PUBLICIDADE

Fabuloso destino de pelúcias

Foi um roubo sem explicação. Monsieur Raphaël Poulain ficou sem entender quando o anão do seu jardim sumiu sem deixar vestígios. Para sua surpresa, o pai de Amélie começou a receber envelopes com fotos em que ele, o anão, aparecia em diferentes pontos turísticos ao redor do mundo.  A história, contada em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002), pode não ter sido a inspiração de Sabine Passelegue, personagem principal desta matéria que você lê agora, mas, para quem assistiu ao longa, será quase impossível não ver semelhanças. Sabine é dona da Peluche Travel, uma agência de viagens que leva bichinhos de pelúcia a passeios pela França.  Sim, você leu certo. Mais do que apenas anões de jardim, os “clientes” da Peluche Travel são elefantinhos, ursos, golfinhos, unicórnios. Todos brinquedos. “Eu queria dividir como a França é linda! Há tantas cidades, cenários… mesmo os franceses não têm tempo para visitar todos esses lugares”, contou a empresária em entrevista ao Viagem. E não era essa a intenção da personagem de Audrey Tautou? Sabine teve a ideia de criar a agência em 2014, depois de enviar Zabeille, a sua abelha de pelúcia e “tour operator” da Peluche Travel, para Tóquio, no Japão, pela Unagi Travel, uma empresa de turismo também especializada em passeios para brinquedos. “Descobri a agência japonesa no rádio e foi maravilhoso mandar a Zabeille para Tóquio. Espero poder conhecer o Japão um dia”, comenta.  Desde então, já recebeu pela sua agência bichinhos de pelúcia franceses, norte-americanos, japoneses, alemães, cingapurianos e mexicanos. Nenhum brasileiro desembarcou por lá, mas Sabine não descarta essa possibilidade.  Engenheira de software, o trabalho pela agência não visa retorno financeiro. “Não ganho dinheiro, só gosto de fazer isso, mesmo que me tome tempo”. A recompensa, garante ela, é o contato com o público. “Gosto de falar com pessoas de todos os lugares e dividir com eles o que eu sinto. Aprendo muito sobre os países dos viajantes.” Experiências. Entre as experiências que mais marcaram a história da Peluche Travel, Roger Large, 74, e sua esposa Anne-Marie Large, 68, se destacam. “Vivem na região, então consigo devolver os brinquedos pessoalmente. E é maravilhoso poder ver os seus rostos felizes e ver como ficam contentes em descobrir novos lugares. Eles ficam genuinamente alegres pelos seus amigos, em ver que eles fizeram muitas coisas”, conta Sabine. O aposentado conheceu a agência há dois anos e resolveu testar seus serviços. Clientes para a Peluche não faltavam, já que há mais de 20 anos Roger resgata bichinhos abandonados para a sua coleção pessoal. Gosta de chamá-los de “pensionnaires”, inquilinos, em tradução livre. “É, para mim, que sou um pouco velho para viajar, uma maneira magnífica de passear a um valor módico. Sabine nos apresenta lugares maravilhosos”.  Entre as melhores lembranças, Roger destaca “o charme e os monumentos prestigiosos de Paris e as paisagens magníficas da Islândia”. “Tive a impressão real de que estava descobrindo os lugares, como se eu estivesse ao lado das minhas pelúcias”, contou. Quando os brinquedos voltam de viagem, trazem junto um sentimento ambíguo: “Tenho um pouco de ciúmes, mas também orgulho. Deixo-os longe dos outros brinquedos por alguns dias para evitar que sintam inveja”.  Para outra cliente, Molly Manson, 46, de Mission Viejo, Califórnia, viajar pela Peluche Travel foi terapêutico. “Eu e meu marido tivemos problemas para engravidar e, durante esse período, ele costumava me trazer bichinhos de pelúcia na esperança de que, um dia, nossos filhos brincassem com eles. Então, quando descobrimos a agência, nos pareceu algo divertido para se tentar”. Hoje, com dois bebês a tiracolo, os planos de viagem se ampliaram. “Quero que os bichos de pelúcia dos meus filhos viajem. É uma experiência educativa e uma maneira única de ver outra cultura”.  OPÇÕES DE PACOTES E ATÉ UM PASSAPORTE São quatro opções de passeios vendidos no site da Peluche Travel (peluche-travel.com). No 2CV Tour in Beaujolais (55 euros ou R$ 220 por brinquedo), as pelúcias viajam a bordo de um Citroën 2CV, um modelo antigo de carro francês, e visitam os vinhedos de Beaujolais e as vilas da região de Pierres Dorees, ao norte de Lyon. 

PUBLICIDADE

No tour gastronômico de Lyon (40 euros ou R$ 160; próxima saída em 18 de fevereiro) há visitas a pequenos restaurantes locais, os famosos bouchons, e aos principais pontos turísticos da cidade, como a Tour Métallique de Fourvière, versão local da Torre Eiffel, como gostam de chamar na cidade. Por 55 euros (R$ 220), visita-se monumentos e atrações da capital no Paris Tour. Por último, no Drôme Provençale Tour (50 euros ou R$ 200), as pelúcias visitam o norte de Provence e passam pelos campos de lavanda e pelo castelo de Grignan. Os valores não incluem o envio da pelúcia até Paris. Também há passeios fora do catálogo durante as férias da família de Sabine. 

PUBLICIDADE

Escolhido o tour, Sabine envia um e-mail com o endereço em Paris onde o brinquedo será recepcionado por Zabeille (a abelha, lembra?). Durante a viagem, você acompanha seu bichinho pelas redes sociais. Ao fim, eles são enviados para casa com um pen drive de fotos e um presente surpresa. A agência costuma incluir visitas e atividades que não foram reservadas. “A foto de uma pelúcia na banheira recebeu muitas curtidas!”, conta Sabine. 

Documentos. Para manter o clima, há também a possibilidade de “tirar o passaporte” do bicho de pelúcia. O serviço é oferecido por outra empresa, a alemã Omanimali, que não atende encomendas do Brasil – o documento precisa ser pedido dentro da Europa. A taxa pela impressão e entrega é de ¤ 26,90 (R$ 106,25). Fica pronto em até dois dias úteis, mais três a cinco para entrega: omanimali.net. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.