Quais países mais destroem florestas no mundo? Quanto do desmatamento está no Brasil?

Esse tipo de vegetação é o que mais armazena carbono e o mais rico em biodiversidade; ao mesmo tempo, é o mais ameaçado

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Por Emilio Sant'Anna

A perda de florestas primárias, no Brasil, cresceu 15% em 2022 – a maior parte, na Amazônia. Embora tenha cerca de 30% das florestas do mundo, o País responde por 43% do desmatamento global desse tipo de vegetação, o maior entre todas as nações, de acordo com o Global Forest Watch (GFW). República Democrática do Congo, Bolívia, Indonésia e Peru completam a lista dos cinco maiores desmatadores do planeta.

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Florestas primárias são aquelas que nunca sofreram desmatamento. São também as que mais armazenam carbono, as mais ricas em biodiversidade e, ao mesmo tempo, as mais ameaçadas. Nelas se concentram mais de 96% do desmatamento causado pelo homem.

No Brasil, a perda supera 1 milhão de hectares por ano desde 2016. Em 2021, o País havia perdido 1,5 milhão de hectares de florestas primárias em todo o território nacional. No ano passado, 1,7 milhão de hectares- a maior taxa não relacionada a incêndios desde 2005.

Polícia Federal concluiu na última semana ação de combate ao desmatamento em parque indígena do Xingu Foto: Polícia Federal

“A gente percebe que o Brasil teve relativo sucesso no começo dos anos 2000, mas a partir de 2016 começa a ter taxas de desmatamento aceleradas”, diz Jefferson Ferreira-Ferreira, Coordenador de Ciência de Dados de Florestas do WRI Brasil.

O GFW é uma plataforma global de monitoramento. Ela utiliza dados fornecidos pela Universidade de Maryland, com resolução de 30 metros, para acompanhar o avanço do desflorestamento.

Em segundo lugar na lista dos maiores devastadores, a República Democrática do Congo ultrapassou a marca de 500 mil hectares perdidos pela primeira vez. Em 2021, foram 512.672 hectares desmatados de florestas primárias. Percentualmente, no entanto, o aumento de 2,5% no país africano é bem menor do que no Brasil.

Já na Bolívia, com um território de 109,9 milhões de hectares, 385 mil hectares foram desmatados, crescimento de 32% e o maior índice desde o início do monitoramento, em 2004. O país é um dos poucos que não assinou a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, assinada por mais de 140 nações, incluindo o Brasil, na COP26, em 2021.

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Pelo terceiro ano consecutivo, a Bolívia ficou em terceiro lugar em área de perda de floresta primária, atrás apenas do Brasil e da República Democrática do Congo e superando a Indonésia, apesar de ter menos da metade da quantidade de florestas primárias.

O país do sudeste asiático, por sua vez, apesar de figurar entre os maiores desmatadores de 2022, conseguiu manter estabilidade. De acordo com o estudo, a Indonésia reduziu a perda de florestas primárias mais do que qualquer outro país nos últimos anos e há uma tendência contínua de queda na taxa média móvel do país.

Outro exemplo positivo é a Malásia, onde a perda de florestas primárias permaneceu baixa em 2022 e se estabilizou nos últimos anos. O levantamento aponta que as ações corporativas e governamentais parecem estar contribuindo para a estabilidade. Em ambos os países, a produção de óleo de palma é historicamente a responsável pelo avanço do desmatamento.

“Essa é uma lição que devemos aprender com nosso próprio passado e com esses países”, afirma o Coordenador de Ciência de Dados de Florestas do WRI Brasil.

“Por volta de 2014 e nos anos anteriores o País respondia por 25% do desmatamento (do total desmatado entre todos os países) e agora representamos 43%. Isso mostra que não estamos tendo sucesso nas políticas de uso racional da terra, ao contrário de países como a Indonésia e a Malásia que com seus governos, juntos com o setor privados, estão conseguindo baixar o desmatamento sem ter perdas de produtividade”, completa.

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‘Questão de honra’

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva associou produtores de grãos, como soja e milho, e de gado ao desmatamento de matas nativas do Brasil, em discurso na França. A líderes internacionais, Lula afirmou que sua meta de zerar a derrubada de árvores até 2030 virou uma “questão de honra”.

“A questão climática não é uma coisa secundária, por isso o Brasil vai levar a cabo o controle do desmatamento. Por isso vamos colocar como questão de honra e até 2030 a gente acabar com o desmatamento na Amazônia. O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas, não precisa cortar uma árvore para plantar um pé de soja, de milho ou criar gado. É só recuperar as terras degradadas”, disse o presidente, ao discursar na cúpula do Novo Pacto Financeiro Global.

Lula durante discurso no Global Citizen, em Paris; presidente fez críticas ao agronegócio brasileiro ao falar do desmatamento na Amazônia  Foto: Mohammed Badra/EFE

Lula disse que, especificamente na Amazônia, além de produtores rurais, a floresta é degradada por atividades criminosas e pelo garimpo. “Nessa região nós enfrentamos muitas adversidades, o garimpo, o crime organizado e muitas vezes pessoas de má-fé que querem tentar que nessa floresta se plante soja, se plante milho e se crie gado, quando na verdade não é necessário fazer isso. Os empresários responsáveis sabem que é errado e que vai causar um problema muito sério aos produtos que eles têm que vender aos outros países”, disse o petista, em recado ao agronegócio nacional.

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Além dos impactos de carbono, a perda de florestas na Amazônia afeta as chuvas regionais e pode, em última instância, levar a um “ponto de não retorno” em que a maior parte do ecossistema se tornará uma savana. Nesse bioma, a perda de floresta primária acelerou na Amazônia Ocidental. No caso do Amazonas, lar de mais da metade das florestas intactas do Brasil, a taxa quase dobrou em apenas três anos. O Acre também apresentou alguns dos níveis mais altos dessa perda já registrados. As perdas de florestas primárias nessa parte da Amazônia brasileira são principalmente causadas por desmatamentos em grande escala (provavelmente para pastagens de gado) juntamente com as rodovias existentes.

Queda na Amazônia e aumento no Cerrado

A área sob alertas de desmatamento caiu 31% na Amazônia e aumentou 35% no Cerrado de janeiro a maio em relação ao mesmo período de 2022, segundo dados do Deter, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no início deste mês.

Na ocasião, o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas informou que entre as medidas aplicadas desde janeiro para controle do desmatamento no bioma, houve alta de 179% dos autos de infração, de 128% dos embargos, de 107% das apreensões e de 203% das destruições de equipamentos usados em crimes ambientais. O aumento da fiscalização ocorreu de janeiro a maio na comparação com a média para o mesmo período nos últimos quatro anos, disse a pasta.

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