Quando ele recolheu as respostas, oito dias depois (na segunda-feira), milagre! A maioria das opiniões reproduzia o que o próprio Francisco havia esboçado, com frases de veludo, por exemplo, no avião que o trazia do Rio, em julho de 2013, ou ainda, quando pronunciou a respeito dos homossexuais esta sentença extraordinária e de uma forma evangélica: "Quem sou eu para julgar?"
Assim, entre uma doutrina que se limitaria a "reproduzir" e uma "reforma" que quer levar em conta as metamorfoses da sociedade e quase até da natureza humana, o sínodo seguiu a trilha aberta pacientemente por Francisco: não se pode continuar a aplicar regras construídas por sociedades que não existem mais.
Daí estas conclusões insólitas: a comunhão para certos divorciados poderá ser aceita em breve e "as pessoas homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã". Seguiram-se frases inesperadas: embora esteja fora de questão aceitar os casamentos homossexuais, evoca-se o reconhecimento de uniões entre gays. E ainda: a Igreja "deve prestar uma atenção especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo".
O contraste entre este sínodo e as posições firmes dos dois anteriores é chocante. Sobre a família, o papa João Paulo II se apoiou em certezas milenares. João Paulo, aliás, mal foi mencionado no sínodo, ao passo que João XXIII, o papa do Concílio Vaticano II, esteve muito presente.
Bento XVI, o antecessor de Francisco, também esteve apagado. É bem verdade que ele era um adepto do imobilismo. Seu inimigo era o tempo, mais precisamente o "relativismo teológico", isto é, as acomodações doutrinárias em função das erosões da história.
Bento XVI se opunha à "descentralização das decisões doutrinárias de Roma em benefício das dioceses". Ora, ao dar voz e poder ao sínodo, Francisco coloca em prática, com fineza, talento e virtuosidade, esta "descentralização doutrinária" tão temida por Bento XVI, descentralização graças à qual Francisco parece na medida para fazer as coisas andarem.
Como Roma continua sendo a capital mundial do "sigilo" (bem mais do que o Kremlin ou mesmo que Pequim), vemos apenas o resultado, em aparência simples, pacato e ecumênico, do "método Francisco".
Ninguém duvida, contudo, que antes de confiar poder ao sínodo, era preciso, se não "desativar" a Cúria, ao menos retirar alguns dentes dessas "mandíbulas carnívoras", tarefa hercúlea que Francisco realizou. Não esqueçamos que a pedra do Tártaro que Sísifo deve rolar até o cume da montanha sempre torna a descer.
Surpreende, porém, que algumas demandas das igrejas e dos fiéis tenham sido ignoradas por este sínodo. Assim, o texto lido pelo cardeal de Budapeste, Peter Erdo, não faz nenhuma alusão furtiva à "contracepção". Por que este impasse? O motivo talvez tenha a ver com a beatificação, no próximo domingo, do papa Paulo VI, que na encíclica Humanae Vitae, havia recusado em 1968 o uso da pílula. Diplomacia, que beleza!
É evidente que este sínodo não descerá como um copo de água fresca. Há gargantas sensíveis. Em alguns momentos, os debates foram ríspidos. Vários bispos africanos se revoltaram e se disseram irritados por certas pressões internacionais para que seus países abrandassem suas leis contra o homossexualismo. Mas o texto divulgado ontem não é definitivo. Conclusões oficiais serão tiradas, pelo próprio papa, dentro de um ano exatamente. Até lá, será possível discutir, burilar, aplainar, acrescentar...
Na França, a curiosidade era ler os comentários em Le Figaro, o grande jornal da burguesia, que havia assumido a frente da contestação contra as leis "socialistas" sobre a família (casamento de homossexuais, etc.). Por enquanto, Le Figaro se contentou em divulgar as informações sem criticar nem aprovar o sínodo. As altas esferas do Figaro certamente estão quebrando as cabeças. Será preciso aguardar os próximos editoriais para saber qual linha será adotada.
Tradução de Celso Paciornik