A história tem tanto de forte quanto de terrível: Há mais de um ano que a cidade de Madaya está sob cerco, o que significa que ninguém entra ou sai. Em Madaya, apenas se morre: de fome, de frio ou pelas armas de fogo. As minas continuam a estropiar pessoas, o exército continua a matar sem razão aparente. Madaya já não tem vida: os terrenos agrícolas estão mortos, não há energia elétrica, o combustível encareceu tanto que as pessoas estão queimando mobiliário para se aquecer e a família da Mãe de Madaya está dormindo na mesma cama para sobreviver às baixas temperaturas. Isso: sete pessoas, incluindo um bebê que já nasceu durante a guerra, estão dormindo na mesma cama.
As crianças estão constantemente doentes porque não aguentam a fome e o frio, e essa frase resume bem o horror por que está passando a família: "Eu tinha medo de que os meus filhos morressem, mas nesse momento começo a acreditar que a morte é mais misericordiosa que a situação pela qual estão passando".
A Marvel apresentou o primeiro capítulo da história em quadrinhos "A Mãe de Madaya", que será apresentada somente em versão digital, e que foi possível através dos relatos dessa mãe - cuja identidade não é revelada por questões de segurança - feitos por telefone ou mensagem escrita. As ilustrações são do croata Dalibor Talajic, e o relato começa em Janeiro de 2016, em pleno Inverno, e é um murro no estômago de quem vive todos os dias a graça de ter comida na mesa e uma casa que não será destruída porque alguém acredita que é dono da vida dos outros.
A mãe de Madaya passa muitos dias somente bebendo chá que faz com ervas do jardim, para guardar os alimentos sólidos para os filhos. A mãe de Madaya tenta curar problemas de pele com compressas de água porque na cidade também já não há farmácias ou remédios. A mãe de Madaya tenta não morrer, todos os dias, para não deixar morrer também os filhos que dela dependem.
Essa seria apenas uma história trágica, não fora ser uma história real que dura há demasiado tempo. Enquanto as gentes de Madaya esperam que os países se entendam e consigam dar um fim a essa guerra na Síria, a Marvel usa o que tem para fazer o que agora é realmente preciso: deixar que ninguém esqueça o sofrimento do povo Sírio. E exaltar os reais heróis do nosso século.
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