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Das sete colinas lisboetas direto para São Paulo

Opinião|Portugal em tumulto: adeus António Costa, olá eleições. Aqui estamos, crise

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Atualização:

Depois de um verão em que continuou arrecadando prémios e distinções como um dos melhores países da Europa para turistar, para viver e trabalhar remotamente; com muitos hotéis sendo considerados dos melhores da Europa e muitos restaurantes continuando a valer várias estrelas Michelin, Portugal está desde essa terça-feira, 7 de novembro, em tumulto por conta da demissão de António Costa. O primeiro-ministro de centro-esquerda que, desde janeiro de 2022, estava governando o país com a ajuda de uma maioria absoluta que conseguiu nas últimas eleições, não sobreviveu à chamada 'Operação Influencer' que, há dois dias, fez buscas em vários ministérios portugueses, prendeu preventivamente o seu chefe de gabinete - e outros cinco responsáveis acusados da prática de crimes de corrupção, abuso de poder e afins.

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Ontem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve reunido com o Conselho de Estado, um órgão consultivo que o ajuda a tomar decisões sobre os destinos do país, para decidir se convoca novas eleições legislativas - o que só deveria acontecer daqui a dois anos - ou se poderia haver uma outra solução governativa, uma vez que em Portugal a eleição é do partido político e não da pessoa que o lidera na ocasião. Isso significa que, teoricamente, o Partido Socialista (PS) poderia se manter no poder com um outro responsável, se fosse essa a vontade do Presidente da República, o único que tem poder para dissolver a Assembleia da República (o órgão constituído pelos deputados eleitos pelo povo). Mas não foi.

Portugal vai a eleições legislativas no dia 10 de março de 2024, cerca de um mês antes da celebração do cinquentenário do 25 de Abril, a data que marca a chegada da democracia ao País. A decisão não foi consensual entre os conselheiros do Presidente, mas foi a sua vontade que prevaleceu: Marcelo quer devolver ao povo o poder de escolher os seus governantes.

Portugal tem estado, nos últimos meses, a viver uma crise económica significativa - apesar do excedente orçamental das contas públicas, as famílias estão vivendo muito pior; uma crise social profunda - o aumento da imigração alterou bastante o tecido social e o território ainda está tentando lidar com a situação; uma crise nos serviços públicos - greves consecutivas de professores e profissionais de saúde... - e uma crise habitacional grave com muitas pessoas perdendo as casas por conta dos aumentos das taxas de juro e do preço do aluguel. Aliás, essa foi a razão pela qual o Governo decidiu acabar com os benefícios fiscais para residentes não habituais e os vistos Gold, que contribuíram para o aumento descontrolado dos preços dos imóveis em muitas regiões do país.

Continuamos ainda a tentar resolver os problemas de um aeroporto de Lisboa completamente lotado e de onde tem sido impossível sair ou chegar no horário, de uma companhia aérea nacional (TAP) que já deveria ter sido vendida, além de que agora juntamos graves problemas judiciários a governantes.

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Há dez anos, Portugal era a "Califórnia da Europa", onde todo o empreendedor queria estar, porque o ecossistema era vibrante, o tempo quente, a segurança e a vida barata eram atrativos. Hoje, depois de ter passado como 'bom aluno' pela pandemia e pelo início da Guerra na Ucrânia (recebendo muitos refugiados e trabalhando incansavelmente no apoio humanitário), Portugal parece apenas um país em vias de desenvolvimento, perdido no seu rumo e, agora, sem governantes à vista. A verdade é que nenhum partido da oposição estava preparado para ir a eleições tão cedo, e tem sido visível o desnorte sobre quem poderá ser o sucessor de António Costa à frente do país - além de que o crescimento da extrema-direita em Portugal se torna ainda mais provável no atual cenário.

Não era esse o presente de Natal com que os portugueses estavam contando por parte da sua classe política...mas enfim, talvez seja uma oportunidade para repensar a Democracia quando celebramos os seus 50 anos.

Opinião por Margarida Vaqueiro Lopes
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