A ativista e ganhadora do prêmio Nobel da Paz, Nadia Murad, esteve em São Paulo ontem (20/06) para uma conferência no evento Fronteiras do Pensamento onde contou sua história na luta contra a violência sexual como arma de guerra.
Eu conheci a história da Nadia por acaso uns anos atrás, quando eu viajava sozinha pela Alemanha e fui comprar um livro na estação de trem para ler durante a viagem. Seu livro autobiográfico, 'Que eu seja a última', mudou a minha forma de encarar o mundo e fazer o meu trabalho. Foi ele que me inspirou a começar o projeto "o mundo para mulheres" no qual eu viajo para diversos lugares do mundo para entender qual é o papel da mulher na sociedade onde vive. A história da Nadia havia me acendido um alerta de que eu não sabia nada sobre a vida de outras mulheres por aí.
Em 2014, quando ela tinha 21 anos, a região onde morava no Iraque chamada de Sinjar foi invadida pelo Estado Islâmico. Muitas pessoas foram mortas (incluindo toda a sua família) e ela foi feita de escrava sexual, assim como tantas outras meninas e mulheres. Mas Nadia conseguiu escapar de seu cativeiro em um dado momento e se refugiou na Alemanha.
É impossível imaginar como uma pessoa que passa por tantas atrocidades consegue ter forças para continuar falando sobre o assunto. Fiz essa pergunta à Nadia. Por que decidiu contar a sua história quando a maioria no seu lugar buscaria esquecer? "A gente sabe que não é só a minha história. A violência sexual é usada em conflitos o tempo todo. E nós precisamos compartilhar nossas histórias para prevenir que isso aconteça (com outras mulheres)" respondeu ela calmamente.
Hoje, o trabalho de Nadia como ativista é focado em encontrar líderes globais para conscientizar sobre o genocídio cometido contra o povo Yazidi e o uso sistêmico de violência sexual como arma de guerra. Ela também é fundadora da Nadia's Initiative que trabalha pela reconstrução de sua região e pelo apoio a sobreviventes de violência sexual.
Quem mora em Porto Alegre ainda tem a oportunidade de assistir a conferência de Nadia Murad amanhã (21/06) presencialmente. Todas as informações estão no site do evento. Vale a pena.
A temporada de 2023 do Fronteiras do Pensamento ainda conta com mais quatro palestras de pensadores da atualidade: Rafael Yuste, Michael Sandel, Douglas Rushkoff e David Wengrow.
-Informações e ingressos: https://fronteiras.com/
-Local: São Paulo (B32), Porto Alegre (Teatro Unisinos) e transmissão online.
Amanda Noventa escreve sobre o papel da mulher em diversos lugares do mundo. Acompanhe pelo instagram @amandanoventa