao Estadão, o Ministério da Agricultura e Pecuária afirma que o objetivo é que, com o sucesso da fase piloto, os 330 mil cafeicultores brasileiros possam aderir ao programa, contribuindo para a sustentabilidade da cafeicultura, a geração de novas fontes de renda por meio da comercialização de créditos de carbono e a adoção de práticas agrícolas mais resilientes a riscos climáticos, elevando a competitividade do café brasileiro no mercado internacional. “O Mapa está alinhando parcerias para oferecer suporte técnico e ferramentas financeiras que facilitem a implementação dessas práticas, com os produtores.”
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De acordo com o professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o café brasileiro enfrenta um cenário de risco devido às mudanças climáticas e a adoção de práticas sustentáveis será essencial não apenas para o meio ambiente, mas também para a sobrevivência econômica dos produtores.
Ele ressalta que o café é altamente sensível a variações climáticas e projeções indicam que regiões importantes podem se tornar inviáveis nas próximas décadas. Nesse contexto, a geração de créditos de carbono é uma estratégia vital não só para reduzir o impacto ambiental, mas também para aumentar a resiliência do sistema produtivo.
“É uma forma de assegurar que o café brasileiro continue competitivo em um mercado global que valoriza a sustentabilidade”, afirma o agrônomo.
Etapas e avanços na implementação
Desde a concepção em 2023, a iniciativa tem avançado em etapas importantes. Em abril de 2024, foi oficialmente lançada no Ministério da Agricultura e Pecuária e, em julho, foi assinado o acordo entre a pasta, o Conselho Nacional do Café (CNC) e a organização suíça Pró Natura Internacional. Atualmente, está na fase de pré-análise, avaliando a viabilidade técnica e econômica do programa piloto, que será implementado a partir de fevereiro de 2025.
Luiza Kreimeier, assessora técnica do CNC, explica que a expectativa é de que esta iniciativa dure 10 anos e se consolide como um modelo sustentável para a agricultura brasileira, agregando valor ao café nacional e garantindo maior segurança financeira para os produtores. “Ainda estamos alinhando como a compensação dos créditos será operacionalizada, especialmente no mercado voluntário de carbono, que está em estágio inicial no Brasil”, detalha Kreimeier.
Além dos benefícios ambientais, a iniciativa busca reduzir os custos com seguros rurais, uma barreira significativa para pequenos produtores. Hoje, 80% dos cafeicultores brasileiros possuem pequenas propriedades e, para muitos, o seguro é um gasto inviável.
Apoio integral aos produtores
Os produtores que aderirem a esta iniciativa na Cocatrel receberão suporte integral, incluindo o fornecimento de mudas e acompanhamento durante toda a implementação. Na primeira fase, a expectativa é de alcançar uma área de 60 mil hectares nos 125 municípios atendidos pela cooperativa.
“Esse apoio é um benefício real, pois eles estarão investindo na própria propriedade e garantindo a segurança da produção de café. Além disso, esse arranjo garante uma estabilidade no preço do café, inclusive agregando valor ao produto”, explica Kreimeier.
Com previsão de implantação em 2025 e início das compensações em 2026, após a fase piloto, o objetivo é expandir a iniciativa para outras cooperativas e culturas. Também gera milhões de empregos, sendo vital para a economia de muitas regiões do País.
“O custo de implantar essas técnicas é alto e, se o produtor agir sozinho, não é interessante, devido ao investimento significativo necessário”, explica Luiza Kreimeier”
Isso acaba influenciando diretamente também a população urbana, o que justifica a visão da entidade de responsabilidade compartilhada. “É essencial que diversas entidades e os produtores trabalhem juntos para tornar isso possível”, destaca a especialista sobre a importância da colaboração para a sustentabilidade na cafeicultura.